Homens são os mais atingidos por acidentes evitáveis, mostram estudos

Homens continuam a ser o grupo populacional mais atingido por acidentes no Brasil, em todas esferas do cotidiano. Dados do Ministério da Saúde apontam que mais de 10 mil brasileiros morrem por ano em acidentes de trânsito com envolvimento de álcool e direção. O impacto demográfico é desproporcional, já que 85% das hospitalizações e 89% das mortes envolvem homens, segundo o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). No trabalho, o padrão se repete. Quase 60% dos acidentes ocupacionais registrados em Curitiba, entre 2007 e 2025, atingiram homens de 20 a 49 anos, segundo o Cerest.

A terapeuta ocupacional Syomara Cristina Szmidziuk, com mais de 30 anos de atuação, destaca que o cuidado com o corpo ainda é subestimado pelo público masculino. “Muitos pacientes só procuram atendimento quando já estão afastados do trabalho ou impossibilitados de realizar atividades básicas. O desgaste físico vem de anos de negligência com a ergonomia e a sobrecarga silenciosa do dia a dia”, afirma. Segundo ela, a resistência à prevenção e à escuta do corpo contribui para quadros recorrentes de DORT, tendinites, lombalgias e agravamento de artrites.

Para a especialista, alterar esse cenário depende mudança de mentalidade coletiva. “Precisamos ressignificar o cuidado como parte da masculinidade. Cuidar-se não significa demonstrar fraqueza, pelo contrário, é uma responsabilidade com o próprio corpo e com as pessoas que dependem de nós”, afirma Syomara. Em sua prática clínica, ela acompanha não apenas a recuperação de lesões, mas também a transformação de hábitos de vida mais conscientes, que evitam recidivas e preservam a funcionalidade no longo prazo.

DESDOBRAMENTOS

Com o avanço das lesões, os prejuízos vão além da dor. Outros desdobramentos dos acidentes e adoecimentos são perda de produtividade, afastamento do trabalho, limitação nas atividades de lazer, impacto na autoestima e até quadros de depressão. A boa notícia é que, com intervenção precoce e orientação adequada, é possível recuperar movimentos, aliviar dores, adaptar ambientes e construir rotinas mais saudáveis e seguras, sempre com protagonismo e autonomia do próprio paciente.

Syomara ressalta que o excesso de esforço com riscos de lesões e outros acidentes não está restrito ao trabalho ou ao trânsito. Atividades de lazer como futebol, beach tennis e musculação, muitas vezes sem preparo físico ou orientação, também são causas frequentes de problemas físicos.

Um indicador de como até em casa o risco ronda outras atividades, além do ambiente corporativo e das estradas, é que 25 brasileiros morrem por dia em acidentes domésticos, de acordo com o Ministério da Saúde.

HOME OFFICE

Outra questão no ambiente do lar são as lesões e doenças ocupacionais agravadas no home office, que segue mal adaptado na experiência de alguns profissionais. “Cadeiras inadequadas, ausência de apoio para os punhos, má postura e longas jornadas de trabalho em frente ao computador têm resultado em comprometimentos funcionais importantes”, explica Syomara.

A terapeuta alerta quem trabalha em escritórios ou em home office, que pequenas mudanças fazem grande diferença, como usar cadeiras com apoio lombar, apoiar os pés no chão ou em suportes, posicionar o monitor na altura dos olhos e realizar pausas de cinco minutos a cada hora de trabalho.

Já para praticantes de esportes, a orientação é investir em alongamentos, fortalecimento da musculatura de base e cuidados com a recuperação, principalmente após os 30 anos, quando o corpo começa a responder de forma diferente aos impactos.

A Terapia Ocupacional atua na prevenção e reabilitação de acidentes com foco em adaptação de ambientes, orientação postural, fortalecimento muscular e construção de rotinas mais equilibradas. “Não se trata de limitar, mas de manter a independência com segurança. A gente ensina o corpo a colaborar com a rotina, sem dor e sem sobrecarga”, diz a especialista.

Esse entendimento sobre o corpo como aliado na rotina precisa ser ampliado para incluir também o universo dos homens de todas as faixas etárias. “O corpo masculino também precisa de cuidado. Não existe desempenho sem prevenção”, reforça.

* Syomara Cristina Szmidziuk - atua há 34 anos como terapeuta ocupacional e tem experiência no tratamento em reabilitação dos membros superiores em pacientes com lesões neuromotoras. Faz atendimentos com terapia infantil e juvenil, adultos e terceira idade. Desenvolve trabalhos com os métodos Bobath, Baby Course Reabilitação Neurocognitiva Perfetti, Reabilitação de Membro Superior- Terapia da Mão, Terapia Contenção Induzida (TCI) e Imagética Motora entre outros.