Estudo associa maior dificuldade de ereção em pacientes com diabetes descontrolado

Um estudo publicado no Journal of Men`s Health constatou a associação entre a incidência de disfunção erétil (DE) e o controle inadequado das taxas de glicemia em homens com diabetes tipo 2, aquela adquirida ao longo da vida. De acordo com os resultados da pesquisa, 80,5% dos pacientes com diabetes tipo 2 e baixo controle glicêmico tinham disfunção erétil, sendo que em 1/3 dos participantes foi constatado um grau severo do distúrbio.

O levantamento apontou que quanto maior o tempo com diabetes descontrolado, e maior a idade, maior foi a incidência da disfunção erétil. A pesquisa mostrou ainda que o risco de desenvolver a condição em quem tem diabetes é três vezes maior em comparação a que não tem diabetes. Outros fatores também contribuem para o aumento do risco de disfunção erétil: hipertensão, tabagismo e distúrbios lipídicos.

Segundo o urologista Henrique Rodrigues, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, “essa pesquisa chama a atenção porque comprova cientificamente a relação entre disfunção erétil e diabetes tipo 2 em pacientes com controle inadequado da glicemia. A conclusão dos pesquisadores traz um importante alerta envolvendo a saúde sexual masculina, que pode também ser um indicador relevante para investigação de outros fatores, como doenças cardiovasculares e infarto do miocárdio”, explica.

A pesquisa avaliou durante três meses dados de 293 pacientes, com faixa etária entre 18 e 60 anos, na cidade médica da Universidade King Saud, em Riad, na Arábia Saudita. Considerada um problema clínico generalizado, com novos casos diagnosticados a cada ano, a disfunção erétil apresentou prevalência em homens com diabetes tipo 2 variando de 35 a 90%, dependendo do paciente, de acordo com dados da pesquisa.

Disfunção erétil no Brasil

Estudos nacionais estimam que, no Brasil, cerca de 25 milhões de homens com mais de 18 anos sofram com a disfunção erétil, e que aproximadamente 11 milhões tenham um grau moderado ou severo. Um estudo prospectivo demonstrou que a incidência de disfunção erétil em homens brasileiros foi de 2,5 vezes maior do que no Massachusetts Male Aging Study, onde foram identificados 26 casos a cada 1.000 pessoas, e esse índice vem aumentando de acordo com idade, menor escolaridade, diabetes, hipertensão e hiperplasia prostática benigna. A taxa de incidência da disfunção erétil em homens brasileiros foi de 65,6 casos por 1.000 pessoas por ano.

A identificação de fatores de risco médicos e comportamentais para a disfunção erétil é essencial para determinar quais fatores poderiam ser modificados para os esforços de prevenção. A projeção de um milhão de novos casos anualmente no Brasil demonstra que a disfunção erétil deve ser considerada um problema de saúde pública.

O problema traz prejuízos para a qualidade de vida dos homens e muitos procuram na automedicação a solução. “Com o advento dos medicamentos orais para ereção, a facilidade de compra sem receita fez com que muitos homens comprassem esses remédios sem passar por uma avaliação médica e isso é um perigo. Esses remédios são vasodilatadores, logo, pacientes cardíacos que fazem uso de algum remédio à base de nitrato podem ter uma queda súbita de pressão e colocar sua vida em risco”, alerta o urologista.

Estudos anteriores já associavam fatores como doenças cardíacas, depressão, idade, tabagismo e diabetes a casos de disfunção erétil, mas essa foi a primeira vez que uma pesquisa associou distúrbios de ereção a falhas no controle do índice glicêmico. Pesquisas futuras devem se concentrar no efeito da melhoria do controle glicêmico entre pacientes com diabetes e disfunção erétil. “A lição que fica do estudo é manter o controle glicêmico em dia para evitar complicações como a perda da ereção e também problemas cardíacos”, diz Henrique Rodrigues.

Sobre o Dr. Henrique Rodrigues, urologista

Formado em Urologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Dr. Henrique Rodrigues é membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia e membro da Associação Americana de Urologia e da Associação Europeia de Urologia. Com atuação consolidada nas áreas de uro-oncologia, sexualidade, endourologia (cálculo renal) e andrologia (DAEM, reposição hormonal etc.), Dr. Henrique Rodrigues foi diretor da Sociedade Brasileira de Urologia entre os anos de 2008 e 2012, buscando de forma contínua contribuir para o desenvolvimento do conhecimento científico voltado ao diagnóstico e ao tratamento de distúrbios e doenças do sistema urológico.