As mudanças de paradigmas da sociedade nesse novo mundo digital
“Vivemos hoje em um mundo onde as velhas estruturas agonizam, mas ainda não morreram, e as estruturas emergentes ainda não se desenvolveram o bastante para substituí-las completamente”, afirmou o sociólogo e cientista político Sérgio Abranches na abertura do painel intitulado “Perspectivas do Brasil e de ser brasileiro”, realizado durante a manhã do segundo dia do 23º Encontro de Líderes do Mercado Segurador, em Foz do Iguaçu, entre 1º e 3 de março.
E para debater o tema com Sérgio Abranches, compuseram a mesa o presidente da CNseg, Marcio Coriolano; o vice-presidente da CNseg, Jayme Garfinkel, e o economista Luiz Roberto Cunha.
E esse mundo, sem estruturas sólidas, onde o passado serve, cada vez menos, como referência para o futuro, prosseguiu Abranches, gera um enorme desconforto, pois todo dia topamos com coisas desconhecidas, levando ao fim dos consensos, já que não é possível haver consenso sobre coisas desconhecidas”. Segundo o sociólogo, a globalização e a digitalização do mundo estão entre os principais agentes dessas mudanças de paradigmas na forma das pessoas entenderem o mundo, consumirem, se relacionarem e até mesmo na forma de construírem suas expectativas.
E com as instituições se transformando muito mais lentamente que a sociedade, está já não cabe nas velhas estruturas. “A mentalidade do mundo político ainda é analógica, enquanto a sociedade já é digital”, disse.
E isso é uma questão que toca profundamente o mercado segurador, pelos grandes desafios que gera, como lembrou o presidente da CNseg, visto que o seguro, apesar de lidar com a imprevisibilidade, se baseia sempre em uma história passada. “Será que isso pode levar a uma redução da proteção das pessoas?”, questionou Coriolano. “Sim. O seguro precisará se adaptar a uma era de menos capacidade de proteção das pessoas”, respondeu Abranches. Como exemplo, citou o caso dos motoristas do Uber, que não contam com nenhum tipo de proteção. E a desproteção progressiva leva a novas demandas e a novos conflitos, o que, segundo ele, são duas questões cruciais dessas transformações.
Não bastasse isso, prosseguiu, a esquerda envelheceu no mundo inteiro, deixando ainda mais sem proteção os que mais dependem da estrutura. Não que Abranches defenda um monopólio da esquerda, muito pelo contrário. Para ele, o monopólio da esquerda levaria ao imobilismo, enquanto o monopólio da direita levaria a um aumento da desigualdade. Mas qual seria, afinal, o caminho para lidar com toda essa disrupção? “Sendo disruptivo também”, afirmou. Disruptivo até na educação, disse o cientista político, respondendo a Jayme Garfinkel, que indagou se, eventualmente, o atraso do Brasil na educação não poderia servir para “nos dar um pouco mais de tempo”.
“Quando um país se atrasa em relação ao progresso em determinado campo, tem a oportunidade de dar um salto, sem, necessariamente, percorrer todos os passos do pioneiro. Precisamos reformar a educação, não para ser melhor, mas para ser diferente”, concluiu Abranches.
O presidente da CNseg encerrou o Encontro, ressaltando que ele superou todas as expectativas, tendo havido uma grande confluência entre todos os temas abordados nesses três dias.
A cobertura completa do evento pode ser conferida do Portal da CNseg e nos canais da Confederação no YouTube, Faccebook e LinkedIn. As apresentações dos palestrantes também estarão disponíveis no site de eventos da CNseg.
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