Os filhos estão sendo substituídos por pets?
Por Juliana Sato
Essa pergunta parece simples, mas carrega um peso simbólico enorme. Aparece nas manchetes, entrevistas, mesas de jantar e discussões acaloradas nas redes sociais, quase sempre com um tom acusatório, como se amar um pet fosse sinal de desvio, carência ou fuga de responsabilidade.
Mas será mesmo que essa é a leitura mais justa? A pergunta parte de um lugar que já define o afeto como uma escolha única, com formato padrão e hierarquias rígidas. Filhos humanos no topo. Relações “verdadeiras” de um lado, e vínculos “substitutos” de outro. Como se o valor do afeto dependesse da espécie.
Só que os afetos não funcionam assim... A relação com o pet não está necessariamente ocupando o lugar de um filho. Ela ocupa o lugar que a própria pessoa construiu, e que faz sentido dentro do seu contexto de vida. Às vezes, esse vínculo é o mais estável, mais previsível e mais acessível que ela tem. E isso não a diminui. Pelo contrário: revela o quanto ela é capaz de amar, cuidar e se comprometer, ainda que o outro tenha quatro patas.
O que estamos vendo é uma reorganização das prioridades. Em um mundo acelerado, caro, polarizado e exaustivo, muita gente tem repensado o que é “família”, o que é “legado”, o que é “cuidado”. Isso não é sintoma. É um movimento social. E, como todo movimento social, tem causas, nem sempre visíveis à primeira vista.
Falar que “as pessoas agora preferem ter um cachorro a ter filhos” pode parecer provocador, mas é raso. O que precisa ser analisado é o que está por trás dessa preferência: o custo da parentalidade, a sobrecarga das mulheres, a precariedade da rede de apoio, o medo de repetir traumas familiares, a busca por autonomia, a recusa em seguir um modelo de vida pronto, que muitas vezes adoece mais do que realiza.
Isso sem contar que a lógica da substituição é equivocada. Porque ninguém substitui ninguém. Os vínculos que formamos não são peças de reposição. São construções afetivas que emergem de escolhas, valores, vivências e necessidades, conscientes ou não.
Sim, há excessos. Em alguns casos, o animal é hiperprotegido, humanizado ao extremo, instrumentalizado como válvula emocional. Mas esses casos não podem ser generalizados. Nem usados como argumento para desqualificar uma realidade cada vez mais presente: os pets fazem parte da vida afetiva e simbólica das pessoas. E isso merece respeito.
Mais do que criticar essa mudança, talvez devêssemos perguntar: o que esse fenômeno está revelando sobre os vínculos humanos? O que ele nos ensina sobre presença, cuidado e responsabilidade? E, principalmente: por que ainda incomoda tanto ver alguém construindo uma vida significativa fora dos moldes tradicionais?
A verdade é que não existe um único jeito certo de viver o afeto. Alguns terão filhos. Outros terão pets. Alguns terão os dois. Há quem opte por nenhum. E está tudo bem. Não se trata de substituir. Trata-se de escolher com quem você quer dividir sua presença, seu tempo e seu afeto, sem que isso precise ser validado por padrões antigos ou julgamentos externos.
Talvez, no fundo, essa pergunta diga menos sobre quem tem pet… e mais sobre quem ainda não consegue aceitar que o mundo está mudando. E que amar também mudou de forma.
* Juliana Sato é psicóloga especializada em luto pet, certificada pela Association for Pet Lost and Bereavement, dos Estados Unidos.
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