Como o cérebro influencia seu estilo de liderança

A forma como alguém lidera não deve ser entendida como resultado exclusivo de treinamentos técnicos, experiências acumuladas ou modelos de gestão aprendidos ao longo da carreira. A liderança é, sobretudo, uma expressão da forma como o cérebro foi treinado para reagir ao ambiente, moldada por conexões neurais, regulação emocional e capacidade adaptativa. Um estudo publicado na Nature Reviews Neuroscience em 2020 demonstrou que a prática repetida de novos comportamentos aumenta a densidade sináptica em regiões ligadas à tomada de decisão e à autorregulação, comprovando que o estilo de liderança pode ser treinado e transformado.

Nesse sentido, a neuroplasticidade torna-se um pilar da liderança contemporânea. Essa capacidade do cérebro de modificar conexões sinápticas permite que líderes aprendam a operar de forma mais flexível e inspiradora, especialmente quando expostos intencionalmente a desafios inéditos. Norman Doidge, em “O Cérebro que se Transforma”, descreve que cada pensamento e emoção repetidos funcionam como gotas que esculpem sulcos no relevo neural, o que significa que líderes podem redesenhar seus padrões internos e gerar impacto mais consistente, tanto em resultados de curto prazo quanto no legado deixado para suas equipes.

A liderança, portanto, não nasce de um lado específico do cérebro, mas da integração de sistemas neurais que operam em diferentes tempos e intensidades. Daniel Kahneman, em “Rápido e Devagar”, descreveu dois modos de decisão: o primeiro, rápido, intuitivo e emocional, útil em emergências, mas arriscado quando aplicado sem filtro às relações humanas; e o segundo, lento, analítico e deliberado, que exige energia, mas garante maior clareza e visão estratégica. Líderes que conseguem transitar entre os dois, equilibrando o instinto do sistema límbico com o planejamento do córtex pré-frontal, constroem estilos de liderança mais maduros e coerentes.

O maior desafio está justamente na regulação límbica. A amígdala cerebral, responsável por identificar ameaças, dispara reações de medo, ataque ou paralisia quando hiperativada, levando a decisões precipitadas e ambientes organizacionais de tensão. O córtex pré-frontal, por sua vez, fortalece autorregulação e empatia, permitindo escolhas mais equilibradas. Daniel Goleman, em “Inteligência Emocional”, alerta que, sem regulação emocional, até o líder mais brilhante se torna refém de impulsos. A pesquisa da Harvard Business Review em 2019 confirma o impacto: líderes com alto controle emocional elevam em até 20% o engajamento de suas equipes.

Ainda que se argumente que liderança é um talento nato, evidências apontam o contrário. O NeuroLeadership Institute demonstrou em 2021 que equipes percebem a incongruência emocional de seus líderes em menos de 0,2 segundos, antes mesmo de compreender a mensagem verbal. Esse fenômeno, chamado de neurocoerência, ocorre quando emoção, pensamento e ação estão alinhados, transmitindo confiança; quando não, o cérebro do liderado aciona mecanismos de defesa silenciosos. Como afirma Antonio Damásio, “sentimos antes de saber”, e essa percepção inconsciente reforça a importância da coerência interna.

Conclui-se, portanto, que o estilo de liderança atual não é definitivo, mas apenas o reflexo neural do que foi reforçado até aqui. O cérebro pode ser treinado para liderar com mais presença, estratégia e humanidade, transformando padrões de medo em confiança, urgência em visão e reatividade em sabedoria. Não por acaso, o World Economic Forum destacou a inteligência emocional como uma das dez habilidades mais críticas para líderes até 2027, sinalizando que o futuro da liderança dependerá menos de técnicas externas e mais da coragem de reprogramar a própria mente. Liderar, em última instância, é aprender a dirigir primeiro o trânsito interno das próprias redes neurais para, só então, conduzir os outros com clareza e propósito.

*Evandro Lopes é CEO da SLComm, empreendedor, palestrante e consultor.