Monitoramento de estudantes: necessidade ou invasão de privacidade?

Mesmo com o aparente arrefecimento da pandemia, parece que os estudantes de todos os níveis deverão continuar com atividades a distância durante muito tempo. Universidades europeias e americanas que recentemente retomaram atividades presenciais, já voltaram ao ensino a distância de forma integral, em função do recrudescimento da covid-19, com a chegada da segunda onda de contaminações.

Diante dessa realidade, algumas universidades do exterior estão implementando ferramentas para acompanhar seus estudantes na execução de suas atividades. Talvez a mais comum dessas ferramentas seja o aplicativo Proctorio, que os estudantes devem obrigatoriamente instalar em seus computadores e celulares para poderem acessar as aulas, atividades e material disponibilizado por seus professores. Também vêm sendo bastante usados os aplicativos similares Honorlock e ProctorU .

Enquanto os alunos assistem aulas e realizam tarefas, são acompanhados por essas ferramentas através do monitoramento de microfones, teclados e câmeras e de eye-tracking, técnica que mostra para onde os olhos do estudante estão voltados. Os aplicativos usam Inteligência Artificial para apontar o que vem sendo chamado de "atividades suspeitas", dentre elas fraudes em provas online, plágio e utilização de aplicativos estranhos à atividade que os alunos deveriam desenvolver naquele momento, como acesso às redes sociais e jogos, por exemplo.

Com o aumento de instituições de ensino implantando esses aplicativos, observa-se que alunos estão reagindo à sua utilização, alegando basicamente invasão de privacidade. Algumas das universidades em que há essa reação são de países como Austrália, Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Itália.

No sentido oposto, professores que atuam no ensino superior quase sempre concordam com as palavras da Professora Grady Venville, uma das dirigentes da Australian National University, recomendando aos alunos queixosos que "se concentrem em seus estudos, preparando-se para os exames que se aproximam", deixando implícito que as reclamações devem-se mais à perda das facilidades que as atividades online oferecem aos alunos do que às preocupações com privacidade.

É oportuno lembrar que empresas estão utilizando ferramentas similares para acompanhamento de seus funcionários em home office.

De qualquer forma parece que estamos cada vez mais próximos do Big Brother de George Orwell.

Vivaldo José Breternitz é Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.