Conec 2025 destaca sucessão familiar e novas estratégias na corretagem de seguros

A mediação ficou por conta de Boris Ber, presidente do Sincor-SP, que abriu o painel convidando os participantes a contarem suas memórias no mercado. Jayme Garfinkel, acionista controlador da Porto Seguro, falou com emoção sobre o momento em que precisou assumir o legado do pai, que faleceu durante a ditadura militar. Para ele, o desafio não era apenas manter um negócio, mas preservar um sonho.

“Quando meu pai faleceu, pensei ‘O que será da minha vida se eu vender o sonho dele?’ Me agarrei a esse sonho, que me deu forças para seguir. Na época, éramos a 44ª companhia do mercado, mas os corretores confiavam nele. Precisávamos estabelecer essa mesma base de confiança entre seguradora, corretor e cliente para continuar crescendo.”

O executivo ainda comentou sobre as particularidades da nova geração que está assumindo o mercado. “Na nova geração, as pessoas mais velhas ficam mais velhas, mas com a cabeça de jovem. Nós conhecemos melhor o mercado que a Susep, porque eles são um pequeno número para controlar tanta gente. Por isso, batemos muito na tecla da autorregulação. Acredito que a sociedade civil deve atuar e mostrar responsabilidade, e mesmo sendo difícil, essa insistência deve ser nossa missão.”

Durante o debate, Nilton Molina, presidente do Instituto de Longevidade MAG, trouxe uma visão complementar, destacando sua trajetória iniciada na corretagem e a paixão pela área de vida individual, onde construiu sua carreira ajudando a fundar áreas importantes na Bradesco Seguros.

“Minha vida foi diferente da do Jayme, pois comecei como corretor. Ajudei a criar a Bradesco Vida e Previdência, Bradesco Seguros e outros. Passei por muitas emoções ao longo da carreira, e minhas grandes emoções ainda continuam as mesmas. O que mais me fascina é o impacto social do seguro, principalmente o de vida, que apesar de ser difícil de vender, afinal ninguém quer pensar em indenização, tem um papel fundamental na vida das pessoas e no trabalho do corretor.”

Nilton destacou ainda o papel transformador da longevidade na indústria de seguros e seu impacto nos produtos e na forma como o mercado deve se preparar para as mudanças: “O aumento da expectativa de vida é um fenômeno que a sociedade, a indústria e o comércio ainda não perceberam plenamente. Por exemplo, muitos carros não são projetados para o conforto ou uso por pessoas idosas. Isso muda tudo: seguros de vida, saúde, automóvel e sociais. Nosso mercado precisa se adaptar para atender uma população que vive mais e com qualidade.”

Continuidade e renovação: O desafio da nova geração

Além dos dois executivos, também foram chamados ao palco Bruno Garfinkel e Helder Molina, representantes da nova geração das companhias, que trouxeram à discussão o desafio e a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho iniciado por seus pais. Garfinkel ressaltou que o crescimento da família e da empresa se misturaram ao longo dos anos. De acordo com ele, ambos se fortaleceram juntos. “Essas duas coisas passaram a ser uma só. Se a empresa fosse grande, nós também seríamos. Nossa responsabilidade é fazer o mercado dar certo, não só para a empresa, mas para as seguradoras. Estamos comprometidos com isso.”

Helder também comentou, com bom humor, que Nilton acompanha de perto o seu trabalho, garantindo que o filho cumpra os objetivos da empresa. “O Nilton não deixa passar um dia sem verificar se estamos trabalhando direito. É um legado que carregamos com muito orgulho.”

Simone Favaro, 1ª vice-presidente do Sincor-SP, conduziu a conversa para o papel social do seguro na vida das pessoas. Explicando a diferença entre o seguro de vida e o seguro patrimonial, Nilton declarou que a venda do seguro de vida é sempre difícil, mas o momento da indenização é crucial tanto para o cliente quanto para o corretor.

Já Jayme reforçou o compromisso das seguradoras em surpreender os clientes e estar presente em seu dia a dia, especialmente em seguros mais cotidianos como o automóvel. “A vantagem do seguro automóvel é a proximidade com o cliente. É um ramo que está muito presente no cotidiano das pessoas e, por isso, nossa atuação diária mostra nosso interesse em atender o cidadão.”

Em determinado momento, Boris comentou, com bom humor, sobre a motivação do público para estar presente no auditório para prestigiar os palestrantes, evidenciando a relevância de suas experiências para o mercado segurador. “O Nilton disse que o auditório estava cheio por causa do sorteio do carro. Eu respondi ‘O carro já foi sorteado, o pessoal está aqui para ver vocês.’”

Ao longo da conversa, ficou claro que a transição no mercado de seguros vai muito além da sucessão familiar. Ela é feita com bases sólidas de confiança, responsabilidade social e adaptação às transformações demográficas e tecnológicas. O futuro da corretagem está em mãos preparadas, que respeitam o legado e entendem os novos desafios do setor.

Finalizando o painel, em um momento de emoção, Helder agradeceu por ter recebido do pai as ferramentas necessárias para fazer o seu melhor em prol da sociedade, dos clientes, dos funcionários e parceiros. “Nós temos que respeitar cada vez mais o ser humano, isso eu aprendo em casa com você. Tenho orgulho de ser seu filho.”

Bruno Garfinkel também relatou sua experiência no processo de sucessão familiar e no desafio de promover inovação dentro da empresa. Ele recordou que, em sua primeira reunião, foi orientado por Jayme Garfinkel a “entrar mudo e sair calado”, uma recomendação para que respeitasse o andamento dos negócios que já estavam consolidados, sem interferir precipitadamente. No entanto, em determinado momento, Bruno optou por romper com essa postura conservadora e assumiu o compromisso de dobrar o tamanho da companhia em cinco anos.

Embora tenha sido inicialmente considerado audacioso, ele afirmou ter plena convicção da viabilidade do objetivo e reconheceu a importância de contar com uma equipe engajada que compartilhou desse sonho e contribuiu para sua realização. Atualmente, a Porto Seguro conta com diversas verticais, proporcionando aos corretores a oportunidade de desenvolver seus próprios projetos e alcançar suas metas dentro da organização.