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A Esperança de Davi

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Carolina Tomaselli
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*Gustavo Miotti

“A Ucrânia ainda não morreu, nem a glória, nem a liberdade"

Primeiro verso do hino ucraniano

Visitei a Ucrânia no verão de 2019. O país vivia um clima de otimismo. O atual presidente, Volodymyr Zelensky, havia assumido o poder com uma vitória acachapante: mais de 73% do eleitorado se alinhou ao discurso pró-europeu e de reformas econômicas do jovem líder. Recordo de contemplar da janela do meu hotel a vista da pomposa Catedral de Santa Sofia no centro de Kyiv. Por alguns instantes, o entardecer fez com que o reflexo das suas exuberantes torres douradas obstruísse completamente a minha visão. Hoje, olhando para trás, vejo o mesmo sentimento de bloqueio em poder avistar os eventos que estavam para se descortinar naquela terra que fica nos portões da Europa. Quem imaginaria que uma pandemia fosse colocar o mundo de cabeça para baixo e que a Ucrânia seria bombardeada e invadida pela Rússia, como foi feito pelos nazistas na II Guerra Mundial? Desta vez, diferente da pandemia de 1918, a guerra sucedeu a pandemia.

Infelizmente, no desenrolar da história da Ucrânia, os cisnes negros são comuns e se apresentam como tragédias que precisam ser contextualizadas para que não se perca o real tamanho da dor é imposta a esta sofrida nação. A Ucrânia foi vítima dos dois principais tiranos da história quando lembrados pelo número de mortos: Stalin e Hitler.

O primeiro, principalmente com a pouco conhecida tragédia da Fome Vermelha ou Holodomor, quando a Ucrânia, então uma das repúblicas da União Soviética, sofreu uma catastrófica fome. A estratégia de Stalin de coletivizar a produção agrícola de forma caótica fez com que milhares de camponeses ucranianos fossem forçados a deixar suas terras para se juntarem a fazendas coletivas estatais, sob domínio de Moscou. Stalin culpou os nacionalistas ucranianos pela falha na estratégia e impôs que toda a produção agrícola da fértil da Ucrânia fosse direcionada à Rússia; além disso, fechou as fronteiras da Ucrânia para não permitir que seu povo fugisse. Os ucranianos se viram presos e, diante da falta quase total de alimentos, houve uma tragédia em que quase 4 milhões morreram de fome, cerca 15% da população do país. O sofrimento do povo ucraniano foi tão grande que quando o país foi invadido pelos nazistas boa parte da população apoiou o exército alemão, pois nada poderia ser pior do que Stalin. Novamente, a Ucrânia estaria no centro da atenção de um tirano. Já Hitler invadiu a União Soviética com o objetivo de controlar a Ucrânia, que sendo o celeiro da Europa iria poder alimentar as ambições expansionistas nazistas.

Se formos ponderar quem mais sofreu com a II Guerra Mundial, novamente a Ucrânia foi a grande vítima. O holocausto começou na Ucrânia em agosto de 1941 e, ao final da guerra, mais civis ucranianos morreram no conflito do que russos, não só em termos relativos, mas também nominais. Também, em termos relativos para nós ocidentais, mais ucranianos morreram lutando contra os nazistas do que americanos, britânicos e franceses combinados.

Mais recente, a explosão de um reator nuclear da usina atômica de Chernobyl, em 26 de abril de 1986, lançou o equivalente a 500 bombas de Hiroshima de material radiativo na atmosfera ao norte da Ucrânia, a cerca de 100 Km de Kyiv. Por sua vez, o governo de Gorbatchov, em Moscou, não permitiu qualquer divulgação do acidente. Apesar de o vento estar espalhando a radiação invisível no ar da capital, para dar um ar de normalidade o governo soviético não cancelou a parada de 1º de maio e milhares de pessoas saíram às ruas da capital ucraniana a apenas alguns quilômetros do local da explosão. A única coisa estranha na parada era a falta das autoridades nas arquibancadas nas bancadas, que estavam completamente vazias. Os burocratas soviéticos haviam se mandado para Moscou com suas famílias logo após o acidente.

No mesmo dia, no sul da Alemanha, dez vezes mais distante de Chernobyl, foi detectado alto nível de radiação, e o governo de Moscou foi obrigado a reconhecer o acidente. Além das mortes pelo acidente, até hoje o país paga com níveis de câncer causados pela radiação muito acima do normal. Ironicamente, o evento é considerado o principal responsável pelo fim da União Soviética, o que levou à independência da Ucrânia em 1991, através de um referendum no qual mais de 91% dos ucranianos votaram pelo destino do país.

Novamente, a liberdade do povo ucraniano se vê vítima de um tirano. Putin, fantasiado como um antigo Czar, nunca aceitou a existência da Ucrânia como estado independente - e principalmente democrático - e pró-Europa. Ele interferiu constantemente nas eleições e invadiu o país em 2014, após a derrubada de um governo corrupto pró-Moscou. No ano passado, Putin publicou um longo texto justificando, com uma visão paranoica, que os ucranianos são dominados por uma gangue de neonazistas e desejavam ter o país anexado à Rússia. O principal problema de um ditador como Putin é viver numa bolha com servos que têm tanto medo de dizerem a verdade que se perde o sentido de realidade. Putin fantasiava que as tropas russas seriam recebidas com uma chuva de rosas; porém, os ucranianos estão jogando coquetéis molotovs.

Apesar de todas as tragédias, nunca senti o povo ucraniano se lamentar ou vitimar, muito pelo contrário, otimista e orgulhoso com a sua independência. Um país que não quer ficar preso ao passado, pois ele não necessariamente determina o seu destino. Em contato com os amigos que fiz na viagem e ainda estão em Kyiv, eles afirmam que estão muito confiantes com a vitória, apesar de estarem lutando com uma superpotência militar. Através de seu inspirador líder, Volodymyr Zelensky, o povo ucraniano está defendendo o valor da democracia e da liberdade não apenas do seu país, numa batalha de Davi versus Golias.

*Gustavo Miotti é autor do livro Crônicas de uma pandemia – reflexões de um idealista. Empresário e Cientista Econômico, pesquisa atitudes relativas à globalização em seu doutorado no Rollins College (Estados Unidos).


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