O Brasil terá o arquétipo Macron?
Quando o futuro é somente névoa densa, podemos pensar em dois tipos de solução: autoritária ou inteligente, livre. A primeira é bem conhecida dos brasileiros. A segunda um sonho, que se realizou na França. Se políticas são nuvens, como dizia Ulisses Guimarães, nelas moram os sonhos. Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.
Um jovem de 39 anos, filósofo (Platão?), que há três anos era desconhecido, voltou-se a política e resgatou o maior êxito de todos os tempos. Desancou Marine Le Pen e, mais importante, foi carregado em triunfo no Louvre, para uma grande massa desconhecida, composta por muitos jovens, de uma tendência centrista, que parece ganhar um estofo teórico. As propostas de sistemas não são mais privilégio dos extremos.
Venerandos comunistas deram-se à fuga; ecologistas saíram em debandada. A direita ultrarradical de Marine Le Pen, derrotada de modo acachapante, em sua redoma de riqueza, os socialistas se transformaram numa espécie em extinção e a direita republicana tradicional restou cindida em três partes. Enfim, uma revolução política do século 21, em moldes estritamente democráticos, como esperam os brasileiros.
Calou-se a academia de sociologia política. Nada mais é previsível. Os tradicionais partidos de direita e esquerda que se revezam a cada cinco anos foram pulverizados. Nesse ramerrão, em breve a política francesa seria o museu do mundo.
A "classe" política, que não tem justificativa para existir, foi para casa. Entre 577 integrantes da Câmara dos Deputados, de 400 a 450 deputados novos ficaram com o jovem polido, que não se mete a polêmicas, não agride, mas defende firmemente um partido formado há poucos meses: "A República em Marcha", aqui certamente recebível sob galhofas. Contudo, a prosopopeia do nome demonstrou que tinha sentido, que a "res publica" de hoje marcha e pode fazê-lo avassaladoramente.
A maioria parlamentar é absolutamente invejável. Com isso, Macron está credenciado a produzir sua política pragmática em parceria com os alemães e sanear a economia francesa; ainda que sob sacrifícios impostos pelo modelo de autoridade, sua imensa massa de seguidores parece estar disposta a dar seu contributo temporário em favor de dias melhores. Isso jamais aconteceu em semelhantes experiências. A oposição ocupa em lamber suas feridas, não terá condições de liderar os contrários.
Assume com o porte de insignes lideranças, qual o líder de guerra De Gaulle e François Miterrand, sem as credenciais de relevantes serviços patrióticos. Diz-se que será um presidente "jupiteriano". Júpiter, Deus dos Deuses, massacrará a rival Juno, representante do mal. E os demais serão conhecidos coadjuvantes mitológicos.
Circunstâncias como essas são capazes de fazer o que nos parece impossível. Salvar o Brasil. A salvação não vem de nenhum homem, como Macron. Mas do arquétipo que ele representa como "vis attractiva" (força de atração), em torno de cujo eixo militarão as massas que vão às ruas, porém sem um projeto de poder. Esse projeto é o do equilíbrio de centro, caracterizado pelo pragmatismo de medidas estruturais congruentes, não pelo populismo de ações tópicas e conjunturais.
Resta saber se nós e o povo francês, obviamente distantes em termos de sapiência política, haverá uma razoável analogia. Teremos, no próximo período de governança, o arquétipo Macron, que poderá nos alçar do terreno pantanoso onde estamos afundados?
Amadeu Roberto Garrido de Paula, é Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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