Fraudes em seguros: da subscrição ao sinistro, entenda onde os golpes começam
Relatório da CNseg mostra 29 fraudes evitadas por dia só no seguro de vida; insurtechs como a Brick apontam que o problema começa na contratação e defendem automação no processo de decisão
O setor de seguros vive uma corrida silenciosa contra a fraude – e o desafio está longe de ser apenas financeiro. Só no primeiro semestre de 2024, as seguradoras brasileiras evitaram mais de R$2 bilhões em fraudes, segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). No ramo de vida individual, foram R$207 milhões em fraudes evitadas, com um ticket médio de R$47 mil por tentativa, equivalente a 29 fraudes por dia. Nos seguros de automóveis, os golpes continuam liderando o ranking, com destaque para o chamado “sinistro vivo”, em que duas partes simulam uma colisão para obter a indenização indevida.
Apesar dos avanços em prevenção, especialistas alertam que o combate à fraude ainda ocorre tarde demais: na maioria dos casos, apenas depois que o sinistro já foi acionado. E é justamente aí que está o ponto cego do setor. “Historicamente, a fraude sempre foi tratada de forma reativa e analógica pelas seguradoras, que só investigavam depois que o problema já havia acontecido. Mas isso está mudando”, afirma Vinicius Schroeder, CEO da Brick, insurtech curitibana que desenvolve uma plataforma de automação para decisões de risco em seguros.
“Com o avanço da tecnologia e o crescimento expressivo de tentativas de golpe, o setor está se tornando mais proativo e inteligente. E isso não significa apenas reduzir custos. Significa também entregar uma experiência muito melhor para o cliente honesto, que não precisa mais pagar o preço pelos maus”, acrescenta o executivo.
Segundo Schroeder, o principal gargalo está no processo em geral ser estático, com pouca ou nenhuma abertura para ajustes. “Os aprendizados que acontecem no sinistro, por exemplo, com os casos identificados de fraude, acabam por não retroalimentar outras etapas da jornada de prevenção à fraude”, explica.
Este é um dos pontos nos quais a Brick propõe uma virada de chave, com soluções baseadas em agentes de IA, integração com múltiplas fontes de dados e regras de negócio personalizadas, possíveis de serem aplicadas em todas as etapas do percurso da vida útil de um seguro, começando com o primeiro contato com o cliente e chegando ao sinistro. “A IA pode ajudar muito nesse processo, para que seja um mecanismo vivo, com o controle nas mãos dos times de negócio e ciclos de melhoria contínua”, complementa o CEO.
Hoje, o tempo médio para identificar uma fraude gira em torno de 12 dias úteis, segundo dados internos da Brick. Em alguns projetos, porém, já é possível automatizar integralmente a decisão de mais de 60% dos sinistros, reduzindo o tempo médio de resposta para menos de 24 horas. “Isso representa um salto enorme de produtividade: os clientes economizam tempo nos casos simples, que antes exigiam muito esforço manual, e redirecionam seus analistas para os sinistros mais complexos, onde a análise humana realmente faz a diferença”, relata o CEO.
O impacto financeiro é evidente, mas o problema vai além do balanço. “Quem mais sofre com os reflexos desse desequilíbrio é o consumidor, que enfrenta apólices mais caras e jornadas mais burocráticas, quebrando a lógica do mutualismo, conceito central de qualquer seguro”, explica Schroeder.
“Combater a fraude com eficácia requer mais do que tecnologia. É necessário fomentar a cooperação entre seguradoras, órgãos reguladores e plataformas digitais, além de investir na capacitação contínua das equipes e na revisão dos fluxos operacionais. É isso que constrói uma frente sólida de enfrentamento ao crime”, opina o executivo.
A evolução da prevenção à fraude passa, necessariamente, por um novo olhar sobre o início da jornada do seguro. Ao antecipar o controle e aplicar inteligência desde a contratação, o setor não apenas reduz perdas, mas também corrige distorções históricas no modelo de precificação e amplia o acesso a produtos mais eficientes e confiáveis para quem realmente precisa de proteção.
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