Canetas emagrecedoras: entenda riscos, critérios de uso e efeito rebote
Sem acompanhamento médico, remédios populares para perda de peso podem causar complicações, falsificações preocupam e pacientes relatam engordar tudo de novo após interromper o uso
As canetas injetáveis, criadas originalmente para tratar o diabetes tipo 2, se tornaram populares entre pessoas que buscam emagrecer. Mas o uso sem orientação adequada tem gerado casos de internação, efeitos colaterais e até falhas no tratamento por falsificação. A médica clínica e nutróloga Fernanda Vasconcelos, do Instituto Qualitté, afirma que o erro mais comum é acreditar que o medicamento age sozinho.
“Recebo muitos relatos assim: ‘Emagreci com a caneta, parei o remédio e engordei tudo de novo’. Isso acontece porque a pessoa não mudou os hábitos durante o tratamento. O remédio não muda o comportamento, ele ajuda, mas não é solução mágica e nem resolve sozinho”, explica.
A seguir, a especialista esclarece as principais dúvidas sobre os riscos, os critérios de uso e as alternativas seguras para o tratamento do sobrepeso e da obesidade.
1) Quem pode usar canetas emagrecedoras?
Esses medicamentos são indicados para pessoas com obesidade (IMC a partir de 30) ou sobrepeso (IMC acima de 25) com comorbidades, como gordura no fígado, apneia do sono, pré diabetes, alcoolismo, hipertensão ou resistência à insulina. Em alguns casos, podem ser prescritos para pacientes com compulsão alimentar leve a moderada.
A prescrição deve ser baseada em histórico clínico, exames laboratoriais, composição corporal e comportamento alimentar. Não é uma fórmula mágica. É um tratamento médico, com critérios para usar, contraindicações e metas definidas para cada dose. E nem sempre a caneta é a única opção.
2) O uso está banalizado?
Sim. A venda por pessoas não habilitadas, em redes sociais ou até salões de beleza, preocupa. Há registro de pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI) após uso indevido ou consumo de produtos falsificados.
3) O que muda com a nova regra da Anvisa?
A partir de agora, medicamentos da classe dos análogos do GLP-1 só podem ser vendidos com receita médica em duas vias, uma delas fica retida na farmácia. A medida visa restringir o acesso sem prescrição e reforçar a importância do acompanhamento profissional.
4) Quais os riscos do uso sem orientação?
Os efeitos colaterais mais comuns incluem náuseas, constipação, vômitos e dor abdominal. Mas o uso sem acompanhamento pode aumentar o risco de:
- Pancreatite
- Desidratação e perda de massa magra
- Deficiências nutricionais
- Alterações gastrointestinais severas
- Distúrbios alimentares e frustração com o efeito rebote
Além disso, alguns fatores reduzem a eficácia do tratamento e dificulta a resposta ao emagrecimento ao longo do tempo:
- Adaptação e tolerância do organismo
- Falta de ajustes nas doses semanalmente
- Hábitos alimentares que não acompanharam o tratamento
- Interrupção ou uso irregular da medicação
Por isso, fazer esse tratamento sem acompanhamento médico é um tiro no pé. Sem reeducação alimentar e acompanhamento multidisciplinar, o resultado não se sustenta. O medicamento sozinho não constrói novos hábitos e dificulta a resposta na próxima tentativa de emagrecer.
5) Como identificar se a medicação é falsificada?
- Desconfie de preços muito abaixo do valor de mercado
- Verifique embalagem, questione sobre nota fiscal e registro da Anvisa
- Confirme se o produto foi armazenado corretamente (entre 2°C e 8°C)
- Não compre por redes sociais, grupos de mensagens ou vendedores sem autorização
Há casos em que o conteúdo da caneta foi adulterado ou substituído, causando reações graves como hipoglicemia severa.
6) Existem alternativas?
Sim. O tratamento do sobrepeso e da obesidade é multifatorial e deve ser individualizado. Além das medicações, o cuidado pode incluir:
- Acompanhamento nutricional com ajustes metabólicos sustentados
- Avaliação e modulação intestinal, quando indicado
- Apoio psicológico e mudanças comportamentais
- Treinamento físico orientado
- Outras opções terapêuticas ou, em casos específicos, cirurgia bariátrica
É possível emagrecer com segurança, sem frustração e com saúde. Mas isso exige método, equipe e rotina. Não existe solução mágica.
Sobre Dra. Fernanda Vasconcelos
É médica clínica e nutróloga, especialista em avaliação metabólica, nutrologia esportiva e longevidade. Possui título de especialista em Nutrologia pela AMIB/ABRAN e em Clínica Médica pelo MEC. É pós-graduada em Medicina do Esporte pela UNIP e tem especialização em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Atua no acompanhamento metabólico e nutricional para emagrecimento, performance esportiva, análise comportamental e saúde hormonal. Também trabalha com terapias nutricionais aplicadas a doenças crônicas, como diabetes, endometriose e distúrbios hormonais.
Além da atuação clínica, possui experiência hospitalar em terapia nutricional e cuidados intensivos, com passagem por instituições como Hospital Geral do Mandaqui (SP), Hospital do Servidor Público Estadual - IAMSP (SP), Hospital Santa Cruz (SP), Hospital Dom Antônio Alvarenga (SP), Hospital Central de Guaianases (SP) e Hospital Santa Mônica (SP), Hospital Geral de Parauapebas (Parauapebas-PA), Intensi Care (Parauapebas-PA) e Hospital Daniel Gonçalves (Canaã dos Carajás) e Hospital MedVida (Canaã dos Carajás).
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