Além da solidariedade: como o voluntariado corporativo gera vantagem competitiva

Martin Luther King Jr., líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos e símbolo mundial da luta pela igualdade e justiça social, já dizia: “A pergunta mais persistente e urgente da vida é: o que você está fazendo pelos outros?” O voluntariado empresarial deixou de ser apenas uma iniciativa assistencial e passou a ser um diferencial competitivo para as organizações. Uma pesquisa realizada pela re:charity em 2023, consultoria internacional especializada em engajamento social, revelou que 71% dos colaboradores consideram essencial trabalhar em empresas que apoiam doações e voluntariado. O dado mostra que essas ações não são apenas práticas de responsabilidade social, mas estratégias que fortalecem a reputação corporativa, atraem talentos e criam uma cultura de pertencimento que vai além da remuneração financeira.

O elo entre propósito e resultados

Mais do que beneficiar comunidades, o voluntariado corporativo cumpre papel estratégico dentro das empresas. Ele conecta os valores pessoais dos colaboradores ao propósito organizacional, criando alinhamento entre expectativas individuais e coletivas. Ao oferecer oportunidades de participação em projetos sociais, as companhias estimulam empatia, solidariedade e senso de comunidade, fortalecendo laços e consolidando engajamento.

Profissionais em busca de significado

Essa conexão com o propósito é ainda mais relevante em um mundo em constante transformação. Hoje, profissionais não buscam apenas salários e benefícios: querem significado no trabalho. Ao encontrarem espaço para atuar em ações sociais por meio da empresa, fortalecem seu vínculo com a organização e ampliam sua identidade profissional. O voluntariado, nesse contexto, gera um círculo virtuoso: colaboradores encontram propósito, empresas consolidam cultura e competitividade, e a sociedade recebe impacto positivo e duradouro.

Desafios e avanços no Brasil

No Brasil, o voluntariado corporativo está em expansão, mas ainda enfrenta desafios. O país vive um momento de consolidação, com crescimento do número de empresas que enxergam o voluntariado como estratégia de negócios. Um levantamento do portal Vorecol (2024) aponta que mais de 70% das companhias brasileiras já possuem programas formais, alinhados a pautas de ESG e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Essas iniciativas ampliam o impacto social e contribuem para o desenvolvimento de competências valorizadas no mercado, como empatia, colaboração e liderança. Colaboradores que vivenciam experiências voluntárias retornam ao ambiente corporativo mais engajados, criativos e preparados para enfrentar a complexidade do mundo do trabalho.

Comparativo internacional

Apesar dos avanços, o Brasil ainda apresenta atraso em relação a outros países. Apenas 4,2% da população brasileira acima de 14 anos participou de atividades voluntárias em 2022, segundo o Observatório do Terceiro Setor. Nos Estados Unidos, esse índice chegou a 23%, e no Reino Unido a 27%, de acordo com a Community Life Survey 2023. Globalmente, a Benevity registrou um crescimento de 57% na participação de colaboradores em programas de voluntariado entre 2022 e 2023, enquanto a ACCP apontou que 77% das grandes empresas norte-americanas ampliaram a adesão e 88% mantiveram ou aumentaram seus orçamentos para engajamento social. No Brasil, os dados revelam que a prática ainda está em fase de estruturação, não é mesmo? Todavia segue uma curva de crescimento promissora. O voluntariado começa a ser visto como investimento estratégico de longo prazo, capaz de gerar impacto social, fortalecer empresas e transformar pessoas.

David Braga - CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países e 50 escritórios pela Agilium Group. É conselheiro de Administração e professor pela Fundação Dom Cabral e conselheiro da ABRH MG, VP do Conselho de RH da ACMinas e Presidente do Conselho de Administração da ONG ChildFund Brasil.