M&A em inteligência artificial: o Brasil não pode mais esperar
*Por Franklin Tomich, sócio-fundador da Accordia
A inteligência artificial tem se tornado o principal motor das operações globais de fusões e aquisições (M&A), especialmente nos Estados Unidos, onde empresas investem bilhões para incorporar essas tecnologias em suas plataformas. A compra da Splunk pela Cisco por US$ 28 bilhões é emblemática: a operação não visa apenas ampliar portfólio, mas garantir uma arquitetura robusta que integra análise de dados, segurança e IA, antevendo a transformação digital necessária para se manter competitivo. Em outro exemplo, a Salesforce adquiriu a startup Tenyx, especializada em agentes de voz com IA, fortalecendo seu atendimento ao cliente com linguagens naturais. Enquanto isso, no Brasil, embora fusões envolvendo tecnologia tenham crescido 22% em 2024, conforme dados da ABVCAP, a intensidade e o foco em IA ainda são tímidos, com poucas operações que realmente incorporam essa tecnologia como ativo estratégico.
Esse cenário revela um problema preocupante: o Brasil ainda enxerga a inteligência artificial mais como um acessório tecnológico do que como um vetor central para inovação e competitividade. Enquanto a McKinsey aponta que 65% das empresas globais já utilizam IA generativa em ao menos uma área, o país mantém um ritmo muito inferior de adoção, perdendo terreno para mercados que já se estruturam para dominar a próxima revolução industrial. Essa falta de ambição estratégica nas M&A locais reflete um risco claro de dependência tecnológica externa, que pode limitar a autonomia e a capacidade de inovar das empresas brasileiras em setores críticos. Ainda que exemplos isolados, como a aquisição da Oak Rocket pela Compass UOL, apontem para uma mudança, esses movimentos são insuficientes para reposicionar o Brasil em um cenário competitivo cada vez mais tecnológico e dinâmico.
Portanto, o mercado brasileiro precisa urgentemente reavaliar sua postura diante da inteligência artificial, encarando-a como peça fundamental da estratégia de crescimento e sobrevivência das empresas. Incorporar IA por meio de fusões e aquisições ou do desenvolvimento interno não deve mais ser uma opção secundária, mas uma prioridade clara para garantir que o país não fique à margem da inovação global. A aceleração dessa transformação exige não apenas visão e ambição dos líderes empresariais, mas também políticas e incentivos que estimulem investimentos em tecnologia e inovação. Somente assim o Brasil poderá construir um ecossistema robusto, capaz de competir de igual para igual no futuro da economia digital.
*Franklin Tomich é sócio-fundador da Accordia, plataforma de inteligência analítica voltada para M&A e finanças corporativas. Mestre em Finanças pela Fundação Dom Cabral, com foco na aplicação de inteligência artificial em processos financeiros, atua há mais de 15 anos no mercado de fusões e aquisições, liderando iniciativas que unem tecnologia e inteligência financeira para transformar a forma como negócios são avaliados e conduzidos.
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