Silêncio estratégico ganha espaço como antídoto à produtividade tóxica
Luis Amorim*
A questão da produtividade tóxica profissional e a necessidade de mais silêncio estratégico têm ficado cada vez mais evidente. A realidade é que o empresário não precisa de mais pressão, ainda que algumas pessoas lidem bem com ela. A era dos workaholics está definitivamente em decadência, porque se percebeu que inevitavelmente as doenças profissionais chegam quando o corpo alcança ou ultrapassa seus limites psicobiológicos. A personalidade pode também ser definitiva nos problemas ocupacionais.
Quando se fala dos perfis tipológicos, a primeira lembrança é do estudo de Meyer-Briggs, como o teste do MBTI, no qual foram definidos 16 tipos de personalidades. Ele é um instrumento de autoavaliação que categoriza a personalidade nesta tipologia, com base nas preferências de um indivíduo em quatro pares opostos: energia (extroversão/introversão), percepção (sensação/intuição), tomada de decisão (pensamento/sentimento) e estilo de vida (julgamento/percepção).
O teste, cujo conteúdo baseia-se nas teorias de Carl Jung, é utilizado para melhorar o autoconhecimento e, especialmente, ajudar a evoluir o trabalho em equipe e apoiar os processos de recursos humanos, como desenvolvimento de talentos e recrutamento. O MBTI (do inglês Myers-Briggs Type Indicator) nada mais é do que um questionário sobre o comportamento e as preferências diárias das pessoas.
Alguns perfis tipológicos têm facilidade em trabalhar sob pressão, mas, neste caso, pode surgir a dúvida: será que esses grupos sabem trabalhar sob pressão? Ou ainda: será que eles precisam trabalhar sob pressão?
Possivelmente, muitos talvez saibam, mas evitam pensar que não precisam. No entanto, é notório que se ‘vende’ muito no mercado, hoje em dia, cursos e treinamentos com coaches e atividades similares, em que a ‘venda’ dessa pressão deve ser estimulada, porque, se não for assim, o trabalho não evolui. Por isso, inicializa-se a perpetuação de uma lógica padronizada, isto é, a de que todo mundo precisa, de fato, de pressão, pressão e mais pressão.
No entanto, do ponto de vista neurológico, nós temos vícios emocionais, de pensamentos e trilhas de pensamento, e, toda vez que são acionados, é como se fosse, um rio, em que o curso é natural e o fluxo da água segue sua trajetória normal. Para que sejam trilhados novos cursos, são necessários alguns processos que impactam na sua geografia, como erosão, chuvas e outras ações que provoquem mudanças, como escreveu o poeta João de Barros “o rio sabe que seu destino é o mar, mas ele vive, vive o percurso antes de chegar”.
O nosso interior, em geral, procura geralmente caminhos mais fáceis, porque há uma economia de energia quando se mantém e se perpetua o mesmo padrão emocional, ou seja, o mesmo nível de raciocínio. No caso da pressão, esta acaba se tornando essa via-padrão para boa parte dos empresários em nossos dias. Entretanto, aquilo que não é trabalhado é justamente o que é mais difícil, que é o silêncio.
Alguns megaempresários, por exemplo, Bill Gates, uma vez por ano, reclui-se por uma semana em uma casa. A bem da verdade, é uma casinha, em algum lugar afastado, que ele vai há muitos anos. Já Steve Jobs também fazia um processo parecido, embora sua terapia fosse também dar voltas em um lago conhecido na Califórnia. O que é de se lamentar é que poucos empresários acabam buscando esse processo de ‘calma e silêncio’.
A medicina ayurvédica indiana entende que as pessoas acabam adoecendo por falta de silêncio, sono, alimentação e de exercício físico. Em nossa interpretação, é muito difícil chegar ao silêncio, mas, por outro lado, é extremamente mais fácil colocar pressão. Há explicitamente uma cultura da pressão, em que se repete e se difunde o conceito de que “sem pressão o negócio não vai”, mas será mesmo?
O que mais tem ocorrido atualmente, nesse ciclo pós-pandemia, é o processo de pessoas doentes por burnout, que é a Síndrome do Esgotamento Profissional, que, segundo o Ministério da Saúde, é uma condição emocional séria resultante de estresse prolongado no ambiente de trabalho e que se manifesta por uma exaustão intensa, tanto física quanto mental, além de cinismo/despersonalização e diminuição da satisfação profissional.
Consequentemente, fica a incerteza se todos nós não estaríamos ajudando a perpetuar um sistema doente. Considero que, lamentavelmente, estamos perenizando um processo doentio pelo qual procuramos menos o silêncio, menos a presença e mais a pressão, porque é um caminho mais fácil.
Essas influências negativas se repetem também pelas limitações cognitivas. O autor Eckhart Tolle, do livro O Poder do Agora, trata um pouco sobre essa questão do silêncio. Para ele, é como se a nossa mente ficasse o tempo todo viciada no processo de pensamento. Se nós, porém, colocássemos um observador analisando uma “mente poluída” se manifestando o tempo inteiro, como seria visto essa situação com mais distância?
Então, Tolle apresenta uma terceira mente para observar os pensamentos. Ele pergunta, também, como seria se todos conseguissem entender as próprias mentes com um botão de liga e desliga. Ele complementa, ainda, que “eu não sou o que eu penso, eu sou o ser que observa o pensamento de fato”. A partir dessas premissas, ele propõe um novo caminho, esse silêncio tão ambicionado e o questionamento dessa pressão perturbadora e incessante.
Diante do novo momento, precisamos discutir a diferença entre estar ocupado e ser eficaz. Temos que entender como a agenda cheia é, muitas vezes, uma fuga da necessidade de fazer o trabalho mais difícil: parar, pensar e reorganizar o sistema interno (a "cabeça no lugar").
O psicólogo e teólogo holandês, Johannes Poelman, em seu livro Silêncio - Caminho para o mistério – faz reflexões sobre o silêncio, de que não se trata apenas do não falar e não pensar, mas de calar todas as vozes exteriores e interiores para, então, poder ouvir e seguir o Absoluto.
Para ele, “Silêncio é se afastar do modo de pensar e de agir a que estava acostumado; ter coragem de não mais trilhar caminhos conhecidos. É desapegar-me de tudo o que até agora fazia. É estar disposto para algo novo. Novas maneiras de pensar, de agir; estar aberto para algo desconhecido, esperar o novo, o divino tomar conta de si. É estar aberto para o modo divino de ser tornar-se o meu”.
*Luis Amorim é CEO e fundador do Grupo Apolo, consultor de negócios com atuação em mais de 300 projetos comerciais, mentor de empresários e autor do livro "Guia do Empresário Profissional".
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