A importância de conscientizar as populações carentes sobre o seguro como forma de proteção

A Insurance Initiative (A2ii), entidade que atua no apoio a iniciativas de órgãos supervisores do seguro para inclusão financeira de populações vulneráveis, anunciou, no mês passado, a escolha de Regina Simões como sua coordenadora regional para a América Latina.

Profissional com longa experiência no mercado segurador, inclusive com passagem pela Susep, Regina conversou com exclusividade com o Portal CNseg para explicar a dimensão do desafio de sua missão. Confira:

A senhora foi escolhida pela Access to Insurance Initiative (A2ii) como coordenadora regional para a América Latina com o objetivo de fomentar a inclusão financeira e ampliar a penetração do seguro junto às populações mais vulneráveis. Que iniciativas já estão sendo pensadas com esse fim?

Ao estabelecer uma coordenação regional, a Iniciativa de Acesso aos Seguros - A2ii responde aos pedidos dos supervisores da região, de receber maior apoio para a capacitação, assegurando assim que as atividades da A2ii sejam mais adequadas às necessidades e às realidades dos mercados locais.

Como braço da Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS, na sigla em inglês) responsável pela implementação e promoção da inclusão financeira, a A2ii busca justamente fortalecer e capacitar os supervisores e reguladores de seguros, visando promover o desenvolvimento de estruturas regulatórias e de supervisão apropriadas para fomentar os mercados de seguros inclusivos, tomando sempre como base os padrões da IAIS.

Para o alcance desses objetivos, entre as minhas principais atribuições está a elaboração de uma agenda coordenada com a Associação de Supervisores de Seguros da América Latina (ASSAL) que, por seu profundo conhecimento das particularidades e da dinâmica da região, terá um papel central no desenvolvimento dos programas de capacitação.

Nesse aspecto, a participação e colaboração dos supervisores e reguladores do setor segurador da América Latina são essenciais para a identificação das principais demandas e dos temas que afetam suas jurisdições. Só assim é possível estabelecer uma agenda alinhada com as suas expectativas, tendo como base as suas necessidades e as possibilidades de contribuição oferecidas pela A2ii, que contemplam a realização de eventos de capacitação, regionais e internacionais, pesquisas, teleconferências com especialistas, ferramentas de aprendizagem com estudos de casos, extensa bibliografia, entre outras possibilidades.

Existe alguma meta já definida que se pretende alcançar?

Como dito anteriormente, o principal objetivo da A2ii é fortalecer e capacitar os supervisores e reguladores de seguros. Nesse sentido, para 2017, no âmbito regional, além da elaboração da agenda conjunta com a participação da ASSAL e dos supervisores, a A2ii participará em dois seminários de capacitação da ASSAL e realizará, em conjunto com o Microinsurance Network, um fórum consultivo em Lima. Para 2018 já está prevista a realização de pelo menos um fórum internacional na América Latina. Também serão finalizadas, até o final deste ano, as traduções de vários documentos, a princípio, para o espanhol. E ainda estão em negociação outras atividades específicas e eventos de capacitação voltados para a região, que certamente permitirão o intercâmbio de informações, a disseminação do conhecimento e uma maior compreensão das questões regulatórias envolvidas.

Que particularidades o Brasil e a América Latina em geral possuem que devem ser levadas em conta na hora de se elaborar um plano de incremento do acesso ao seguro?

A despeito das diferenças regionais, tanto no território de cada país como entre eles, quando comparada a outras regiões como a ÁSIA e a África, a América Latina apresenta mais semelhanças do que diferenças. Os desafios são parecidos: populações altamente concentradas em grandes cidades, com as pessoas menos favorecidas vivendo principalmente em áreas periféricas ou de difícil acesso; economias com relevante participação do setor agrícola; grande desigualdade na distribuição de renda; baixos níveis de educação formal, principalmente nos segmentos de menor renda; baixos índices de penetração do seguro; entre outros aspectos similares. Embora estas características possam ser similares a outros países em desenvolvimento, a região tem as mesmas raízes culturais latinas e conta com a vantagem de que o espanhol, à exceção do Brasil, é o idioma falado em todo o continente. Essas características comuns facilitam a elaboração de uma agenda coordenada para a região, incluindo temas de interesses convergentes, como o de
senvolvimento de programas com foco na prevenção aos desastres naturais para as regiões urbanas ou no setor agrícola.

Entre os projetos prioritários da CNseg está o Programa de Educação em Seguros. Como uma iniciativa destas pode contribuir para ampliar a penetração do seguro junto às populações mais vulneráveis?

A consciência sobre a importância do seguro (...) cria um movimento interessante capaz de transformar o mercado segurador

A educação em seguros, como parte da educação financeira, é essencial para promover a inclusão do seguro, principalmente entre os segmentos de menor renda da população, levando em consideração o seu esperado baixo nível de educação formal. A consciência sobre a importância do seguro como forma de proteção possibilita a escolha consciente por parte dos consumidores e, no médio e no longo prazo, estimula novas demandas, criando um movimento interessante capaz de transformar o mercado segurador, tornando os produtos de seguros mais eficientes e eficazes, adequados aos novos perfis de demanda.

O escritório da A2ii na América Latina é o segundo regional, inaugurado depois do da África subsaariana, no ano passado. O que podemos utilizar aqui na região da experiência adquirida na África?

Os países da África Subsaariana apresentam grandes contrastes entre eles. As diferenças econômicas, geográficas, religiosas, sociais, culturais, entre outras, são imensas. Os níveis de desenvolvimento da infraestrutura, inclusive tecnológica, e do sistema financeiro variam muito de país para país. Enquanto na América Latina existem basicamente dois idiomas, na África, além de idiomas tradicionais, há incontáveis dialetos. Muitas vezes, apresentam realidades completamente distintas da América Latina. Estas questões causam impacto direto na forma como os serviços financeiros serão providos. Contudo, é possível extrair experiências relevantes da região: na África do Sul, o uso de pequenos comerciantes como canais de distribuição e os programas de seguro funeral elevam as taxas de penetração de seguro no país ao impressionante índice de 14%. Em outros países, como Quênia e Tanzânia, vemos ótimos exemplos do uso de tecnologia digital nas transações financeiras, incluindo as de seguros.

O que as empresas do setor podem fazer para contribuir com o projeto da A2ii?

Durante os últimos anos, a A2II, juntamente com outros parceiros internacionais, tem organizado anualmente diversos Fóruns Consultivos. Estes eventos são plataformas que promovem o diálogo entre a indústria e os supervisores e reguladores de seguros e outros responsáveis pelo estabelecimento de políticas para o setor. A participação de representantes do mercado segurador nesses eventos é de suma importância para que as discussões sejam construtivas e permitam o estabelecimento de políticas consistentes nos países. Em 2017, a A2ii já realizou dois Fóruns Consultivos sobre Seguro Rural e Seguro Paramétrico. O próximo será em novembro, em Lima, e será co-organizado com o Microinsurance Network, que tem a CNSeg entre seus membros.

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