Estatística contra desastres naturais
Modelagem de suscetibilidade a escorregamentos é tema de mestrado de aluna da USP em parceria com o IPT
Episódios de escorregamentos rasos são frequentes em ambientes montanhosos como a Serra do Mar, localizada nas regiões Sul e Sudeste. A ocorrência deste tipo de movimento de massa se dá por um conjunto de condições morfológicas, geológicas e climáticas, mas quais deles são mais significativos a esses eventos quase sempre associados a desastres naturais? Para responder à pergunta, a geógrafa Helen Cristina Dias fez um estudo sobre modelagem de suscetibilidade a escorregamentos com base em análises estatísticas para a sua dissertação de mestrado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).
A metodologia utilizada considerou a avaliação da suscetibilidade a movimentos de massas de base estatística, empregada pela primeira vez em um estudo no Brasil e comum em países da Europa, como Portugal. A ferramenta é baseada na aplicação do método do Valor Informativo: esse tipo de análise é geralmente usado na identificação de um padrão de condições morfológicas ou geológicas para a ocorrência de escorregamentos. “É um método que auxilia na identificação de áreas com diferentes graus de suscetibilidade ao processo, sendo eficaz em ambientes com grandes variações nas classes. Isso permite uma maior compreensão dos fenômenos”, explica ela.
O objetivo do estudo era auxiliar a definir a suscetibilidade de municípios a eventos de grande magnitude. Como estudo de caso, Helen escolheu a cidade de Caraguatatuba, no litoral norte paulista. O município sofreu, no ano de 1967, um dos maiores desastres naturais do Brasil e foi alvo de um mapeamento das áreas atingidas, que é um dos pré-requisitos para aplicar a metodologia – cerca de 500 pessoas morreram por conta dos deslizamentos naquele ano, e foram relacionadas 640 cicatrizes em estudo do geólogo Vicente José Fúlfaro, feito em 1976.
A orientação da dissertação de mestrado ficou a cargo da professora Bianca Carvalho Vieira, da USP, e a coorientação foi feita pelo pesquisador Marcelo Fischer Gramani, da Seção de Investigações, Riscos e Desastres Naturais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), dentro do Programa Novos Talentos da instituição.
MORFOLOGIA E GEOLOGIA – Foram criados quatro cenários no estudo, com variações no número de parâmetros: o primeiro foi feito a partir dos seis fatores condicionantes (elevação, ângulo de encosta, curvatura, aspecto, litologia e densidade de lineamentos estruturais); o segundo levou em conta cinco (ângulo de encosta, curvatura, aspecto, litologia e densidade de lineamentos estruturais) e o terceiro também cinco (elevação, curvatura, aspecto, litologia e densidade de lineamentos estruturais). Para o quarto cenário, Helen considerou somente três deles: elevação, ângulo de encosta e litologia.
“O principal resultado apontou a litologia como o parâmetro mais influente à ocorrência dos escorregamentos, em uma área em que predominam os quartzitos. E, para criar um cenário de mapeamento, não foi preciso lançar mão de tantos parâmetros, porque a opção com apenas três deles – definidos por análise estatística como os mais relevantes – apresentou o melhor resultado”, afirma Helen.
“Existe a tendência de usar diversos condicionantes, mas muitos deles nem sempre estão bem cartografados e definidos. Esta conclusão do trabalho foi importante porque, para o tipo de escorregamento estudado, somente três deles foram suficientes para o levantamento – e também foi interessante aplicar uma metodologia difundida em Portugal e testá-la em outra área geomorfológica”, completa Gramani.
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