Oito meses de pandemia: o que toda empresa deve fazer hoje para estar conectada com seu colaborador?

Completamos em novembro oito meses de pandemia gerada pelo novo coronavírus (Covid-19), realidade que mudou completamente a forma de as empresas se comunicarem com seus colaboradores. No entanto, mesmo passado todo esse tempo, muitos gerentes e gestores ainda não entenderam a importância de se ter uma comunicação mais conectada com seus funcionários.

Metas desproporcionais, cobranças fora do horário convencional, obrigatoriedade de responder e-mails e mensagens de grupos de Whatsapp a todo momento, inclusive durante a noite ou fins de semana; reuniões e conferências a toda hora, exigência de “ponto eletrônico” comprovando horário de entrada e saída, relatórios e mais relatórios de desempenho, enfim, uma série de cobranças que foram criadas para que os colaboradores que foram destinados ao sistema home office estivessem 100% concentrados nas atividades profissionais ao longo do dia.

No entanto, conforme relatam psicólogos, especialistas em gestão e profissionais de RH, nem sempre isso é possível, pois realizar atividades profissionais em um ambiente doméstico, por mais adaptado que este esteja, é complicado pois não dá para relativizar a “climatização” do home em office e vice-versa.

Cabe, então, à comunicação a missão de conectar as pontas no momento em que todos estão mais longe.

De acordo com o fundador da consultoria de comunicação corporativa “Conexão: Gestão, Marketing e Comunicação”, Juliano Capato, isso acontece porque o princípio básico da relação entre pessoas, via comunicação, é a confiança por parte da empresa de que quem está em home office não está de férias ou de folga.

“Quem entendeu que as pessoas sabem o que fazer e como fazer não tem a preocupação de ficar monitorando minuto a minuto. Conheço uma empresa que, há muitos anos, tinha uma pessoa passando ao lado dos funcionários olhando na mesa de cada um para conferir se a pessoa estava trabalhando. Hoje – acredito eu – que isso não ocorra mais, no entanto, ainda há gestores que têm essa mentalidade de ficar ligando, fazendo ZOOMs e pedindo relatórios para saber o que a pessoa está fazendo. Isso não é confiar no funcionário, não é fazer gestão de processos e tampouco de pessoas”, afirmou Juliano.

Menos tempo perdido no trânsito não ajuda?

Otimizar o horário de trabalho evitando trânsito e/ou o desgaste causado pelo transporte coletivo é excelente, mas isso – em muitos casos – está se tornando uma tortura, “pois muitas empresas marcam reuniões, por exemplo, às 6:30 da manhã ou às 20:00 com o discurso de ‘energizar o time’, ‘não atrapalhar as missões do dia’ ou ‘multiplicar por 10 a produtividade’. Vamos lembrar que o funcionário foi contratado para uma jornada de trabalho. Se você, gestor, fica pedindo coisas fora de hora, enchendo o e-mail das pessoas com perguntas e cobranças sem medida ou até mesmo mandando comunicados, informações empresariais, e-mails marketing ou coisas do tipo para serem lidos ou respondidos fora de hora, cuidado... Não é porque a pessoa está em casa que ela tem disponibilidade fora do horário tradi cional d o expediente. Temos que imaginar que a pessoa só está em outro lugar fisicamente, mas a jornada continua a mesma”, complementa Juliano.

Outro ponto importante, relata o fundador, é que algumas pessoas se adaptaram muito mais rápido do que outras à nova rotina do home office, mas ainda tem gente com muita dificuldade. “Crianças em casa, aulas online, cursos, falta de estrutura física ou mesmo de conexão com a internet, família com outras prioridades, necessidade de saídas esporádicas ao longo do dia para buscar comida, cuidar de parentes doentes, enfim, uma série de outras atribuições paralelas que fazem com que seja praticamente impossível se concentrar 100% no trabalho, por isso é que a comunicação verdadeira, assertiva e conectada é importante em todos os momentos”, afirma Juliano.

Como a comunicação pode ajudar?

A comunicação interna, a mensagem da empresa para seus funcionários, o acesso e disponibilidade de canais simples e efetivos de distribuição dessa mensagem e também a verdade do que se está transmitindo são pontos focais, de acordo com o fundador da Conexão, para ajudar os funcionários a “segurar a barra”.

“A maioria das pessoas está há oito meses num relacionamento profissional à distância, se comunicando somente pelas telas. Entender o momento que as pessoas estão passando, quais são suas dificuldades, necessidades e pontos positivos são focos necessários do time de comando para conseguir potencializar sua comunicação corporativa interna”, comenta Juliano, reforçando que, em situações de distância, é a comunicação que aproxima.

Confira, agora, cinco dicas de quem realmente entende de comunicação para deixar esse momento, ainda conturbado, mais adequado para aproximar empresas e colaboradores:

1 – Orientações gerais sobre saúde: dicas de saúde física e mental são muito importantes e garantia de boa leitura. Além disso, ajudam funcionários e familiares na busca por um maior equilíbrio;

2 – Informações sobre a saúde financeira e novidades da empresa: isso é essencial para que todos, ainda mais em um momento de incertezas, saibam que o lugar em que trabalham está sendo bem administrado, está vendendo e performando bem – ou não. “Isso gera conexão, gera empatia para que todos sejam corresponsáveis pelo que está acontecendo. Temos que lembrar que uma empresa é a soma do trabalho de seus colaboradores”, completa Juliano.

3 – Dicas de Recursos Humanos: a área de RH nunca teve tanta responsabilidade na condução de um trabalho como agora. E não somente na garantia dos benefícios básicos, mas na orientação, entendimento e suporte, quando necessário, para vários momentos profissionais, psicológicos ou familiares;

4 – Capacitar gerentes e gestores para um tratamento mais humanizado: infelizmente, mesmo passados quase oito meses do início da pandemia, existem pessoas na posição de liderança que não entendem a forma certa de se relacionar com as pessoas, interpretando-os como números ou como “caminhos para atingimento das metas”. A gestão de pessoas precisa, em primeiro lugar, focar nas pessoas, no momento de cada uma, nas necessidades. A hora de sermos mais humanos, em alguns lugares, parece que não foi bem entendida, pois reportagens publicadas nas últimas semanas mostram que – mesmo em sistema de home office – o índice de reclamações contra gestores aumentou muito. “E isso não tem a ver com cultura empresarial ou com processos. Tem a ver co m pessoa s colocadas em cargo de liderança sem condições de gerir pessoas”, complementa Juliano.

5 – Sinalização off-line sobre os cuidados necessários: sinalizar corretamente o que sua empresa está fazendo é essencial para que as pessoas que continuam em casa, que estão em processo de retomada aos escritórios ou que, desde o começo, permaneceram trabalhando presencialmente, como em supermercados, padarias, farmácias ou transporte público, tenham total segurança de que sua saúde é importante.

“Alinhando sua comunicação corporativa interna com esses cinco direcionamentos já será possível integrar sua mensagem às necessidades dos colaboradores. É sempre bom lembrar que a missão da comunicação é ser entendida por quem recebe”, finaliza Juliano Capato, da Conexão: Gestão, Marketing e Comunicação.