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Minha doença tem nome

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O que muda na vida de quem recebe o diagnóstico de uma doença rara

O Ministério da Saúde aponta que existem de 6 mil a 8 mil doenças raras, considerando-se para essa classificação enfermidades que acometem 65 pessoas em cada 100 mil, ou 1,3 indivíduos em cada 2 mil. Mas, se por um lado o diagnóstico dessas doenças não é comum, os sintomas de grande parte delas são parecidos com os que indicam enfermidades mais frequentes. Essa é uma das razões que dificultam muito o diagnóstico precoce das doenças raras, o que além de prolongar o sofrimento dos pacientes, atrasa o início de tratamentos, quando estes existem[1].

Receber o diagnóstico de uma doença rara, ao mesmo tempo que pode gerar um impacto negativo, significa também o fim de uma jornada em busca de respostas que justifiquem problemas de saúde até então inexplicáveis.

A assistente administrativa Ângela Maria, atualmente com 57 anos, levava uma vida normal e aparentemente saudável até os 24 anos quando uma dor abdominal insuportável e sem motivo aparente, seguida de vômito e diarreia, fez com que ela fosse levada às pressas ao hospital em estado grave, onde foi submetida a um procedimento cirúrgico de emergência para sanar uma inflamação aguda no pâncreas.

Depois de 19 dias de internação, sendo 5 deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), exames clínicos comprovaram níveis altíssimos de triglicérides, o que explicava a pancreatite aguda, mas somente após passar por outros especialistas é que Ângela chegou a um profissional que se dedicou a investigar seu histórico familiar - que conta com diversos casos de dores abdominais intensas e até óbitos por causas desconhecidas -, e chegou ao diagnóstico de síndrome da quilomicronemia familiar (SQF).

A doença, que é genética, rara e hereditária, tem como principal característica a produção de níveis elevados de triglicérides, que são as gorduras encontradas nos alimentos e que, em condições normais, se transformam em energia para o organismo[2].

A pancreatite aguda é a principal consequência da doença e também a mais grave. O acúmulo de gordura leva à obstrução dos vasos sanguíneos do pâncreas, impedindo a circulação do sangue, o que causa a inflamação do órgão, dores incapacitantes e pode até levar à morte[1,3].

Quando finalmente chegou ao diagnóstico, Ângela se deparou com dois sentimentos: o alívio por saber que seu problema de saúde tinha uma explicação e a certeza de que sua vida mudaria para sempre a partir daquele momento.

"Eu nunca havia feito um exame para triglicérides antes. Tinha uma vida normal e saudável até aquele episódio que me levou ao hospital no auge da minha juventude. Depois de um longo caminho passando por vários especialistas, descobri que por causa da SQF eu teria que fazer uma reeducação alimentar radical, e que isso interferiria na minha vida como um todo. Mas, saber que minha doença tem um nome e um protocolo foi fundamental para eu entender qual caminho seguir, e isso faz toda a diferença para minha qualidade de vida", afirma Ângela.

A SQF se origina a partir de uma falha no gene responsável pela produção da enzima lipoproteína lipase (LPL) ou por falhas em outros genes associados à LPL[4]. Isso provoca um acúmulo de partículas de gordura que transportam os triglicérides pelo sistema sanguíneo e que se chamam quilomícrons. O excesso de quilomícrons eleva muito as taxas de triglicérides, o que pode causar dores abdominais, pancreatites, alterações na retina e xantomas eruptivos, que são lesões na pele ocasionadas pela deposição de gorduras. Para minimizar as complicações da SQF, o paciente deve se submeter a uma dieta muito restrita por toda a vida[1].

Níveis considerados normais de triglicérides no sangue ficam em torno de 150mg/dL. Na SQF essa taxa fica acima de 880mg/dL, podendo até ultrapassar 10.000mg/dL[1].

"As restrições à ingestão de gordura para quem tem SQF não se reduzem apenas a uma reeducação alimentar. Essa limitação afeta o convívio social, já que a pessoa geralmente não pode participar, da mesma forma que as outras, de jantares, almoços, festas familiares ou corporativas. Os episódios de desarranjo intestinal e dores abdominais também podem causar desconforto e até algum constrangimento em diversas situações. Sair da dieta pode colocar a vida da pessoa em risco", pondera a cardiologista Maria Cristina Izar.

A especialista ressalta a importância do diagnóstico precoce para que o paciente inicie a dieta restrita em gordura o quanto antes, prevenindo, assim, as consequências que as altas taxas de triglicérides podem causar. "Nas formas mais graves, a SQF já pode se manifestar desde o nascimento. Neste caso, bebês não podem se alimentar do leite materno, por exemplo", aponta Maria Cristina. Dependendo da alteração genética e de fatores associados, a doença pode se manifestar na infância, adolescência ou fase adulta, geralmente, até a terceira década de vida[5].

"Depois de passar por diversas etapas e até mesmo por fases de depressão profunda, hoje convivo bem com minha condição. Conto muito com o apoio e compreensão da minha família, amigos e colegas de trabalho. No primeiro momento, não foi fácil saber que tenho uma doença que afeta 1 pessoa em cada um milhão. Mas, passada a fase do ‘por que comigo?’ considero que conhecer a doença e receber as orientações corretas para conviver com ela foi o melhor que poderia ter me acontecido, dentro desta realidade. Me considero uma pessoa feliz", finaliza Ângela.

Referências
[1]Ministério da Saúde. Doenças raras Disponível em: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/doencas-raras Acesso em 16 de setembro de 2020.
[2]Falko JM. Familial Chylomicronemia Syndrome: A Clinical Guide For Endocrinologists. Endocr Pract.
2018;24(8):756-763.
[3]Chyzhyk V, Brown AS. Familial chylomicronemia syndrome: A rare but devasta?ng autosomal
recessive disorder characterized by refractory hypertriglyceridemia and recurrent pancrea??s.
Trends Cardiovasc Med. 2020;30(2):80?85.
[4]Baass A, Paquette M, Bernard S, Hegele RA. Familial chylomicronemia syndrome: an under-recognized cause of severe hypertriglyceridaemia [published online ahead of print, 2019 Dec 16]. J Intern Med. 2019;10.1111/joim.13016.
[5]Sugandhan S, Khandpur S, Sharma VK. Familial chylomicronemia syndrome. Pediatr Dermatol.
2007;24(3):323?325.


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