SescTV lança Paulo Freire, Um Homem do Mundo, série que relembra a trajetória do educador e pensador brasileiro reverenciado mundialmente
Em cinco episódios, a produção inédita explora a dimensão humana da figura do educador Paulo Freire, responsável por levar a alfabetização aos lugares mais remotos do país
No dia 17 de março, terça, às 19h, o SescTV lança a série documental Paulo Freire, Um Homem do Mundo. Dirigida por Cristiano Burlan, a obra audiovisual é composta por cinco episódios, que rememoram a vida e obra do pedagogo e intelectual brasileiro Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), reconhecido por sua influência no movimento chamado Pedagogia Crítica – escola que visa o desenvolvimento da educação por meio da consciência do indivíduo perante sua realidade. O evento de lançamento acontece no Sesc Pinheiros, no dia 17/3, às 18h30, durante o III Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura: Por Uma Educação Pública Transformadora, que será realizado entre os dias 17 e 19/3. Após o lançamento, a série documental estará disponível na íntegra a partir de 17 de março, para ser assistida on demand no site do canal em sesctv.org.br
O lançamento será marcado pela exibição do episódio O Exílio, às 18h30, no Teatro Paulo Autran, que retrata a experiência de Paulo Freire durante o período em que viveu na Suíça. Em seguida acontece um bate-papo sobre a série e o legado de Paulo Freire com o cineasta Cristiano Burlan e o professor AbdelJalil Akkari, que também participa do Seminário.
Paulo Freire, um Homem do Mundo é dividida em cinco episódios: A Formação do Pensamento; As 40 Horas de Angicos; O Exílio; Do Pátio do Colégio à Pedagogia do Oprimido e O Mundo Não É, Está Sendo. Todos mesclam depoimentos de familiares, colegas de profissão e amigos íntimos do pensador. A série trata da vida e obra do educador desde Recife, passando pelas 40 horas de Angicos – experiência de alfabetização com adultos do sertão do Rio Grande do Norte –, o seu exílio em Genebra e suas ações como secretário de educação da cidade de São Paulo, investigando também a reverberação de seu pensamento nas artes. Paulo Freire, Um Homem do Mundo nos convida a mergulhar na trajetória de um dos maiores intelectuais brasileiros.
O primeiro episódio, A Formação do Pensamento, por exemplo, em grande parte é narrado pelo próprio Paulo Freire, que fala sobre sua família, seu primeiro espaço de aprendizagem. A família foi o lugar em que ele entendeu a importância do diálogo, aprendeu a viver e superar dificuldades. O educador também lembra de sua origem na cidade de Recife e a mudança para Jaboatão dos Guararapes (PE), aonde passou parte de sua infância. “Lá a experiência da fome cresceu, não tínhamos dinheiro para comprar os produtos do mercado. Mas não havia fome rigorosa porque tínhamos frutas em abundância”, diz Freire. Os primeiros passos do marido na escola são relembrados por Ana Maria Freire, educadora e viúva do pedagogo: “Paulo começou a estudar como bolsista, em 1937, no segundo ano fundamental do colégio de meu pai. ” Ana explica ainda, que no mesmo colégio Freire cursou o 2º ano do fundamental, o pré-jurídico, e a Escola de Direito do Recife e que antes de terminar os estudos, o educador tornou-se professor de Língua Portuguesa por notório saber.
As 40 Horas de Angicos revisita a cidade de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, à beira de uma antiga estrada de ferro, onde 13 mil habitantes viviam do trabalho no campo e mais de 75% dos adultos viviam e morriam na pobreza e no analfabetismo, um problema básico do estado na época. Foi esse o local escolhido para ser realizada uma experiência com a proposta de alfabetizar jovens e adultos de baixa renda em 40 horas, liderada por Paulo Freire. Antes do projeto ser vetado, o educador conseguiu concretizar seu método de ensino sem cartilhas ao alfabetizar 300 pessoas, tendo como base suas vivências fora da sala de aula e estimulando os alunos a associarem o aprendizado com o dia a dia. O episódio conta ainda com depoimentos de ex-alunos, professores e do próprio Freire.
Maria Eneide hoje é professora, mas tinha apenas seis anos de idade quando ouviu um carro de som que passava nas ruas, avisando que haveria na cidade aulas para adultos, e pediu que seu pai a levasse. “ Foi assim que aprendi a ler, no colo de meu pai e com minha mãe ao meu lado”, conta a professora emocionada.
Já Francisca de Brito, aposentada, ex-aluna de 40 horas de Angicos, lembra da experiência com alegria, porque aprender a escrever o nome foi marcante. “Antigamente uma pessoa pobre não era gente. Tinha uma festa, ninguém pobre podia entrar. Hoje em dia tudo é igual. Todo mundo, pouco ou muito sabe”, afirma. A aposentada lamenta que por causa de muitas conversas as aulas acabaram, antes de completarem as 40 horas houve investigações e os alunos foram obrigados a queimar os livros. Mas comemora: “ Hoje sei votar, conheço meus direitos e daí começou a sabedoria do povo”, conclui Francisca.
O terceiro episódio é intitulado como O Exílio. Conforme o nome sugere, o capítulo retrata a experiência de Paulo Freire durante o exílio, no período de 1970 a 1980, em Genebra, na Suíça, e o quanto essa vivência repercutiu em seu trabalho. O Exílio traz, ainda, depoimentos de Freire e de colegas com quem conviveu. A psicopedagoga Dina Borel conta que conheceu o pedagogo em um de seus seminários. Segundo ela, foi um encontro de vida, uma revelação. “ Era incrível um pedagogo em Genebra falar do povo com aquela sabedoria, não apenas sobre a teoria dos oprimidos, mas para o povo em geral, para a inteligência coletiva e para a construção do saber como ato coletivo e não individual”, observa.
Dina ainda completa que Freire quase arrancava o pensamento dos alunos e o saber nunca permanecia individual, e que por isso, ele era revolucionário: “Sobretudo através da tomada de consciência, como ele dizia, a conscientização diz respeito não apenas a experiência da miséria em que vivemos, mas também de quem eu sou, de quem é o outro e quais são as minhas reais necessidades. Era uma tomada de consciência para mudar o mundo”, explica a educadora.
O retorno de Paulo Freire ao Brasil, após 15 anos de exílio ao todo, é o que retrata o episódio Do Pátio do Colégio à Pedagogia do Oprimido. “Todo esse tempo fora do País exige de mim um processo de reaprendizagem do Brasil. ”, diz Freire com alegria, em sua chegada. A primeira parte do episódio conta com depoimentos do pedagogo sobre as expectativas de seu retorno. Na sequência, profissionais ligados a Freire e a educação como Fernando Bárcena, professor da Universidade Complutense de Madrid; Madalena Freire, sua filha; Ausonia Favorido Donato, diretora pedagógica do colégio Equipe e Moacir Gadotti, presidente de honra do Instituto Paulo Freire, comentam sobre a importância do trabalho do educador e seu legado. Luiza Erundina, deputada federal e ex-prefeita da cidade de São Paulo, conta sobre o momento em que conheceu Paulo Freire pessoalmente, no final da década de 1970.
O quinto episódio O Mundo Não É, Está Sendo, conta com depoimentos de Paulo Freire e artistas como o diretor da Cia do Tijolo - Dinho Lima Flor; e o cantor e compositor Chico César, que traçam um panorama entre a arte e a educação, tendo a palavra como ferramenta. “Freire é um educador nordestino que propôs um ensino que permite reconhecermos o saber aonde ele já existe”, diz Chico César. Segundo ele a pedagogia, o método e os pensamentos de Paulo Freire são atuais e vão permanecer para sempre. O compositor fala também sobre Beradêro, música que fez em homenagem a Paulo Freire. “Ele ficou muito feliz pela homenagem, por que de certa forma, seu destino sempre foi muito ligado às questões do não saber, sabendo”, conclui Chico César.
Sobre Cristiano Burlan:
O gaúcho Cristiano Burlan, um dos principais nomes na nova geração de documentaristas, nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Diretor e roteirista de cinema e teatro, na década de 1990 morou em Barcelona, Espanha, onde dirigiu um grupo de cinema experimental chamado Super-8. Já de volta, se fixou em São Paulo, onde esteve à frente do grupo de teatro A Fúria. É professor (e ex-aluno) da Academia Internacional de Cinema (AIC). Estreou no cinema com o filme Amador (2014), lançado durante a 13ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
Seu documentário Mataram meu Irmão (2013), foi o grande vencedor do Festival É Tudo Verdade 2013, angariando os prêmios de Melhor Filme do Júri Oficial e da Crítica, e no 40° Festival Sesc de Melhores Filmes, como melhor documentário do ano. Burlam também dirigiu filmes como Construção (2007) e Elegia de um Crime (2018)
Sobre AbdelJalil Akkari:
Abdeljalil Akkari é atualmente professor na Universidade de Genebra, Suiça, e dirige a linha de pesquisa Dimensões Internacionais da Educação. Já atuou nas universidades de Freiburg (Suíça) e em Maryland (E.U.A.). Foi Pró-Reitor de Pesquisa da Haute Ecole Pédagogique Berne-Jura-Neuchâtel (Suíça). Publicou recentemente um artigo sobre Les impasses de l école multiculturelle et de l école républicaine dans une perspective comparative, na Revista Suíça de Ciências da Educação. Publicou em 2008 a obra Educational ideas from the majority world, pela editora Sage. Seus principais trabalhos de pesquisas são relativos à educação intercultural, a análise das desigualdades educativas e a internacionalização da política educacional. Atualmente desenvolve uma pesquisa comparativa e internacional sobre o tema "Educação, escolarização e identidades nos contextos multiculturais".
Sobre o SescTV:
SescTV é um canal de difusão cultural do Sesc em São Paulo, distribuído gratuitamente, que tem como missão ampliar a ação do Sesc para todo o Brasil. Sua programação é constituída por espetáculos, documentários, filmes e entrevistas. As atrações apresentam shows gravados ao vivo com variadas expressões da música e da dança contemporânea. Documentários sobre artes visuais, teatro e sociedade abordam nomes, fatos e ideias da cultura brasileira em conexão com temas universais. Ciclos temáticos de filmes e programas de entrevistas sobre literatura, cinema e outras linguagens artísticas também estão presentes na programação.
Serviço:
Lançamento
Série documental: Paulo Freire, Um Homem do Mundo
Total: 5 episódios.
Duração: 50 minutos cada.
Direção: Cristiano Burlan.
Produtora: Bela Filmes.
Correalização: Consulado Geral da Suiça em São Paulo.
Realização: SescTV.
Classificação indicativa: Livre.
On Demand
Data: todos os episódios a partir de 17/3, terça, em sesctv.org.br
Sesc Pinheiros
Exibição do episódio O Exílio, seguida de bate-papo com participações de: AbdelJalil Akkari e Cristiano Burlan.
Dia: 17/03, terça, às 18h30.
Endereço do Sesc Pinheiros: Rua Paes Leme, 195, Pinheiros – São Paulo – SP. Entrada gratuita. Saiba mais sobre o III Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura em artepalavraeleitura.com.br
SescTV
Episódio: A Formação do Pensamento
Estreia no canal: 1/4, quarta, às 20h.
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