Brasil,

Melhor comportamento, menor endividamento!

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Instituto Presbiteriano Mackenzie
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Artigo resumo de trabalho premiado pelo Infi-Febraban de 2020

Denis Forte
Silvia Franco de Oliveira

A importância da educação financeira foi reconhecida de forma progressiva desde 2003-2004, e reforçada após a crise de 2007-2008 pelos governos de diversos países. O principal pilar filosófico é que a alfabetização financeira contribui para a mudança da qualidade de vida de todos os envolvidos.

A OECD tem feito um acompanhamento da evolução do conhecimento de estudantes do ensino médio em todo o mundo. Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2018 apontam que 68% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade enfrentam situação de incapacidade para compreender textos e resolver problemas de cálculo, além de questões científicas rotineiras. Vale perguntar, até que ponto o jovem de 15 anos adquire conhecimento e habilidade essencial para a vida social e econômica?

Em pesquisa realizada em 2015, a OECD/INFE avaliou a alfabetização financeira de adultos (18 a 79 anos) em 30 países e economias. O Brasil ficou na 26ª posição, possuindo pontuação abaixo da média nos três indicadores: conhecimento, comportamento e atitude. Além disso, os brasileiros que se consideravam ter níveis elevados de conhecimento financeiro efetivamente não possuiam, sugerindo um excesso de confiança. O excesso de confiança é um problema, uma vez que essas pessoas podem acreditar que são capazes de tomar decisões realizando negócios que parecem bons quando, na verdade, esses negócios são fraudulentos.

Em resumo, o Brasil está bem atrás nos indicadores sociais e de alfabetização financeira, e isso é um problema muito sério. Pessoas com baixo nível de alfabetização financeira tomam empréstimos mais caros no crédito ao consumidor, adquirem produtos financeiros inadequados por terem conhecimento limitado, não solicitam informações sobre os produtos financeiros adquiridos, e aumentam a probabilidade de uso de empréstimos informais. De maneira geral, pode-se concluir que se a pessoa possui baixo nível de alfabetização financeira, é mais provável que tenha menos riqueza, obtenha produtos financeiros mais caros e inadequados, e esteja mais endividada.

Pessoas com melhor nível de alfabetização financeira têm menor probabilidade de inadimplência nos compromissos de crédito, exigindo serviços financeiros de maior qualidade, o que incentiva a concorrência e a inovação no mercado financeiro, melhorando a estabilidade econômica e financeira do país.

A alfabetização financeira é tida como preventiva no processo de pré-endividamento, via planejamento orçamentário, permitindo escolher opções de dívidas mais baratas e formas de controle dos gastos para ter recursos suficientes destinados a cumprir seus compromissos financeiros. Ela se constitui em um importante elemento de estabilidade e desenvolvimento econômico e financeiro, principalmente com as transformações que ocorreram nas últimas décadas, tais como, a redução dos sistemas de apoio público e privado (aposentadoria, saúde e educação), mudanças no perfil demográfico (aumento da longevidade e redução da natalidade), mudanças no mercado de trabalho (aumento da participação de mulheres e trajetórias variadas na vida profissional) e a evolução do mercado financeiro (desenvolvimento tecnológico e aumento de produtos e serviços financeiros).

A alfabetização financeira vai além da ideia de educação financeira, utilizando não apenas o conceito de conhecimento financeiro, mas também conceitos mais amplos, como comportamento e experiências financeiras.

O conhecimento financeiro é um tipo de capital humano que se adquire ao longo do ciclo de vida, por meio do aprendizado de disciplinas que influenciam a capacidade da pessoa em gerir efetivamente suas receitas, despesas e poupanças. Alguns estudos buscaram avaliar como a pessoa adquire esse conhecimento e sua influência na gestão de recursos, concluindo que o engajamento dos pais na socialização financeira de seus filhos e a exposição e uso de produtos financeiros melhoram o conhecimento e as habilidades em administrar bem o dinheiro.

Entretanto, o conhecimento financeiro não é suficiente para a pessoa apresentar resultados satisfatórios. O comportamento financeiro é outro elemento essencial da alfabetização financeira, uma vez que os resultados positivos são impulsionados pelo comportamento financeiro. De forma simplificada, este comportamento nada mais é do que as ações que as pessoas realizam nas áreas de consumo, poupança e empréstimos. A capacidade de administrar o dinheiro é um fator explicativo do comportamento do patrimônio líquido doméstico e do endividamento do consumidor. Pessoas que têm controle de suas ações ligadas à esfera financeira evitam preocupações relacionadas ao pagamento da dívida e têm maior bem-estar financeiro, uma vez que o planejamento financeiro é orientado para o uso de informações e a captação de decisão racional, ajudando a administrar emoções em relação ao dinheiro. Pessoas que apresentam comportamento de compra compulsiva apresentam maior propensão ao endividamento. Intervenções cognitivo-comportamentais podem reduzir a compulsividade e, consequentemente, as dívidas.

Em pesquisa realizada envolvendo estudantes de graduação em ciências sociais de uma universidade privada, foi analisada a influência do comportamento e do conhecimento sobre o nível de endividamento. A proposta desse estudo foi trabalhar num segmento específico, o da classe média, com certo conhecimento, nível educacional e renda, que lhe permite a tomada de decisão.

Foram analisados quatro aspectos de comportamento financeiro: avaliação das condições de crédito, planejamento de compra, gestão financeira e investimento. O estudo indica que a avaliação das condições de crédito e o planejamento de compra influenciam no nível de endividamento do estudante. Quanto mais o estudante analisa as condições de crédito e se pauta em uma decisão racional em suas compras, menor é seu nível de endividamento. Porém, planejar e controlar seus gastos, bem como seus investimentos não influencia o nível de endividamento dos estudantes de forma significativa.

Diferentemente das conclusões de outros estudos, o nível de conhecimento financeiro influencia de forma positiva o nível de endividamento. A hipótese explicativa para essa relação pode vir do excesso de confiança.

Ao comparar o comportamento do grupo dos mais endividados com o grupo dos menos endividados, a conclusão é de que os menos endividados apresentam um melhor comportamento financeiro. Eles planejam melhor suas compras e seus investimentos; apresentam melhor comportamento de avaliação de crédito e promovem uma gestão financeira mais adequada de seus recursos. Já o grupo dos endividados possui maior nível de conhecimento financeiro.

Independente de o grupo possuir menos ou mais dívidas, o aumento da renda aumenta o nível de endividamento e conhecimento do estudante. O fato de o estudante possuir uma ocupação profissional exerce um aumento do conhecimento financeiro em virtude de seu contato com novas experiências no ambiente de trabalho e em sua vida pessoal.

Apesar de os estudantes com idade superior a 20 anos apresentarem maior conhecimento financeiro do que os estudantes com idade até 20 anos, seu comportamento e seu nível de endividamento são semelhantes. Talvez porque a diferença de idade seja muito pequena entre os dois grupos, visto que 89% são estudantes com idade até 25 anos.

A pesquisa também indica que não há diferença no nível de endividamento e no nível de conhecimento de acordo com o gênero. O que sobressai é o fato de as mulheres apresentarem um comportamento mais adequado do que os homens no grupo dos estudantes mais endividados. Em outras palavras, o grupo feminino apresenta melhor planejamento de compra, gestão financeira e investimento.

De modo geral, a análise desse trabalho gera alto impacto em procedimentos educacionais na sociedade. Ao dar mais enfoque ao comportamento que ao conhecimento, como seu antecessor, há que se trabalhar com metodologias ativas e educação transformadora. O foco está mais na conscientização do estudante do que em fornecer conhecimento.

Essa pesquisa abre oportunidades para sondar diferenças entre os diversos grupos e populações, mas também permite propostas concretas, a nível social. Os agentes econômicos, por exemplo, deveriam focar mais em conhecer seus clientes no aspecto comportamental do que em seu conhecimento. As regras de suitability, por exemplo, devem se atualizar para capturar mais essa dimensão e serem mais efetivas na prevenção de más condutas ou erros de gestão. E, comercialmente falando, serviços financeiros mais customizados e apropriados aos indivíduos, permitem menor risco coletivo e melhor qualidade de vida individual e geral.

Agradecimentos ao Mackpesquisa e ao IPM pela concessão de verbas para a pesquisa e ao Infi-Febraban pela premiação e divulgação do trabalho.

Denis Forte é Pós-Doutor pela Strathclyde Business School e professor do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas (PPGA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Silvia Franco de Oliveira é Mestre em Administração de Empresas pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas do Mackenzie e Professora do Centro de Ciências Sociais da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.


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