Analfabetimos funcional: passar pela escola não significa, necessariamente, que o aluno aprendeu
Especialistas defendem alfabetização intencional e políticas públicas com foco em formação docente e responsabilização escolar
De acordo com Cris Tempesta, diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho de São Paulo e doutora em Educação pela Unicamp, os analfabetos funcionais são aqueles que não sabem ler e escrever ou não conseguem compreender pequenas frases ou identificar números. Para ela, o dado reforça o que já se sabe: passar pela escola não significa, necessariamente, que o aluno aprendeu.
“Temos então as pessoas que ‘passam pela escola’, mas a escola não deixa nelas o legado ao qual os alunos têm direito. E sem esquecer que não temos outra instituição que sistematiza a alfabetização — a escola tem esse papel, ela tem exclusividade”, destaca Tempesta.
Segundo a especialista, a alfabetização efetiva depende de uma série de fatores que precisam estar presentes desde os primeiros anos da Educação Infantil. A escuta diária de textos literários lidos pelos professores, por exemplo, contribui para ampliar o vocabulário, desenvolver repertório cultural e apresentar referências sobre o texto escrito. Mas isso, segundo ela, ainda não é suficiente. “É preciso intencionalidade pedagógica, mediação sistemática e planejamento cuidadoso”, reforça.
“O que fica cada vez mais evidente é que os alunos são alfabetizados — ou não — pela escola. Não cabe dizer que ‘eles não se alfabetizam’, como se fosse um processo solitário. Da mesma forma que temos especialistas para cuidar da saúde física, temos professores especialistas em alfabetização, que precisam ser formados para isso”, afirma Tempesta.
A metáfora usada pela educadora é contundente: “Os analfabetos funcionais equivalem aos pacientes que sofreram negligência médica nos hospitais por que passaram e carregam sequelas.” Para ela, respeitar os professores é também responsabilizá-los adequadamente, assim como se faz com médicos, engenheiros ou qualquer outro profissional que lida com vidas e futuros.
Na mesma linha, o especialista em educação Vitor Azambuja, CEO e um dos criadores do programa De Criança Para Criança, defende que a alfabetização deve ser vista como um compromisso coletivo — da escola, dos professores, mas também do poder público. Para ele, além do trabalho em sala de aula, é preciso que governos invistam em campanhas públicas para incentivar adultos a procurarem instituições onde possam aprender a ler e escrever.
“Promover a leitura, a escrita focando no pensamento crítico e interpretação de texto. Promover trabalhos em grupo e análises de texto. Mas não é só isso. Apostaria em uma forte campanha governamental para que indivíduos procurem escolas e instituições para aprender a ler e a escrever. A maioria da população adulta não sabe onde encontrar o lugar certo para aprender”, afirma Vitor Azambuja.
Ele também critica a forma como alguns estados e municípios criam programas de bonificação baseados em índices de aprovação, sem considerar o real aprendizado. Segundo Vitor, isso pode levar à manipulação dos dados e à aprovação automática, criando uma falsa sensação de progresso.
“Não é aceitável que um jovem chegue à faculdade sem saber interpretar um texto. Isso é um problema que deve ser resolvido na educação básica. É fundamental capacitar o professor e remunerá-lo suficientemente bem para que o real compromisso dele seja com a educação dos alunos, mesmo que custe a reprovação”, destaca Vitor. E como conclui Tempesta, alfabetizar é tarefa da escola, mas com apoio, respeito e exigência de compromisso profissional.
Dados recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgados pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, mostram que 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos é considerada analfabeta funcional – o mesmo patamar registrado em 2018. Ou seja, quase um terço da população não compreende textos simples nem é capaz de realizar operações básicas com números.
Sobre Cris Tempesta
Diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho de São Paulo, doutora em educação pela Unicamp, membro do grupo AULA (Trabalho Docente na Formação Inicial), além de co-autora do Sistema Anglo de Ensino, Língua Portuguesa para as séries iniciais.
Sobre Vitor Azambuja
Especialista em educação, Vitor Azambuja é um dos criadores do programa De Criança Para Criança, além de diretor criativo da empresa. Formado em publicidade e piano clássico, foi premiado em festivais de propaganda, tais como Figueira da Foz, Colunistas, Clube de criação de São Paulo, Art Directors em Londres e New York Festival. Realizou exposições de pinturas em São Paulo, Rio de Janeiro, Nova Iorque, Miami e Paris.
Sobre a Escola Lourenço Castanho
Oferece um projeto pedagógico inovador, que extrapola o trabalho com os conteúdos produzidos pelas grandes áreas do conhecimento, investindo também no desenvolvimento da autonomia e da crítica, na análise da dimensão social construída pelos estudantes e na vinculação com o saber. Ao longo dos anos, a Escola mantém o compromisso com seus princípios, consolidando a formação integral como a base de seu projeto pedagógico-educacional.
Sobre o De Criança para Criança
O programa De Criança para Criança oferece um leque de metodologias de educação híbrida para escolas de todo o mundo. Do futuro para a escola, a proposta da startup é oferecer às crianças a oportunidade de serem protagonistas, colocando-as no centro da aprendizagem. Através de uma plataforma simples, os professores são orientados a serem mediadores, fazendo com que os próprios alunos desenvolvam conhecimento sobre temáticas diversas. A partir de discussões, constroem coletivamente histórias, fazem desenhos e gravam locuções relativas às narrativas criadas, que posteriormente serão transformadas em animações feitas pelo DCPC, expandindo os horizontes educacionais.
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