Como as seguradoras podem proteger o café das ameaças climáticas
Por Dominic Probyn – Diretor, Climate Risk Advisory – Aon
Objetivos do artigo
- Apresentar as percepções do Climate Risk Monitor e o valor das análises climáticas.
- Demonstrar o papel do seguro como solução em resiliência climática.
- Conectar o tema à equipe de Climate Risk Advisory da Aon durante o Aon Insight Series – LATAM e a COP30, destacando um desafio local com paralelos globais.
Principais conclusões
- A intensificação das secas provocadas pelas mudanças climáticas ameaça cada vez mais a disponibilidade e o preço do café, além da subsistência de milhões de produtores.
- Para proteger as cadeias de suprimento, empresas de alimentos e bebidas precisam ir além da gestão de riscos tradicional, incorporando análises climáticas e conhecimentos agronômicos.
- Ao integrar o seguro às estratégias de cadeia de suprimentos, empresas do setor podem garantir oferta confiável de café, reduzir riscos financeiros relacionados ao clima e impulsionar o crescimento de longo prazo.
Despertando para o risco climático crescente
Em países como Brasil, Colômbia e Vietnã, forma-se uma tempestade perfeita para produtores e consumidores de café. As três maiores nações produtoras do mundo enfrentam secas mais intensas devido às mudanças climáticas, que ameaçam interromper a cadeia global de fornecimento — e o seu café da manhã.
O Brasil, anfitrião da COP30 das Nações Unidas, entre 10 e 21 de novembro, sofreu perdas de US$ 139 bilhões relacionadas à seca nos últimos 30 anos, um risco que vem sendo acelerado pelo aquecimento global¹.
Segundo o Climate Risk Monitor da Aon, condições severas de seca devem ameaçar o dobro da produção mundial de café até 2050 em comparação aos níveis atuais — cerca de 54% da oferta global.
Esse risco é um lembrete real e tangível da vulnerabilidade das cadeias de suprimento diante do clima — uma preocupação que ocupa a 7ª posição entre as principais preocupações corporativas no Aon Global Risk Management Survey.
Você sabia?
Dados do Banco Mundial indicam que Brasil e Colômbia respondem juntos por cerca de metade das importações de café dos Estados Unidos.
Com 97% das perdas por seca sem cobertura de seguro, o risco à oferta global de café permanece exposto. Sem dados mais inteligentes, instrumentos de transferência alternativa de risco e investimentos em adaptação climática, o café diário pode se tornar um luxo. Mas esta questão vai muito além dos grãos: trata-se de negócio, resiliência e do futuro de um dos rituais mais queridos do mundo.
Onde as ferramentas tradicionais de gestão de risco falham
Embora a diversificação das fontes de fornecimento reduza parte do risco, ela não é uma solução infalível. Os impactos climáticos são globais — e regiões alternativas podem enfrentar desafios semelhantes, limitando a eficácia dessa estratégia.
Essas medidas também não protegem diretamente os produtores. Fatores socioeconômicos agravam ainda mais o problema: em países como a Colômbia, grande parte do café ainda é cultivada por pequenos produtores com idade média de 58 anos. Eventos climáticos extremos podem afastar esses agricultores da produção e, em muitos casos, não há uma nova geração disposta a assumir o trabalho. Em alguns países, agricultores estão inclusive abandonando a lavoura, como em Gana, onde produtores de cacau têm migrado para a mineração de ouro. Os mercados futuros de commodities têm sofrido estresse extremo em função de eventos climáticos, com altas recordes de preços devido a safras ruins. Essa volatilidade torna a cobertura tradicional cara e pouco confiável.
Duas maneiras de proteger as cadeias de suprimento
1) Compreender os dados
Para avaliar riscos e vulnerabilidades com precisão, empresas de alimentos e bebidas devem combinar análises climáticas com conhecimento agronômico. Ao entender os riscos específicos que afetam suas cadeias, é possível tomar decisões informadas sobre origem, produção e investimento. As análises climáticas oferecem insights baseados em dados sobre padrões meteorológicos, variações de temperatura e chuvas, enquanto a agronomia traz uma compreensão prática sobre resiliência das culturas e estratégias de adaptação.
2) Considerar soluções de seguro
O seguro é uma ferramenta alternativa — ou complementar — para gerenciar riscos climáticos no setor de alimentos e bebidas. Diferentemente das ferramentas de mercado especulativo, as soluções de seguro oferecem proteção estável, precificação precisa e previsível.
Principais benefícios:
- Capacidade com classificação A: respaldo de seguradoras com alto rating, garantindo confiabilidade.
- Abundância e consistência: proteção amplamente disponível e constante contra riscos climáticos.
- Compartilhamento de prêmio: distribuição do custo do risco entre os elos da cadeia, fortalecendo a resiliência de todos os participantes.
- Prêmios fixos: sem chamadas de margem, liberando capital que seria retido em contratos futuros.
- Proteção sazonal: cobertura contra perdas de safra e eventos climáticos extremos, apoiando a estabilidade da cadeia produtiva.
Estudo de caso: o valor da resiliência dos produtores
Um exemplo prático de resiliência na cadeia é o programa de seguro criado por uma rede de cafeterias para proteger seus agricultores. O programa cobre chuvas excessivas ou falta de umidade no solo durante fases críticas da produção — floração e crescimento dos frutos. Apoiado por capital de seguradoras de alta classificação, o seguro oferece proteção sazonal contra eventos climáticos extremos e consequentes perdas de produtividade e renda.
Além disso, ao patrocinar o programa de seguros, a rede incentiva seus produtores a adotar práticas mais resilientes diante do clima, fortalecendo o elo entre sustentabilidade e segurança de fornecimento. Essa abordagem comprova o valor de incluir os agricultores na cobertura, criando uma cadeia de suprimentos mais estável e sustentável.
Conclusão
À medida que as mudanças climáticas desafiam o setor de alimentos e bebidas, torna-se evidente a necessidade de estratégias inovadoras de gestão de risco. Integrar análises climáticas, conhecimento agronômico e soluções de seguro permite construir cadeias de suprimento resilientes, capazes de resistir a choques climáticos e fortalecer comunidades agrícolas.
As seguradoras desempenham papel fundamental para reduzir a lacuna de proteção nas cadeias alimentares. A demanda e o capital de risco existem — o avanço dependerá de produtos flexíveis, dados atualizados e parcerias sólidas entre corretores, clientes e mercados locais. Para o setor segurador, reduzir essa lacuna é também uma oportunidade de diversificação geográfica, que deve crescer à medida que a penetração do seguro e o desenvolvimento econômico avançam no Sul Global.
Especialista citado
Dominic Probyn – Diretor, Climate Risk Advisory – Aon
Fontes
• Aon’s Catastrophe Insight
• Colombia’s Coffee Plantations Struggle With an Aging Workforce – Pulitzer Center
• Financial Times – https://on.ft.com/3KVZ7ZE
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