Novas tecnologias e novos hábitos

A Empresa de Inteligência de Negócios (Empresômetro), publicou recentemente que a tecnologia no Brasil ultrapassou os 118% nos últimos 10 anos. O ramo tecnológico é também responsável por 310% das vagas de emprego em 2020. Assistir televisão, pegar o elevador, preparar uma comida e lavar roupas na máquina, parecem atividades básicas do dia a dia de qualquer cidadão.

Algumas pessoas não sabem como estas práticas foram responsáveis por mudanças na forma que as sociedades vivem e se relacionam. A tecnologia tem avançado de forma gradativa no mundo, junto à sua evolução, vem também as novas formas de diálogo e ações humanísticas de modo geral.

“Antes dessas invenções, a vida era diferente, tinha outro sentido. Um bom exemplo, é a criação da máquina de lavar roupa. Ela fez com que as mulheres tivessem tempo livre, numa família de seis pessoas, que era o padrão, até pouco tempo atrás, a mulher passava o tempo todo lavando roupas”, analisa o professor e filósofo, Marcelo Galuppo.

Com um novo jeito de lavar as roupas sujas, ela consegue um tempo livre que outrora não tinha, inclusive, para entrar no mercado de trabalho. Segundo o filósofo, as relações interpessoais também foram alteradas. “Isso mudou as relações sociais, entre homem e mulher, principalmente. A casa deixou de ser o reino de feminino e o trabalho, o reino masculino”, completa.

Atualmente, é comum que pessoas preparem a própria refeição em casa, até mesmo para economizar, porém, nem sempre foi assim. Segundo o especialista, “em Roma, no século II, somente as pessoas ricas cozinhavam em casa. A classe média baixa comia na rua. Fogão, mesmo a lenha, era um luxo dos ricos. Quando ter um fogão na residência se tornara acessível, a maioria passou a preparar comida em casa e frequentar restaurantes tornou-se um evento menos comum, as pessoas iam somente em ocasiões especiais, seja para festejar ou encontrar amigos”.

Outra mudança gradativa da tecnologia, que afetou os indivíduos, foi a televisão. Marcelo analisa que “ela impactou a vida das famílias. Entretanto, a mudança ocasionada pelo aparelho, logo deixou de ser rotina, com o surgimento do micro-ondas. Por exemplo, Bauman fala que o eletrodoméstico mais típico dos anos 60 era um eletrodoméstico que juntava as pessoas, a televisão. Cada casa tinha um aparelho e quando ele era ligado, todo mundo se reunia”. Com o surgimento do novo eletrodoméstico, as prioridades nas reuniões familiares mudaram novamente.

“Na nossa sociedade contemporânea, o eletrodoméstico mais exemplar de como que nós nos organizamos socialmente é o micro-ondas. Ele faz com que as pessoas que moram na mesma casa não precisem se encontrar mais na hora do almoço ou na hora do jantar. Então, cada um pode ter o seu reino”, esclarece o filósofo.

Vacina e o vínculo familiar

Com a pandemia do novo Coronavírus e a criação da vacina para controlar a doença, a vacinação passou a ser assunto e teve sua importância enaltecida. Mas, outro fato interessante sobre o assunto é que desde a criação dos remédios e vacinas, as relações entre pai e filho mudaram.

“Os vínculos entre pais e filhos, o amor familiar, é uma invenção do século XX. Antes, era comum que os filhos morressem antes que os pais, logo, evitavam-se criar relações próximas, pois, o pai sabia que o filho era vulnerável e com a saúde mais debilitada. Com a criação de medicamentos e vacinas no início do século XX, os filhos passaram a viver mais, então, a possibilidade de viver mais tempo juntos, tornou as relações entre pais e filhos mais estáveis e amorosas”, afirma.

Com o uso dos remédios para tratar doenças e ter uma qualidade de vida melhor, os filhos passaram a viver mais que os pais, logo, se observar o contexto da pandemia, uma doença que não havia vacina, pais tiveram que enterrar filhos, o que causou estranhamento. “Este é um exemplo de como invenções podem mudar hábitos e a falta ou substituição de determinada invenção pode mudar a maneira de viver em determinada sociedade", elucida o profissional.

Fonte: Marcelo Galuppo é filósofo e professor universitário - filosofia do direito. Professor há 25 anos, graduado pela PUC em Direito e fez filosofia do Direito pela UFMG. Além disso, escreveu livros técnicos, tais como; 1999 - Igualdade e Diferença e Metodologia de Pesquisa - Da ideia a defesa: o Impeachment. E mais recentemente o lançamento do livro “Um dia sem reclamar”, com Davi Lago (@prof.marcelo.galuppo).