Palestrante autêntico? O segredo está no autoconhecimento

Só se torna disruptivo, com um bom diferencial, ao entender quais regras podem ser quebradas, quais falhas serão assumidas como personalidade

É crescente o número de profissionais experientes que desejam começar a palestrar em eventos e empresas. De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento, (ABTD) o segmento de palestras tem registrado crescimento no país, movimentando cerca de R$ 100 milhões por ano – em todo o mundo este número chega a US$ 12 bilhões.

É comum que alguns se sintam mais inseguros nas primeiras palestras, sem saber como começar ou se posicionar publicamente. Por isso, muitos vão em busca de referências externas, para conhecer hábitos e trejeitos de quem já se apresenta em público e se comunica com sucesso.

Porém, ao invés de se inspirar e construir seu próprio estilo, o profissional decide se espelhar nessa pessoa. Copia o padrão do outro e se esquece que assumir a si próprio com o pacote completo (dores e alegrias, falhas e aprendizados).

De acordo com os especialistas em oratória, é justamente esse conjunto único que vai trazer algum diferencial, e por que não, um destaque até maior em relação a quem se estava reproduzindo.

“É muito comum essa busca por modelos para copiar uma marca pessoal, ou templates para usar nas apresentações, e as pessoas procuram ideias para se fixar, sem incluir sua própria essência. E a autenticidade? Com essa prática, ela perde espaço”, explica Ricardo Pena, fundador da Ducovox, empresa que ministra cursos de oratória em São Paulo.

Uma apresentação autêntica envolve engajamento do público

Entende-se que uma apresentação de sucesso é aquela que impacta e transforma a audiência de alguma maneira. Mas para isso é preciso promover envolvimento a partir das características individuais de cada ser, entre o público e o tema.

De acordo com Tiago Abad, um dos instrutores da Ducovox, coach e palhaço profissional, “ser autêntico é um mindset. Mas, nunca se esqueça de ser “você mesmo”, brinca.

Ele destaca que quando o foco está nos valores pessoais do apresentador/palestrante/professor tudo flui com mais autenticidade. Se existe autoconhecimento, a autenticidade já está bem próxima, completa.

O que não é fácil. Mas, Tiago recomenda: “as melhores coisas estão depois de superar o medo. E o conjunto dos seus valores íntimos é como uma lanterna. Ela traz a resposta da pergunta ‘por que estamos no mundo?’”, afirma. Por isso, fazer essa reflexão auxilia significativamente o palestrante caminhar na autenticidade.

Para Tiago, a autenticidade surge quando o(a) profissional olha para dentro de si por inteiro, até para as sombras. Ela nasce de uma “falha do sistema” ou do ato de brincar com as regras. “Quando trabalho como palhaço profissional vou até os hospitais caracterizado de palhaço-médico. Não sou médico, mas me visto como tal, brinco com essa regra a minha maneira, à maneira do palhaço. O objetivo é parecer parte daquele ambiente, mas ao mesmo tempo trazer descontração e alegria para os pacientes”, revela Tiago.

Para ele, se remar na onda da moda, e fazer parte do mesmo padrão da maioria, só seguir receitas, a autenticidade não tem espaço.

“Só se torna disruptivo, com um bom diferencial, ao entender quais regras podem ser quebradas, quais falhas serão assumidas como personalidade, e conseguir fazer isso de forma positiva.” – Tiago Abad, instrutor da Ducovox.

Quer impactar seu público? Envolva-o com seu jeito único de ser e abuse da empatia

Muitas pessoas buscam mais aprendizados, cursos relacionados a oratória e técnicas de apresentação por terem pouca clareza sobre quem são na essência ou sobre qual seria a melhor maneira de aplicar isso na comunicação com seu público, inclusive alunos, de forma autêntica.

Scott Freeman, Biólogo da Universidade de Washington e um grupo de alunos analisaram 225 estudos sobre métodos de ensino usados em aulas na universidade. O resultado dessa análise concluiu que ensinar de maneira mais próxima aos alunos, envolvendo-os, engaja e os torna mais participativos.

A prática é mais eficaz do que abusar do monólogo diante de uma turma de ouvintes passivos. O argumento é que estimular a audiência a perguntar e participar de forma mais dinâmica sempre trouxe bons resultados – e adotar o conceito de aprendizado ativo.

Os resultados da pesquisa indicam ainda que as pontuações médias dos exames aplicados melhoraram em cerca de 6% nas apresentações em que foram aplicadas as técnicas de aprendizado ativo, e que as pessoas que estiveram em apresentações tradicionais tiveram 1,5 vezes mais chances de falhar do que os alunos nas aulas com esse conceito.

Ao somar esses dados ao autoconhecimento é possível ter consciência e clareza de quais são as fortalezas e fraquezas, para poder adotá-los durante o uma apresentação em público, além de trabalhar nas oportunidades de melhoria.

Para Ricardo Pena, executivo e fundador da Ducovox, a medida que o profissional vai se tornando consciente dos seus talentos, e tomam conhecimento dos seus valores, elas conseguem evoluir sua apresentação nesses pontos.

“O lado negativo também dá um norte para poder evoluir na comunicação. Por exemplo, se existe dificuldade de se expressar com pequeno público, pode-se trabalhar com técnicas de PNL e oratória, em etapas, no sentido de superar isso”, destaca Ricardo.

A única ferramenta para superar esses obstáculos é o autoconhecimento. Quanto mais consciência dos seus pontos fortes, e aqueles que podem melhorar, mais chance de crescer como palestrante, professor - e como pessoa.

Quando existe conexão do profissional com as próprias ideias (pensar com a própria cabeça) e o objetivo é genuinamente inspirar e/ou transformar seu público, seja em uma apresentação ou palestra, a chance de algo sair errado cai grandemente. Por isso falar em público traz tanto medo.

Partindo do princípio de que a marca pessoal é o processo de criar e manter uma identidade única, semelhante a uma marca corporativa, como acontece em cada produto/serviço. Essa marca precisa ser estruturada a partir da própria personalidade, dos pontos fortes de cada profissional, por isso é tão importante que ao subir no palco, o profissional seja, além de preparado, verdadeiro(a) e inteiro.