Brasileiras são destaque em iniciativas colaborativas para fomentar a presença feminina no setor de TI

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (PNAD/IBGE), as mulheres representam apenas 20% dos mais de 580 mil profissionais que atuam na área de TI no Brasil. Por mais que em número ainda reduzido, as profissionais deste setor estão satisfeitas: segundo um estudo realizado pelo Booking.com, em média, nove a cada dez brasileiras que atuam na área de tecnologia pretendem continuar no mesmo emprego por pelo menos cinco anos. As brasileiras ocupam o segundo lugar entre as maiores entusiastas da presença feminina no setor, atrás apenas das indianas.

Por outro lado, as mulheres que iniciam em empresas de TI e saem por escolha própria alegam não ter suas opiniões e contribuições valorizadas (21%) e não conseguir enxergar uma progressão clara de carreira (32%). Idione Merisio é analista de negócios de gestão pública na Paradigma Business Solutions e corrobora essa sensação. “Nossa cultura estimula meninos e meninas a atuarem em áreas de conhecimento distintas, reproduzindo diversos conceitos, sem questionar. Eu acredito que a educação e os exemplos são o caminho para mudar isso, mostrando para nossas crianças que elas podem ser o que quiserem. Mulheres atuando em funções como desenvolvimento de software, gestão de equipes, direção, presidência e grupos se organizando para estimular outras mulheres a seguir a nossa área nos inspiram”, finaliza.

A colaboração e compartilhamento de experiências é visto, portanto, como saída para aumentar a participação feminina no quadro de funcionários das empresas de TI. De acordo com a pesquisa citada, 95% das colaboradoras indicariam uma carreira no setor de TI para a próxima geração, e vão além: 54% acreditam que podem melhorar as oportunidades de crescimento da participação feminina e condições no trabalho no setor por meio do compartilhamento de conhecimento e 51% apoiam iniciativas que orientam mulheres para profissões deste campo de conhecimento. Idione comemora o resultado destas ações: “Ao longo da minha trajetória de mais de 15 anos em empresas de tecnologia, pela primeira vez, tenho a imensa satisfação de observar uma equipe formada apenas por mulheres: analista de sistemas, desenvolvedoras e analistas de qualidade de software”.

Conheça iniciativas de mulheres que atuam no setor de TI de Santa Catarina e oferecem uma rede apoio para as que querem se aprimorar ou entrar nesta área:

Sororidade para enxergar diferentes realidades

Amanda Santos, gestora de projetos no DOT digital group, empresa que desenvolve tecnologia para educação (EdTech) e marketing (MarTech), atua há 10 anos na área de tecnologia e nunca se deixou intimidar pela presença predominantemente masculina em empresas onde trabalhou. No DOT, há um equilíbrio, exceto na área de TI. Em 2016, ela percebeu que podia ajudar outras mulheres a se posicionarem melhor no mercado de tecnologia. “Comecei a entender sobre sororidade ao participar de um curso de liderança para mulheres chamado Springboard. Desde então, entendi a importância das mulheres criarem as suas redes de apoio para trocarem experiências e se apoiarem para irem em frente, sem desistir”, conta Santos. No Dia da Mulher, 8 de março, ela será uma das facilitadoras no evento Trajec(S)tories, promovido pela ACATE Downtown, das 8 às 12 horas, em Florianópolis. O objetivo é trocar experiências. “Quanto mais mulheres participarem e perceberem que é possível, mais chances teremos de contar com um setor mais equilibrado na questão de gênero”, acredita Amanda.

Incentivo à liderança

Na Dígitro Tecnologia, empresa com sede em Florianópolis há mais de 40 anos desenvolvendo soluções de comunicação e inteligência para os segmentos corporativo e público, as duas áreas de desenvolvimento de produto são lideradas por mulheres. Elas também estão à frente em outras áreas estratégicas da empresa. "Damos muito valor a cultura e estamos sempre atentos para garantir um ambiente de confiança em que as mulheres possam se realizar como profissionais, mas que sejam também acolhidas em todos os seus papéis, como o de mãe", afirma Danielle Nishida, gerente de desenvolvimento na Dígitro. Neste ano, a companhia irá receber pela primeira vez o Women Techmakers (WTM), programa e marca global do Google voltado para as mulheres na tecnologia. A Dígitro já participou em edições anteriores do evento em Florianópolis, apresentando palestras sobre acessibilidade e qualidade de software. Neste mês, a companhia irá sediar um meetup no dia 23, ação global do WTM em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Além disso, mensalmente são realizados encontros para discutir assuntos diversos sugeridos pelas colaboradoras. "No próximo, traremos dicas sobre oratória e já está nos nossos planos falar sobre finanças e investimentos. O objetivo é impulsionar esses talentos, aumentar a autoestima e autoconfiança", explica Danielle.

Compartilhamento de experiências
A Cheesecake Labs, empresa que desenvolve aplicativos web e mobile, percebeu em uma das suas ações para o Dia Internacional da Mulher a necessidade de promover iniciativas constantes de compartilhamento de experiências e realidades. Assim, surgiu o Comitê da Diversidade que promove encontros mensais entre os colaboradores para discutir soluções acerca de inclusão dentro do ambiente de trabalho. Olívia Pacheco, responsável pela área de bem-estar da Cheesecake Labs, destaca outras iniciativas de compartilhamento que contribuem para a evolução da diversidade na empresa e, consequentemente, desenvolvem uma consciência nos colaboradores. “Temos eventuais Girls Talks, uma ação mais informal que consiste em uma roda de conversa entre as mulheres da Cheesecake, onde quebramos tabus, contamos sobre nossas dores e compartilhamos experiências. Durante esses momentos prezamos sempre pelo respeito umas às outras e o cuidado em não julgar, o que faz com que nos sintamos bastante seguras”, conta Olívia. A empresa estende algumas destas ações também para a comunidade, no dia 14/03, às 19h, por exemplo, haverá uma roda de conversa na Cheesecake com o tema 'Cultura do Estupro' como parte das iniciativas da chamada Female Week, semana com ações voltadas para as mulheres.