Pesquisa mostra aumento de profissionais acima de 50 anos no mercado de trabalho

“Vivendo mais tempo e com mais saúde, profissionais de 50 anos têm um horizonte de aproximadamente duas décadas de produtividade pela frente

A aposentadoria precoce está virando coisa do passado. Segundo último relatório do IBGE, a longevidade do brasileiro alcançou a maior média da história, 76 anos, um salto de 22 anos em relação ao registrado na década de 60. Com o aumento da expectativa de vida, somada a reformas na Previdência que preveem mais anos de trabalho para homens e mulheres no país, profissionais que poderiam estar pensando em “pendurar as chuteiras”, agora estão procurando um novo rumo para a carreira.

“Vivendo mais tempo e com mais saúde, profissionais de 50 anos têm um horizonte de aproximadamente duas décadas de produtividade pela frente”, diz o pesquisador Rafael D’Andrea, autor do livro “Reinventando-se após os 50 anos de Idade”. Ele analisou a transição de carreira feita por homens nessa faixa etária, em seis países. O estudo revelou um número crescente de indivíduos experimentando o que D’Andrea chama de “carreira bônus”, que vem depois da tradicional e não necessariamente tem motivação econômica. As razões passam pelo desejo de exercer uma vocação antiga até a recusa de seguir o caminho dos pais aposentados. “Alguns têm aversão a serem vistos como desocupados ou obsoletos. Profissionais que chegaram ao topo da carreira sempre foram vistos como alguém de visão — um status importante para eles, mais até que dinheiro”, fala.

Ampliar a visão foi o que Helder Gomes, aos 46 anos, estava buscando, quando decidiu se afastar do dia a dia da Hal Video, uma das principais produtoras de audiovisual de Salvador, criada por ele há 28 anos, e voltar para a sala de aula, dessa vez em outro país. “Meu objetivo era estudar cinema em Los Angeles, adquirir mais conhecimento técnico e finalmente colocar em prática um desejo antigo de dirigir longas e documentários”, diz. “Mas antes precisei encarar uma etapa difícil para mim: falar inglês fluentemente”, conta. Foram 12 meses aprimorando o idioma até que Helder fosse admitido na New York Film Academy. Daí em diante ele tem vivido seu sonho de menino. Hoje, aos 51 anos, se enche de orgulho, ao ver que seu curta metragem I’m Telling Ya!, filmado em 2018 já ganhou prêmios de melhor Curta de Humor Negro no Los Angeles Film Awards, Melhor Filme de Comédia no United International Film Festival e melhor Comédia no Festigious International Film Festival. E seu curta experimental, Within Range, rodado na África do Sul no ano passado, acaba de ser anunciado como semi-finalista no Los Angeles CineFest. Sair da zona de conforto ajudou a ampliar os horizontes de Helder, que em vez de aposentadoria, pensa em produzir mais e melhor. “Tenho o mesmo entusiasmo dos meus 20 anos com a experiência de 51”, celebra.

Nos Estados Unidos, um estudo recente da Universidade de Michigan apontou que cerca de 40% dos americanos no mercado de trabalho com idade superior a 62 anos, passaram por algum tipo de transição na carreira por volta dos 55 anos. A pesquisa também afirma que mais pessoas nessa faixa etária se encontram atualmente empregadas ou em busca de uma oportunidade profissional no país, um índice 10% superior aos anos 1990. A diferença é que agora o trabalho desejado é aquele que oferece significado, rotina flexível, emoção de novos desafios, relacionamentos, e que seja consistente com os valores do indivíduo. Além disso, antes de promover mudanças, pessoas mais maduras tendem a avaliar mais cuidadosamente suas habilidades e capacidade de aprendizado, tomando decisões mais assertivas em sua nova ocupação.

Quando a executiva britânica Jane Kellock, 51 anos, teve uma ideia inovadora rejeitada pelo chefe da companhia de moda onde trabalhou por 20 anos, ela viu ali uma oportunidade de criar o seu próprio negócio, o bureau de estilo Unique Style Platform, que presta consultoria fashion para empresas do ramo. Kellock faz parte de uma nova geração de mulheres que empreendem em números expressivos. Segundo a pesquisadora Lynne Cadenhead, da Women’s Enterprise Scotland, negócios abertos por mulheres com mais de 40 anos tem 70% mais chance de ultrapassar a marca de 5 anos no mercado, contra 28% dos negócios abertos por mulheres mais jovens. “Isso se dá também por conta da dupla jornada feminina”, diz. “Quando as crianças crescem, essas mulheres se tornam mais independentes e tendem a dedicar mais tempo ao trabalho, agora sem culpa e cobrança”.

Para o pesquisador D’Andrea, a grande vantagem de ter completado mais primaveras é o autoconhecimento. “Aos 50, é possível que você já tenha refletido o suficiente sobre o significado do seu trabalho e como quer viver essa experiência, ainda com tempo e energia para novas possibilidades”.