Híbrido ou presencial: como as empresas catarinenses têm se adaptado aos novos formatos de trabalho

A discussão sobre qual modelo de trabalho será o melhor para o pós-pandemia continua em 2022, dessa vez acompanhada com dados que tentam explicar o cenário atual. As informações, porém, são conflitantes: se por um lado estudos mostram que a maioria dos funcionários prefere o modelo híbrido, por outro já existem indicadores apontando que esse formato prejudicou a saúde mental de jovens colaboradores. No meio dessas incertezas e acompanhando tendências globais, empresas catarinenses têm assumido diferentes abordagens em relação ao assunto - da volta total ao escritório ao modelo anywhere office.

Híbrido x Presencial x Remoto: o que os dados apontam

No começo deste ano, a consultoria Robert Half divulgou, na 18ª edição do Índice de Confiança, que o modelo híbrido de trabalho será usado por 48% das empresas. Outro estudo, o “Impacto da Covid-19 na cultura e operação das PMEs brasileiras", desenvolvido pela agência de comunicação Edelman e encomendado pela Microsoft Brasil, mostrou que 7 em cada 10 trabalhadores de pequenas e médias empresas (PMEs) do Brasil preferem retornar ao trabalho presencial ou híbrido após o fim da pandemia e 11% querem ficar apenas em home office.

Porém, em contraponto ao que os dados vinham apontando, uma pesquisa feita pelo Grupo Adecco mostrou que 38% das pessoas ouvidas dizem ter sofrido da Síndrome de Burnout, ao longo do ano passado, e que 32% dos entrevistados informaram que a saúde mental piorou significativamente por conta do trabalho à distância. Outra pesquisa, realizada pelo Vagas.com — empresa de recrutamento —, indica que 32% dos entrevistados preferem atuar diretamente do escritório. Dentre os motivos que influenciam essa decisão os três mais elencados são: ter maior foco e concentração (37%), relacionamento presencial (32,6%) e, um ambiente adequado para trabalho (16,4%).

“As pesquisas podem ser aliadas dos gestores nas tomadas de decisões, mas é preciso ter conhecimento do que faz sentido para a empresa. Isso não significa que os dados não são confiáveis - pelo contrário. Porém cada organização tem uma demanda específica, rituais de trabalho e necessidades, que precisam ser levadas em consideração. Se não for assim, a chance de cair em modismos é grande”, pontua a Diretora de Pessoas & Cultura s no DOT, Ana Paula Lehmkuhl.

A seguir, os representantes das duas empresas compartilham qual modelo de trabalho foi adotado, explicam o que motivou a escolha e os resultados obtidos até agora.

Liberdade para trabalhar de qualquer lugar do mundo

Aproveitando o momento de rápida digitalização das empresas e buscando se consolidar nos mercados nacionais e internacionais, o DOT Digital Group aposta no modelo anywhere office para expandir sua atuação e contratar os profissionais mais capacitados do mercado. Além da sede em Florianópolis (SC), a empresa de educação corporativa opera também em cidades como São Paulo, Portugal e Boston.

O conceito “escritório em qualquer lugar” se diferencia do home office pois permite que o funcionário consiga exercer suas atividades apenas com um computador ou smartphone, utilizando plataformas e sistemas digitais. No DOT, desde que o modelo foi adotado, em março de 2020, o número de colaboradores cresceu de 230 para 351. Atualmente, o grupo conta com profissionais residentes em 15 estados brasileiros e 5 diferentes países.

Segundo o CEO, Luiz Alberto Ferla, antes mesmo da pandemia, as políticas da empresa já contavam com critérios de como fazer o trabalho a distância, ainda que em ocasiões pontuais. “Estamos há 25 anos no mercado e vimos no anywhere office uma forma de nos modernizamos. Hoje em dia, toda a estrutura do DOT é pensada para que o funcionário consiga exercer suas funções com mais liberdade. Entendemos que, se tínhamos como objetivo uma expansão internacional, adotar modelos de trabalho flexíveis e inovadores era uma forma de estarmos alinhados às nossas metas”, afirma.

Especialistas do grupo reforçam que a adoção do novo formato precisou ser acompanhada de adaptações no dia a dia da empresa. “Para que as empresas adotem modelos mais flexíveis de trabalho é preciso que estejam dispostas a mudar e a dar mais liberdade aos seus colaboradores permitindo que se sintam seguros e confiantes, sem muitos mecanismos de controle”, explica Ana Paula Lehmkuhl.

De acordo com a gerente, as empresas que querem migrar para o modelo anywhere precisam deixar claro aos seus colaboradores o que eles precisam entregar e o que é esperado deles. “A simples adoção de um novo jeito de trabalhar não é sinônimo de sucesso para a organização ou para os funcionários. Ela precisa acontecer de forma bem estruturada e fomentar a confiança entre todas as partes envolvidas no processo”, complementa.

Trabalho presencial constrói uma cultura empresarial sólida e perene

Na contramão de algumas empresas de tecnologia, a Magazord Digital Commerce — desenvolvedora de uma plataforma e serviço completo para lojas virtuais, optou por adotar 100% o modelo de trabalho presencial. Em 2020, na primeira onda da pandemia de Covid-19, a empresa se adaptou ao home office, mas já se preparou para o retorno ao escritório. Para isso, ampliou uma reforma da sede, em Rio do Sul, interior de Santa Catarina, iniciada ainda em 2019.

Atualmente, a empresa possui infraestrutura de trabalho para 550 pessoas, além de um espaço externo com quadra de vôlei de areia, campo de futebol e churrasqueira. De acordo com Ioná Göedert, co-fundadora, Diretora Financeira (CFO) e Diretora de Pessoas da Magazord, a cultura empresarial sempre foi um dos pilares para a instituição. “No início de 2020 já tínhamos uma solução robusta para e-commerce e, quando a pandemia forçou os lojistas a olharem para o mundo de vendas virtuais, nossa empresa cresceu muito rápido. Consequentemente, o número de colaboradores também aumentou. No fim de 2019, nossa equipe era composta por 25 pessoas, hoje somos 222”, explica.

Para administrar esse crescimento de 788% no quadro de funcionários e proporcionar uma ótima experiência de trabalho, Göedert considera que foi essencial ter uma infraestrutura dedicada a isso. Como uma sala do ‘soninho’, happy hours com churrasco e cerveja, times internos de vôlei de praia e futebol, confraternização mensal e o Magachef — grupo de colaboradores que se reúne para cozinhar na sede. “Além dessas iniciativas, mantemos flexibilidade de horário, incluindo saída às 16h nas sextas-feiras. Também presenteamos cada um no dia de aniversário e temos um Programa de Participação de Resultados, onde o colaborador pode ganhar até cinco salários a mais por ano”, complementa a Diretora de Pessoas.

A co-fundadora da Magazord também reforça que a decisão pelo modelo de trabalho presencial foi particular à cultura da empresa. “Em nosso contexto, o trabalho presencial cria um senso de coletividade e unidade do time muito maior do que quando estávamos no modelo remoto, além de proporcionar mais foco e produtividade. No fim do dia, batemos o ponto com a certeza que estamos construindo uma cultura organizacional sólida e perene”, finaliza.

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