Empresas se destacam ao valorizar profissionais em reentrada no mercado de trabalho

A CEO e fundadora da Be Back Now, Tetê Baggio, chama atenção para um desafio silencioso que vem se intensificando no mercado de trabalho. Trata-se da crescente dependência de filtros automatizados nos processos de recrutamento, que acabam deixando de lado perfis profissionais com trajetórias não lineares, ou seja, aqueles que passaram por uma pausa em suas carreiras. No entanto, muitas vezes, essas pausas representam experiências diversas que ainda não são levadas em conta, mas são valiosas para a performance das empresas.

Segundo Tetê, “os algoritmos, embora criados para agilizar e tornar as seleções mais objetivas, têm gerado um efeito de exclusão de profissionais altamente qualificados que viveram pausas ou transições em suas carreiras. Mas isso não significa que tenham sido programados para essa barreira, na verdade, ainda não há no Brasil a consciência de valorização de experiências e jornadas mais diversas e não lineares”

“Estamos falando de pessoas que pausaram suas carreiras para empreender, estudar, cuidar de familiares ou viver experiências transformadoras. E toda essa riqueza de repertório é frequentemente compreendida como uma lacuna no currículo”, acrescenta a executiva.

A Be Back Now, empresa fundada por Tetê, nasceu justamente para reconectar esses profissionais ao mercado e apoiar empresas que desejam inovar na gestão de talentos. A startup atua com um modelo B2C, oferecendo programas de educação e desenvolvimento para profissionais em retomada de carreira, e B2B, assessorando organizações na construção de estratégias mais inclusivas de recrutamento e retenção, principalmente neste perfil de candidato.

“Num primeiro momento, mais emergencial para não ficarmos atrás de como atuam os recrutadores ao redor do mundo, acredito na tentativa de humanização desse processo com vagas positivas para quem está em processo de reentrada no mercado de trabalho. Num plano a mais longo prazo, assumimos como desafio tornar a tecnologia, que hoje invisibiliza, em uma aliada dessa diversidade”, declara.

Vantagem competitiva

A executiva acredita que a reinserção de profissionais com percursos diversos representa uma vantagem competitiva para empresas que buscam inovação e equilíbrio em seus times. “As organizações que compreenderem o valor desses profissionais sairão à frente. É indispensável criarmos mecanismos que sejam capazes de replicar a profundidade humana que nasce das pausas, das mudanças e das reinvenções”, afirma a especialista que já passou por três pausas e reinvenções em sua própria carreira.

Equipes formadas por pessoas com trajetórias diversas são naturalmente mais criativas, adaptáveis e inovadoras. Quando as empresas incluem em seus times profissionais com outras experiências de vida e carreira, ganham em repertório e visão estratégica. A pluralidade de percursos amplia a capacidade de resolução de problemas, estimula empatia entre os colaboradores e contribui para decisões mais equilibradas e humanas.

Mais do que um compromisso social, a valorização de histórias profissionais variadas é uma vantagem competitiva. Ambientes que reconhecem o poder dos recomeços se tornam mais resilientes diante das transformações do mercado e conseguem antecipar tendências com maior sensibilidade. “Em um cenário onde a inovação nasce da diversidade de pensamento, abrir espaço para percursos não convencionais é também abrir espaço para o crescimento sustentável e genuíno das organizações”, conclui

Sobre a Be Back Now

Tetê Baggio acompanhou de perto projetos de referência no apoio à profissionais retornantes ao mercado de trabalho no Reino Unido, como a Career Returners, e dialogou com instituições que seguem o mesmo modelo de negócio nos Estados Unidos, Índia e Canadá, com o propósito inicial de trazê-las para cá. Mas, ao analisar a realidade brasileira, percebeu que era necessário criar uma solução adaptada às especificidades locais, especialmente diante da rigidez da legislação trabalhista e da baixa familiaridade das empresas com esse tipo de inclusão.

A Be Back Now nasce com um modelo B2C, oferecendo educação e desenvolvimento pessoal e profissional para apoiar o reingresso dos profissionais no mercado, e B2B, atuando como consultora de empresas interessadas em acessar esse talento diferenciado. “Profissionais que fazem pausas carregam não apenas experiência técnica, mas também resiliência, visão ampliada de mundo e competências socioemocionais altamente valiosas para as organizações”, explica Tetê.

Ao trazer esse pioneirismo para o Brasil, a Be Back Now se posiciona como um agente de transformação social e corporativa. “Já vi esse filme antes. Quando comecei a falar de sustentabilidade, ninguém entendia. Quando falei em mediação, também parecia estranho. Hoje, ambos são realidade. Acredito que o mesmo vai acontecer com a valorização das pausas de carreira. É hora de plantar essa semente no Brasil”, afirma a fundadora.