Empresas que cuidam constroem vantagem competitiva
*Por Raquel Cavalleri, coordenadora de Saúde Mental na HealthBit
Durante muito tempo, falar sobre saúde mental nas empresas parecia algo distante da rotina profissional. O tema era geralmente associado a ações de responsabilidade social, campanhas pontuais ou datas específicas do calendário corporativo. Quem não se lembra, especialmente os millenials, de alguma palestra sobre o Setembro Amarelo?
Mas o cenário atual exige uma mudança real e profunda. O sofrimento psíquico assumiu um protagonismo inquestionável no impacto sobre a performance empresarial, interferindo diretamente nos níveis de produtividade, engajamento, absenteísmo e retenção de talentos.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) escancaram a gravidade da questão: cerca de 15% dos adultos em idade produtiva vivem com algum transtorno mental. Estima-se que, anualmente, ansiedade e depressão resultem na perda de 12 bilhões de dias de trabalho, com um custo estimado em quase 1 trilhão de dólares para a economia global.
Ignorar essa dimensão humana pode parecer apenas um detalhe, mas, com o tempo, transforma-se em um risco real à sustentabilidade dos negócios.
Não há mais espaço, no mundo corporativo, para lideranças que desconsideram o impacto emocional da alta performance. A lógica da exaustão precisa, urgentemente, dar lugar a modelos que reconheçam o colaborador como um sujeito com emoções, histórias e limites.
Ambientes que sustentam e não adoecem
Criar espaços psicologicamente seguros deixou de ser um “bônus desejável” para se tornar pré-requisito de sustentabilidade. Organizações que constroem uma cultura de confiança colhem resultados concretos: segundo um estudo do Great Place To Work, a produtividade pode ser até 50% maior e a rotatividade, 27% menor. E tem mais: dados da Deloitte mostram que empresas que realmente valorizam a experiência interna chegam a ter uma lucratividade 3,5 vezes maior por colaborador.
Esses números mostram uma virada importante no entendimento do que realmente impulsiona resultados. Hoje, locais de trabalho que escutam, acolhem e apoiam emocionalmente suas equipes não apenas evitam o adoecimento, mas se tornam ambientes onde as pessoas querem estar. Buscam-se mais do que salários: busca-se coerência, propósito e pertencimento.
E isso faz diferença. De acordo com a consultoria Korn Ferry, profissionais que enxergam sentido no que fazem produzem até 50% mais e têm 30% menos propensão a buscar outra oportunidade. Quando bem-estar e desempenho caminham juntos, cai por terra a falsa ideia de que é preciso escolher entre saúde e excelência. Valorizar o emocional, de forma integrada à estratégia da empresa, é investir em reputação e crescimento sustentável.
O desafio da coerência institucional
Os dados mais recentes do Ministério da Previdência Social reforçam o quanto é urgente repensar a forma como as empresas brasileiras lidam com a saúde mental. Em 2024, o Brasil registrou quase meio milhão de afastamentos por questões psíquicas — o maior número da última década. Um salto de 68% em relação ao ano anterior. Isso não acontece por acaso. Ainda há, em muitos ambientes, uma lógica que valoriza metas abusivas, jornadas exaustivas e a ausência de escuta real. E esse modelo de gestão cobra um preço alto — em capital humano, reputação e resultados.
A construção de uma cultura corporativa saudável exige mais do que campanhas pontuais ou ações simbólicas. Exige estrutura, planejamento e continuidade. E algumas organizações já vêm dando esse passo, ao colocar a saúde mental como um dos pilares estratégicos da gestão. Isso se traduz em programas estruturados de bem-estar emocional, com acompanhamento psicológico, iniciativas de saúde preventiva e ações que incentivam o cuidado como prática cotidiana, não como exceção.
Essa mudança de postura também passa pelo compromisso com a privacidade e o tratamento ético de dados sensíveis, respeitando a LGPD e reforçando a confiança entre empresa e colaborador. É nesse alinhamento entre discurso e prática que mora a coerência institucional — e, com ela, a verdadeira capacidade de transformação.
O futuro do trabalho está sendo desenhado agora. E nele, empresas que integram o cuidado psicológico à sua governança se destacam como referência. Mais do que evitar crises, constroem ambientes sustentáveis, fortalecem vínculos e estimulam a inovação. Em um cenário instável e em constante mudança, são essas práticas que consolidam vantagens competitivas duradouras.
Sobre Raquel Cavalleri
Raquel Cavalleri é coordenadora de Saúde Mental na HealthBit, healthtech que integra as soluções B2B da RD Saúde, onde lidera iniciativas focadas no bem-estar psicológico e no desenvolvimento de estratégias para a saúde corporativa.
Graduada em Psicologia pela USP, com especialização em Psicologia Clínica e Psicanálise pelo UNISAL, e pós-graduada em Liderança e Gestão de Pessoas, acumula 25 anos de experiência no atendimento em Saúde Mental e na gestão de serviços de Saúde e Assistência Social.
Ao longo de sua trajetória, atuou nos setores público e privado, liderando equipes, desenvolvendo treinamentos e implementando políticas de cuidado integral. Sua missão é promover ambientes corporativos mais saudáveis e humanizados.
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