Porque as pesquisas de opinião falham, segundo Pierre Bourdieu
Para sociólogo francês, institutos de pesquisa não traduzem exatamente as ideias que as pessoas possuem
Em 2016, a London School of Economics, da Inglaterra, publicou uma pesquisa em que mostrava que o sociólogo francês Pierre Bourdieu era um dos 20 autores mais citados do planeta entre cientistas sociais. Seu livro La Distinction. Critique sociale du jugement (Distinção: uma crítica social do julgamento do gosto), traduzido no Brasil pela primeira em 2007 e publicado na França em 1979, o transformou quase em um “superstar” da sociologia, citado da faculdade de direito à de psicologia, dos cursos de economia à filosofia.
Bourdieu, porém, escreveu diversos estudos sobre outros temas, como a comunicação e o machismo. Em 1973, ele publicou um artigo famoso entre jornalistas e cientistas políticos chamado provocativamente de A opinião pública não existe, cujo objetivo era demonstrar como, ao contrário do que se tornou comum nas democracias ocidentais, os institutos de pesquisa falham quando tentam mensurar as intenções de votos das pessoas.
O sociólogo francês ampara sua argumentação em três postulados. O primeiro é que qualquer pesquisa de opinião supõe que todo mundo pode ter uma opinião. O segundo, que supõe-se que todas as opiniões têm valor" e, enfim, o terceiro, é que, pelo simples fato de se colocar a mesma questão a todo mundo, está implícita a hipótese de que há um consenso sobre os problemas, ou seja, que há um acordo sobre as questões que merecem ser colocadas em questão.
Para Bourdieu, frequentemente a resposta em uma pesquisa é induzida através da maneira como a pergunta é colocada. Assim, por exemplo, transgredindo o preceito elementar da construção de um questionário que exige que se "dê oportunidade" a todas as respostas possíveis, omite-se frequentemente nas questões ou nas respostas propostas uma das opções possíveis, ou ainda, propõe-se muitas vezes a mesma opção sob formulações diferentes.
Existem vários vieses em questionários de pesquisas de opinião e eles estão constantemente ligados às pessoas que os produzem ou, principalmente, às problemáticas fabricadas pelos institutos de opinião presos em demandas particulares.
Ele exemplifica com o fato de que, antes de 1968, apenas cerca de 20 perguntas sobre o sistema estudantil francês foram feitas às pessoas do país e que, depois daquele ano, em que se passaram revoltas históricas em Paris lideradas pelo movimento estudantil, essas perguntas alcançaram 200 formulações. Ou seja: os institutos de opinião passaram a se interessar pela demanda estudantil apenas depois que ela alçou uma nova posição mediante os protestos daquele ano.
Mais do que isso, as perguntas formuladas sobre o sistema estudantil pós-1968 tinham vieses altamente políticos. Afirma Bourdieu no texto que "se esta noite quiséssemos nos divertir brincando com papeizinhos e se eu lhes dissesse para escrever as cinco questões que lhes parecem mais importantes sobre o ensino, seguramente obteríamos uma lista muito diferente da que obtemos a partir das questões que foram efetivamente colocadas pelas pesquisas de opinião".
"As problemáticas que são propostas pelas pesquisas de opinião se subordinam a interesses políticos, e isto dirige de maneira muito acentuada o significado das respostas e, ao mesmo tempo, o significado dado à publicação dos resultados. Em seu estado atual, a pesquisa de opinião é um instrumento de ação política; sua função mais importante consiste talvez em impor a ilusão de que existe uma opinião pública que é a soma puramente aditiva de opiniões individuais", completa.
A opinião pública, na visão do autor francês, é posta como "pura" e "simples" nos jornais, mas na realidade é um sistema de forças e de tensões, algo que não pode ser medido por percentagens. Ou seja, há várias opiniões em uma sociedade que entram em conflito constantemente, de modo que não é possível encontrar um dado matemático que reflita essas lutas. Para ele, o efeito fundamental das pesquisas de opinião é legitimar a força de quem e exerce para determinado lado.
"O efeito fundamental da pesquisa de opinião é constituir a ideia de que existe uma opinião pública unânime, portanto, legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundamentam ou a tornam possível", afirma.
A conclusão do artigo é que a opinião pública não existe, pelo menos na forma que lhe atribuem os que têm interesse em afirmar sua existência. Bourdieu até concorda que existem opiniões constituídas, mobilizadas, grupos de pressão mobilizados em torno de um sistema de interesses explicitamente formulado, mas acredita que, por outro lado, disposições que, por definição, não constituem opinião, compreendem alguma coisa que pode ser formulada num discurso com uma certa pretensão à coerência.
"Esta definição da opinião não é a minha opinião sobre a opinião. É simplesmente uma explicitação da definição revelada através das próprias pesquisas de opinião, ao pedirem às pessoas para tomarem posição sobre opiniões formuladas, e ao produzirem, através de simples agregação estatística as opiniões assim produzidas, este artefato que é a opinião pública. O que digo é apenas que a opinião pública na acepção que é implicitamente admitida pelos que fazem pesquisas de opinião ou utilizam seus resultados, esta opinião não existe", finaliza.
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