Por que a revisão técnica é essencial antes de fechar qualquer acordo trabalhista?
Por Paulo Souza, sócio e especialista em Cálculos Judiciais da Bernhoeft
O ambiente das audiências trabalhistas no Brasil vive um paradoxo: de um lado, a pressão crescente por conciliações rápidas; de outro, a necessidade de decisões tecnicamente precisas. Em meio à busca por eficiência e redução de custos, muitos acordos são firmados sem a devida validação técnica dos valores, um risco que pode transformar o ganho aparente em prejuízo certo.
A revisão técnica é o elo entre a urgência processual e a segurança jurídica. Ao validar parâmetros, identificar superestimações e calcular o impacto financeiro real, ela transforma uma negociação de curto prazo em uma decisão fundamentada em dados. É o que separa uma conciliação apressada de uma negociação segura, garantindo que o valor pago reflita com exatidão o que é devido.
Fechar acordos sem o suporte de um profissional especializado em cálculos judiciais pode acarretar uma série de riscos: pagamentos acima do devido, reabertura de demandas e novos custos processuais, falhas de contabilização e provisionamento, incongruência com políticas internas de compliance trabalhista e até impactos reputacionais. Erros recorrentes corroem a confiança entre jurídico, RH e áreas de negócios, e podem chamar a atenção de órgãos fiscalizadores.
Casos práticos ilustram bem a dimensão desse impacto. Em uma análise conduzida por uma equipe especializada, uma companhia acreditava ter obtido vantagem ao fechar um acordo por R$ 175 mil, abaixo da previsão inicial de R$ 250 mil. No entanto, o cálculo técnico posterior revelou que o valor efetivamente devido era de cerca de R$ 145 mil. Ou seja, não houve economia real, mas uma falsa percepção de ganho.
A atuação integrada entre o departamento jurídico e a área de cálculos é essencial para transformar decisões reativas em decisões estratégicas. Com informações técnicas precisas, o jurídico passa a enxergar o impacto financeiro concreto de cada alternativa, calibrando estratégias que reduzem contingências e fortalecem a previsibilidade do negócio.
Com a crescente digitalização das áreas jurídicas e financeiras, a tecnologia passou a desempenhar papel central na precisão dos cálculos e na governança dos acordos. Ferramentas de automação e planilhas auditáveis reduzem erros manuais, enquanto soluções de analytics e BI permitem simular cenários, comparar provisões e resultados e transformar cálculos em indicadores de performance. Dessa forma, o cálculo judicial deixa de ser apenas um instrumento de conferência e passa a ocupar um papel de governança e inteligência de negócio.
Incorporar a revisão técnica como etapa obrigatória é uma mudança cultural necessária. Mais do que revisar números, trata-se de revisar decisões. Quando jurídico, financeiro e compliance atuam de forma integrada, o resultado é um ambiente de maior previsibilidade, transparência e segurança, tanto para as empresas quanto para os profissionais envolvidos.
Sobre Paulo Souza
Paulo Souza é Administrador, Contador e Pós-graduado em Perícia, acumula mais de 22 anos de experiência em Gestão de Contingências Trabalhistas, Cálculos Cíveis, Tributários e Previdenciários para empresas de todos os portes. Sócio da Bernhoeft, lidera serviços especializados em Cálculos Judiciais, Gestão de Riscos com Terceiros, BPO e Consultoria Tributária. Realiza anualmente eventos como lives, podcasts e webinars para orientar departamentos jurídicos e escritórios de advocacia, focado em temas atualizados e conformidade legal. Participa como palestrante em eventos como Fenalaw e Amcham.
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