Escândalos recentes elevam a pressão por compliance antissuborno
Por Suzete Suzuki
O Brasil vive uma onda de denúncias de fraudes em setores diversos - da área financeira, com o caso recente do Banco Master, ao setor de combustíveis e as respectivas denúncias de fraudes, até o setor público, por conta das quadrilhas especializadas em fraudes previdenciárias no INSS. São escândalos que requerem uma reflexão não apenas sobre a necessidade de atenção e rigor na apuração de denúncias, mas também no fortalecimento dos mecanismos de controle.
Nesse sentido, o País também registra um movimento crescente de adesão das empresas brasileiras às práticas antissuborno, às práticas de compliance e governança corporativa, impulsionado pela tendência mundial de fortalecer a ética no ambiente corporativo. Trata-se de um indicativo de amadurecimento do mercado brasileiro na direção do combate à corrupção e às fraudes, em linha com o que ocorre globalmente.
A norma ISO 37001 antissuborno tem se configurado como um importante instrumento nesse sentido. Embora o Brasil ainda represente uma fração modesta dos dados globais sobre a adequação à norma ISO 37001 – segundo dados do ISO Survey Report, o País responde por apenas 186 de 9.952 emissões da norma registradas em todo o mundo no ano de 2024 –, há um avanço perceptível. E o mais importante é que ele vem sendo realizado sob critérios rigorosos que conferem credibilidade ao processo. Esse rigor é fundamental para que a certificação não se torne apenas um selo mercadológico, mas sim um verdadeiro atestado de seriedade e compromisso das empresas com a integridade.
O processo de obtenção da ISO 37001 exige das organizações brasileiras uma resiliência e dedicação diferenciadas. Além dos desafios naturais de implementar controles de gestão antissuborno eficazes, é preciso superar um processo de certificação criterioso, conduzido por organismos devidamente acreditados pelo Inmetro. O nível de exigência imposto pelo órgão de metrologia, qualidade e tecnologia, é muito superior ao de outras normas, como a ISO 9001, o que limita a participação dos organismos que podem emitir o certificado, mas, por outro lado, fortalece a confiabilidade no selo.
Essas barreiras, no entanto, não deveriam ser vistas como obstáculos intransponíveis, mas como oportunidades para elevar o padrão ético das organizações nacionais. O selo ISO 37001, além de prevenir e combater a corrupção, abre portas para uma reputação sólida, maior competitividade e confiança junto a investidores, clientes e órgãos reguladores. É um passo estratégico para quem deseja atuar de maneira transparente e sustentável no mercado nacional e global.
Vale também destacar a relevância da integração entre o sistema de gestão antissuborno e os sistemas de compliance (ISO 37301) e governança corporativa (ISO 37000). Combinados, esses três sistemas se transformam em pilares que formam a base para negócios perenes e resilientes, capazes de enfrentar desafios reputacionais e legais com mais tranquilidade.
O compliance vai além do mero cumprimento de normas, sendo uma ferramenta estratégica que contribui diretamente para a construção de uma imagem confiável e respeitada. Já a governança corporativa é o sistema pelo qual empresas são dirigidas, monitoradas e incentivadas, com base em princípios como transparência, equidade, prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa.
Essa integração pode contribuir, por exemplo, para o cumprimento das novas normas de sustentabilidade e aquelas relacionadas aos riscos climáticos, para fins de elaboração dos relatórios financeiros, os conhecidos IFRS S1 e S2, que já entram em vigor em 2026, ampliando os deveres dos conselhos de administração das companhias e exigindo uma mudança estratégica de mentalidade.
Portanto, mais do que uma tendência, aderir à certificação ISO 37001 e às práticas de compliance e de governança corporativa representa um compromisso necessário com o futuro das organizações brasileiras. É o momento de encarar a ética e as boas práticas como diferenciais competitivos e, sobretudo, como valores indispensáveis para a sustentabilidade dos negócios.
(*) Suzete Suzuki é CEO da ICV Brasil.
Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
<::::::::::::::::::::>