Filhos e carreira: como os pais podem incentivar o desenvolvimento profissional desde a infância

“Desde os primeiros anos de vida as crianças começam a absorver as críticas ou elogios dos pais em relação aos seus interesses, curiosidades e atividades naturais, o que reforça ou enfraquece seus talentos inatos ou vocação ”, contextualiza Roberto Ziemer, professor da USP, mestre em psicologia organizacional e cofundador do SoulWork, programa voltado para desenvolvimento profissional e transição de carreira.

Ao estimular algumas atividades e reprimir outras, os pais estão dizendo aos filhos o que é valorizado ou desvalorizado por eles, o que é elogiado e o que é punido. Entender quais as consequências na fase adulta das mensagens inconscientes que os pais transmitem aos seus filhos, é um dos temas abordados pelo programa SoulWork.

Para que seus filhos tenham a oportunidade de se tornarem adultos realizados, capazes de expressar o máximo do seu potencial, os pais precisam agir de forma consciente, intencional. O primeiro passo é buscar o próprio amadurecimento emocional, para que eventuais medos e crenças limitantes formados nos primeiros anos de vida não sejam transmitidos aos filhos. Ziemer reforça que pais emocionalmente imaturos, que não tiveram a oportunidade de revisitar os padrões disfuncionais que carregam de suas famílias de origem, tendem a projetar suas insatisfações nos filhos, o que pode gerar consequências negativas no futuro.

Para evitar esta contaminação emocional, é importante que os adultos significativos se relacionem e observem as atividades das crianças sem julgamentos, buscando entender e apoiar seus interesses e talentos inatos. Dessa forma, é possível criar um ambiente em que a criança tenha a oportunidade de descobrir suas potencialidades e, aos poucos, tomar decisões que se alinham com quem a sua forma de se expressar no mundo.

Como saber se você está agindo como um genitor (pai/mãe) emocionalmente imaturo

1. Expressa controle excessivo, direcionando o filho(a) para uma determinada carreira ou caminho que pode não estar alinhada com as potencialidades da criança. Geralmente o foco são profissões que tenham proeminência, reconhecidas socialmente por serem bem remuneradas ou por oferecerem segurança e estabilidade.
2. Evita participar ou apoiar atividades que considera inadequadas em relação a gênero. Exemplos: meninas não devem participar de atividades consideradas “para meninos”, e vice-versa.
3. Evita apoiar atividades que não tem um resultado imediato, tangível. Por exemplo, desenhar, pintar ou tocar algum instrumento musical.

Segundo Ziemer, esses comportamentos revelam que estes pais não tiveram, em suas infâncias, a oportunidade e o apoio para poderem viver seus talentos e capacidades inatas. Consequentemente, projetam em seus filhos as esperanças e frustrações que não resolveram em suas próprias vidas.

Por exemplo, muitos pais não tiveram a oportunidade de seguir a carreira que gostariam, ou por falta de suporte financeiro, ou emocional ou por alguma outra barreira. Neste caso, eles geralmente direcionam seus filhos para que realizem “seus sonhos abortados”, como uma maneira de se realizarem por meio deles. Essa “transferência” emocional e vocacional é mais comum do que se imagina, e pode ser entendida como uma forma de autorrealização vicária ou indireta. A mensagem por trás desta transferência é: “eu me realizo por meio de você”.

Lidando com as consequências

Quando falta consciência dessa dinâmica, filhos de pais emocionalmente imaturos podem se tornar pessoas que carregam um conflito silencioso entre quem realmente são (seus talentos e capacidades naturais) e o que realizam no mundo (suas escolhas de carreira).

Esse descompasso gera um alto nível de estresse e ansiedade, reduz a criatividade e prende o indivíduo a papéis ou carreiras que não geram autorrealização, mas que são mantidos por um sentimento de dever ou medo de decepcionar a expectativa dos pais. É muito provável, também, que seja uma das causas principais da síndrome de impostor (“estou enganando a mim mesmo e aos outros sobre quem sou e o que realmente gostaria de fazer”).

Com o tempo, esse conflito tende a se intensificar e, na meia-idade, costuma vir à tona precipitado pela “crise da meia idade”, uma crise de significado desencadeada por uma depressão, perda afetiva ou financeira, uma doença ou morte inesperada na família ou demissão.

“Muitos participantes do SoulWork chegam até nós exatamente neste momento de suas vidas”, afirma Ziemer. “Para que o programa atinja o seu objetivo, temos que fazer o trabalho de reflexão “de frente para trás”, ajudando cada participante a identificar em que momentos eles se distanciaram de si mesmos, para poderem sobreviver ou atender as expectativas dos pais”.

O especialista relata que as razões mais comuns para este “autoabandono” são:
- Falta de apoio para poderem expressar quem são, pressão familiar por questões financeiras ou de doença na família, continuidade de um negócio familiar, etc.
- Para os participantes que passaram por este tipo de experiencia, o objetivo do programa SoulWork é resgatar elementos essenciais de suas personalidades, incluindo identificar paixões e talentos inatos, além de sonhos e projetos que nunca tiveram a oportunidade de se transformarem em realidade.

Como agem pais emocionalmente maduros
1. Entendem que seus filhos são únicos em suas características de personalidade e tendência inatas, e não uma cópia ou uma extensão deles.
2. Desde o início da vida da criança, buscam identificar estas características únicas (interesses, talentos inatos, motivações) e apoiá-las, criando oportunidades para que a criança possa desenvolver cada vez mais estas características.
3. Permitem que seus filhos expressem quem são desde a mais tenra idade, incentivando a escolha de uma profissão que se alinhe com esta essência.
4. Deixam claro aos seus filhos que eles não precisam agradar ou atender suas expectativas para serem amadas, aceitas e reconhecidas.

Resultados positivos na vida e no trabalho

Com base nesta perspectiva, podemos compreender que muitos dos dilemas profissionais (e mesmo pessoais) que surgem na vida adulta têm raízes bem mais antigas do que imaginamos.

Nossa experiência mostra que, quando desde o início da vida não há separação entre quem a criança ou o jovem adulto é e aquilo que ele expressa ou faz no mundo, ocorre uma integração natural entre identidade e trabalho, entre vocação e escolha profissional.

Esse alinhamento é justamente o cerne do Programa SoulWork: ajudar a resgatar e ressignificar o conceito e a experiencia do trabalho em adultos que estão
enfrentando crises de significado.

O resultado: Aqueles que já passaram pelo programa relatam:

1) Maior autoconhecimento possibilitado pela estrutura cuidadosamente pensada do programa e pelos materiais de apoio que conduzem a uma jornada gradativa e segura de reflexão.
2) Clareza para revisitar e ressignificar a própria história profissional, fortalecendo pontos fortes e ampliando a consciência sobre o momento atual e os próximos passos de carreira.
3) Aumento da capacidade criativa e consciência de possibilidades profissionais (carreiras adjacentes) que não estavam claras antes do programa, em grande parte consequência da resolução de conflitos internos
paralisantes;
4) Um sentimento de acolhimento e pertencimento, fundamental para reduzir a sensação de solidão e falta de diálogos significativos nas transições mais
desafiadoras da vida;
5) Uma compreensão de que as necessidades básicas, especialmente as financeiras, precisam ser satisfeitas, mas não podem sobrepujar o desejo legitimo por um trabalho significativo, inspirado por um propósito.

De forma estruturada e orientada para o processo individual de cada participante, o programa SoulWork mergulha nessas questões (e muitas outras/ver programa), com o objetivo de transformar a crise ou insatisfação profissional numa oportunidade de escolher novos caminhos que gerem mais autorrealização e contribuição efetiva.

A próxima turma tem início em setembro. Para participar,
basta se inscrever no site: www.soulwork.com.br

Sobre o SoulWork - criado em 2024 por Mirella Ugolini e Roberto Ziemer, é um programa de desenvolvimento para executivos e profissionais experientes. Seu objetivo é alinhar trabalho e propósito, ajudando o profissional a conectar quem é com o que faz, por meio de suporte estruturado e personalizado para aprimorar a reflexão profissional e navegar por transições de carreira, transformando incertezas em oportunidades de crescimento. A jornada inclui conteúdos de livre acesso, encontros online e mentorias individualizadas, focadas na transformação e na definição de um caminho profissional que gere mais resultados e satisfação pessoal.