Como a inadimplência e os juros altos impactam a precificação dos seguros
Com a economia instável e o endividamento em alta, ajustar a precificação das apólices pode ser a chave para garantir a sustentabilidade das seguradoras sem comprometer a adesão dos clientes.
Em 2024, o endividamento atingiu níveis preocupantes em todas as faixas de renda. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontam que 81% das famílias que ganham até três salários mínimos estavam endividadas, enquanto 66% das que possuem renda superior a dez salários mínimos também acumulavam preocupações financeiras. O percentual de inadimplentes há mais de 90 dias alcançou 49%, o que coloca em evidência a instabilidade econômica e dificulta a concessão de crédito. Em outras palavras, o cenário é desafiador para o setor segurador.
Basta ir ao supermercado para perceber como a inflação segue a corroer o poder de compra da população. Cinco anos após o auge da pandemia, a economia brasileira ainda não conseguiu se recuperar plenamente da pressão inflacionária. Em março de 2020, a inflação estava em 4,5% e a taxa Selic operava abaixo de 7%. Já em março de 2025, a Selic atingiu 14,25% ao ano, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou uma alta acumulada de 4,87% em 12 meses, ultrapassando o teto da meta estipulada para o período.
Com o encarecimento do crédito, o consumo de bens e serviços desacelera – e, naturalmente, o setor de seguros sente os impactos dessa retração. Sabe-se, historicamente, que penetração dos produtos securitários no Brasil é limitada: apenas um terço da frota de veículos está segurada, menos de 20% das residências contam com proteção e planos de previdência privada alcançam menos de 10% da população– sendo que muitos deles estão restritos a planos coletivos. No segmento de seguros de vida, apenas 17% dos brasileiros possuem alguma cobertura, concentrados nas classes A e B, que menos sofrem com os impactos da volatilidade econômica.
A volatilidade econômica afeta, sobretudo, a capacidade de consumo das famílias de baixa renda (classes C, D e E), que priorizam necessidades essenciais à medida que o custo de vida se eleva.
Uma pesquisa[1] de 2022 revelou que quase 60% dos brasileiros que não possuem seguro admitem não estarem tranquilos sem essa proteção. Portanto, a principal barreira nem sempre é a falta de percepção sobre a importância do seguro, mas sim a restrição orçamentária.
A maior penetração dos seguros não beneficia apenas as seguradoras, mas também o consumidor e a economia como um todo. Quanto maior o volume de apólices em determinada região, mais pulverizado é o risco, mais equilibrado torna-se o índice de sinistralidade e maior a capacidade das seguradoras de ajustar seus preços de forma competitiva.
Mitigar riscos e garantir a sustentabilidade financeira, essas devem ser as palavras de ordem para as seguradoras em relação ao planejamento estratégico. Diferentemente de outros segmentos que estruturam a precificação com base em custos fixos adicionando as margens de lucro, o mercado securitário exige uma abordagem altamente técnica e multifatorial. A precificação de apólices envolve variáveis como o perfil do segurado, modelos preditivos de comportamento, condições macroeconômicas, tendências climáticas e riscos específicos de cada mercado. Quando os dados apontam para um ambiente de instabilidade econômica, essa realidade precisa ser incorporada aos cálculos – especialmente em produtos diretamente impactados pela inadimplência, como o seguro prestamista.
Para enfrentar o desafio da precificação em tempos voláteis, é essencial investir em modelos preditivos robustos, monitoramento contínuo de risco e até a revisão de cláusulas contratuais. A possibilidade de renegociação de prêmios deve ser avaliada sem comprometer a solvência das seguradoras, garantindo a manutenção da confiança dos segurados.
A construção de bases qualificadas de informações permite à seguradora desenvolver análises mais precisas e tomar decisões ágeis, especialmente em quando é necessário avaliar a propensão à compra, a probabilidade de cancelamento, o risco de sinistros, a necessidade de crédito e a identificação de fraudes.
Em um ambiente econômico sob a chancela da incerteza, a precificação das apólices precisa ser sofisticada, garantindo a acessibilidade ao consumidor sem comprometer a segurança financeira das seguradoras – uma gangorra delicada, mas possível, com as estratégias e ferramentas adequadas.
Fonte: Sérgio Luiz Bernardelli Junior é advogado do escritório Ernesto Borges Advogados com ênfase em Direito Securitário. Formado em Administração de Empresas pela UFMS, Mestrando em Direito pelo IDP Brasília e Pós-graduado em Direito Constitucional
[1] https://www.fenacor.org.br/noticias/pesquisa-somente-10-da-populacao-tem-seguro.
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