Inovação com propósito: o papel do design thinking social
Por Guilherme Hoppe
Diante de desafios globais cada vez mais complexos, como desigualdade, vulnerabilidade social e mudanças climáticas, é urgente repensar a forma como desenvolvemos soluções. O design thinking social emerge como uma abordagem capaz de transformar realidades, ao colocar as pessoas no centro do processo de inovação. Mais do que uma metodologia, trata-se de uma mudança de mentalidade: ouvir, cocriar e testar com comunidades envolvidas o desenvolvimento do trabalho, garantindo resultados relevantes
Diferentemente dos modelos tradicionais de intervenção, que muitas vezes impõem soluções "de cima para baixo", o design thinking social parte do olhar humano, da escuta ativa e da empatia. Ele envolve diretamente as comunidades, respeita seus contextos e valoriza o conhecimento local, transformando desafios complexos em oportunidades de inovação. Isso garante não só mais efetividade nas ações, mas também maior legitimidade e sustentabilidade a longo prazo.
Um exemplo notável na administração pública brasileira é o programa Poupatempo, em São Paulo, que redesenhou o atendimento ao público a partir da experiência do usuário, centralizou serviços e aumentou a eficiência. Por outro lado, a ausência dessa abordagem pode levar a falhas significativas, como ocorreu em Jequié (BA), onde a distribuição de mochilas superdimensionadas a crianças de creche evidenciou os riscos de ignorar as necessidades reais da população e não envolver os beneficiados na tomada de decisão.
Projetos que envolvem comunidades periféricas, rurais ou tradicionais permitem construir confiança e gerar soluções que respeitam a cultura local. O Instituto Tellus, por exemplo, renovou bibliotecas em escolas públicas de Santos, com a participação de mais de mil pessoas da comunidade escolar, gerando engajamento e pertencimento. Já o app "Alerta Indígena Covid-19", criado com o apoio de organizações indígenas, permitiu monitorar casos da doença em tempo real, salvando vidas e protegendo territórios.
Diversas metodologias de design thinking social, como o Human-Centered Design (IDEO.org), o DIY Toolkit (Nesta), além de laboratórios de inovação social e abordagens participativas de co-design, mostram como a cocriação entre diferentes setores – governos, empresas, academia e sociedade civil – pode gerar soluções com maior impacto e replicáveis. Esse modelo colaborativo, conhecido como Quádrupla Hélice, amplia o impacto e fortalece os ecossistemas de inovação.
Pesquisas no campo científico também reforçam o potencial do design thinking social. Um estudo publicado na revista Sustainability demonstrou que, quando aplicado em contextos de aprendizagem baseada em desafios e na colaboração, o design thinking social amplia a criatividade, o engajamento e a capacidade de resolução de problemas de grupos diversos. Ao estimular a troca de saberes entre diferentes atores, cria-se um ambiente fértil para a inovação social.
Apesar do potencial transformador, o design thinking social enfrenta obstáculos. Engajar comunidades de forma genuína requer tempo, escuta e disposição para adaptar estratégias. A escassez de recursos e a dificuldade de mensurar impactos sociais de maneira objetiva ainda são desafios. Além disso, equilibrar personalização e escalabilidade também é essencial, pois soluções eficazes em um território podem demandar ajustes para serem replicadas em outro.
Ainda assim, os benefícios superam os entraves. Projetos estruturados a partir dessa lógica deixam legados duradouros: fortalecem a capacidade de auto-organização, desenvolvendo lideranças locais e construindo pontes entre setores antes isolados. Ao articular a cooperação entre Estado, empresas, universidades e organizações da sociedade civil, o design thinking social contribui para um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e resiliente.
Em um mundo que busca respostas urgentes para problemas estruturais, inovar com foco nas pessoas não é apenas uma escolha metodológica, mas uma necessidade ética. O design thinking social convida gestores públicos, empreendedores e cidadãos a repensar a forma como concebem e implementam mudanças. Ele propõe uma virada de chave. Em vez de levar soluções prontas às comunidades, construir soluções com elas, valorizando o conhecimento local e criando caminhos sustentáveis de transformação. Mais do que desenvolver produtos ou serviços, trata-se de gerar sentido, e quando a inovação nasce da empatia, da colaboração e do uso de metodologias estruturadas, ela deixa de ser um exercício de criatividade para se tornar uma ferramenta de dignidade, capaz de transformar não apenas processos, mas vidas.
Guilherme Hoppe tem mais de 16 anos de experiência em gestão de projetos sociais e econômicos e na criação de ecossistemas e comunidades inovadoras. Entre 2023 e 2024, atuou como agente de inovação na ADE SAMPA. Atualmente coordena o Ibrawork, hub dedicado a cidades inteligentes, inovação e desenvolvimento social.
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