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Uma questão de inteligência

Dolorido o drama daquela mãe. Seu filho Rafael, seu companheiro e confidente, foi morto em um assalto, aos vinte e cinco anos.

Quando o criminoso invadiu a padaria onde Rafael trabalhava, ele reagiu. E recebeu um tiro à queima-roupa.

A dor materna era superlativa. Em algum momento, as notícias lhe chegaram de que o infeliz homicida tentara o assalto porque precisava conseguir dinheiro para o aluguel da casa.

Mas, a dor de Daisy era maior do que qualquer compaixão que pudesse sentir por quem lhe tirara o bem mais precioso: seu filho.

Transcorrido algum tempo, a manicure, que a atendia, comentou que sua mãe ajudava a família do criminoso, fornecendo alimentos.

Ele fora preso e ficaria na prisão por um largo tempo. A situação da esposa e dos filhos pequenos era nevrálgica.

Então, Daisy se compadeceu e, em segredo, passou a colaborar na cesta básica para aquela família tão ou mais infeliz do que ela mesma.

Mais tarde, auxiliou a conseguir um emprego para a esposa e creche para as crianças.

Longe estava, no entanto, de perdoar o que aquele homem lhe tirara. Nada devolveria a vida do seu filho.

Certo dia, foi surpreendida por uma desconhecida que veio lhe entregar uma carta recebida por determinado médium e a ela endereçada.

Tudo lhe pareceu estranho porque jamais tivera contato com médiuns ou fora a qualquer centro espírita. Contudo, ao começar a leitura, deu-se conta de que era mesmo seu filho quem escrevia. Tudo o identificava.

Entre muitas letras, ele afirmava estar bem, no mundo espiritual. Sentia muito ter tido aquele gesto precipitado, que redundara na sua morte.

Sabia o quanto sofria sua mãe.

Mas, pedia que ela perdoasse o assassino, uma alma necessitada. Se perdoasse, isso aliviaria o seu sofrimento.

E foi o que aconteceu. Daisy descobriu que a mágoa, não importa a origem que tenha, somente atrapalha.

Confessa que ao trabalhar o perdão para quem tanto a ferira, principiou a retornar para a vida.

É como se tivesse se livrado de uma enorme bagagem, um grande peso.

Mágoa é isso. Um peso que atrapalha a nossa caminhada, que nos detém.

Relevar ofensas, em verdade, não é nada fácil. Por vezes, podem ser necessários anos de dedicação.

Mas vale insistir, pois o caminho do perdão limpa o coração, restabelece o fluxo do amor.

Perdoar, dizem, é antes de tudo um ato de inteligência porque beneficia a quem o doa, em primeiro lugar.

Estudos revelam benefícios sociais, espirituais, psicológicos e até fisiológicos ao se desculpar o passado.

Depois de sua libertação, Nelson Mandela afirmou que deixou de sentir raiva dos responsáveis por seus vinte e sete anos de prisão porque se continuasse odiando, continuaria a ser prisioneiro.

Preferi ser um homem livre. – disse ele. Deixei a raiva ir embora.

Perdoar é libertar o outro e a si mesmo. É encontrar paz de espírito, do lado de fora da prisão da mágoa, do ódio, da raiva.

Vale a pena meditar sobre a recomendação daquele filósofo francês: Não importa o que fizeram a você. Importa o que faz com o que fizeram a você.

Pensemos a respeito.

Redação do Momento Espírita, com base no texto Mágoas que vão embora, de Raphaela de Campos Mello, da revista Bons fluidos, de novembro/2014, ed. Escala.
Em 25.4.2019.


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