Transgressões na mania e suas repercussões: entenda o impacto na vida do paciente bipolar
A psicóloga Elyasmim Sobral, do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria, detalha os tipos de transgressões, seus prejuízos e o caminho para a recuperação.
Episódios de mania em pacientes com Transtorno Bipolar podem levar a comportamentos impulsivos e transgressivos com consequências devastadoras para a vida pessoal, financeira e social. Para psicóloga Elyasmim Sobral, do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria, detalha os tipos de transgressões, seus prejuízos e o caminho para a recuperação.
De acordo com Elyasmim Sobral, os comportamentos mais comuns durante um episódio maníaco são marcados pelo excesso. "Os comportamentos transgressivos, que são mais comuns durante o episódio maníaco, eu diria que são aqueles comportamentos que chamam a atenção, principalmente pela via do excesso", explica a psicóloga. Ela aponta exemplos como "comportamentos de confronto, mais agressivo, irritadiço, aqueles que provocam e geram brigas, verbais até mesmo, brigas físicas, desrespeito à figura de autoridade, seja pessoas da própria família, seja um policial, onde o indivíduo, o sujeito se colocam em situações de confronto, sem qualquer tipo de filtro e sem sentimento de culpa também".
A psicóloga também cita "postagens em redes sociais, que expõem a conflitos íntimos ou familiares" e "gastos impulsivos ou de compulsão, por exemplo, endividamentos, aquisições de itens não feitos no estado de estabilidade" que geram arrependimento. Ela adiciona "comportamentos sociais também que chamam a atenção, falas em excesso, interrupções algo de uma desinibição e uma inadequação social de modo geral, em alguns casos também a gente vê comportamentos sexuais de risco".
Prejuízos Sociais, Financeiros e Legais: Uma Cadeia de Consequências
As repercussões desses comportamentos são, segundo a psicóloga, "extremamente negativas para o paciente". No âmbito social, os conflitos familiares, no trabalho e entre amigos são frequentes, levando a um risco significativo de isolamento social. "A gente observa aí em muitos momentos também o isolamento social subsequente após o episódio, já que muitas pessoas não entendem o funcionamento do transtorno bipolar, não entendem o adoecimento, então muitas vezes é confundido com a personalidade, com a comportamento arrogante, então muitas pessoas preferem se afastar do que entender aquele comportamento ali, então acaba agravando o risco de isolamento", afirma Sobral.
A "perda de credibilidade, de confiança" é outro desafio, pois "atitudes que são grandiosas, em excesso, irrealistas, é algo que compromete os vínculos sociais, pode gerar esse prejuízo da própria reportação, da própria imagem do que se tinha daquela pessoa, a imagem fica abalada".
Financeiramente, os gastos em excesso são um grave problema. "Acrescento também o prejuízo financeiro, que aparece com os gastos em excesso e o comportamento mais impossível. Então, compras de itens caros, de itens supérfluos, que muitas vezes geram arrependimento futuro, compras indesejadas, descontroladas, empréstimos bancários, vendas de bens de valor, chegando até ao ponto de, em alguns casos, entrar em falência ou uma dificuldade maior de retomar o equilíbrio financeiro", detalha a especialista. Além disso, a impulsividade e a desorganização podem comprometer a carreira profissional.
Em casos mais graves, as transgressões podem levar a prejuízos legais, tornando a internação psiquiátrica involuntária uma necessidade. "Em relação aos prejuízos legais, temos ao ponto de ser importante, não só importante, mas extremamente necessário, a internação psiquiátrica involuntária, nos episódios mais graves... porque é tamanho risco que se coloca o paciente, tanto para ele quanto para o outro, para os familiares e para a própria sociedade", ressalta Elyasmim Sobral.
Reações pós-mania e o caminho para a recuperação
A reação do paciente após o episódio maníaco varia, dependendo de seu repertório e do entendimento de seu adoecimento. "Sobre a reação pós o episódio de mania, vai depender muito do repertório desse paciente, da própria personalidade, do entendimento adquirido sobre o seu adoecimento em particular", explica a psicóloga. "A gente observa Ns reações, por exemplo, o sentimento de vergonha e culpa. Tem alguns casos que a gente chama de uma virada para um quadro de depressão, então vai para o extremo oposto. Outros já tem uma dificuldade do entendimento e nega, minimiza, então depende muito." Contudo, há também aqueles que buscam reconciliação e reparação, demonstrando um insight maior: "Já outros buscam por uma reconciliação, por uma reparação, pede desculpas, tem um insight maior, então essa reação vai depender muito do insight, da conscientização de cada sujeito."
Prevenção e o papel fundamental da família
Embora não haja "risco zero" de novas crises, a prevenção é possível e crucial. A psicóloga Elyasmim Sobral enfatiza a adesão ao tratamento como pilar central. "Não há um risco zero de novas crises de comportamento de risco durante uma fase de mania, mas temos como prevenir, buscar estratégias, pontos de atenção, principalmente analisando e observando o funcionamento de cada sujeito", afirma. Ela destaca que a adesão é "ampliada, então vai para além da medicação, mas o acompanhamento subjetivo com psicólogo, com psicanalista". O monitoramento pela família é vital, "observando principalmente um padrão", incluindo sinais como "diminuição do sono, a fala mais acelerada, ideias grandiosas, o aumento de energia, uma impulsividade financeira e sexual". A manutenção de rotinas e, em alguns casos, a supervisão de decisões importantes são estratégias essenciais:
"Alguns casos merecem a supervisão de decisões importantes da família, por exemplo, quando o paciente está instável, aparece algum sintoma ali que já merece atenção." A criação de "planos de prevenção de crise" com a família para buscar internação voluntária em caso de sinais de recaída é também uma estratégia.
O trabalho terapêutico subjetivo é vital para reconstruir a autoestima. Para a psicóloga, trata-se de uma "reconstrução mesmo de uma narrativa, sair do lugar de vítima, de doente, mas indo para o protagonismo". O profissional acompanha o paciente para que ele possa "se haver com os efeitos" dos comportamentos passados e traçar um novo caminho, buscando "resgatando os seus desejos" e "buscando vida, que busque movimento".
O papel da família e da rede de apoio é, segundo Elyasmim, "fundamental no manejo do transtorno bipolar". Eles são cruciais para identificar os sinais precoces de recaída. "A família pode incentivar, deve incentivar ao tratamento de uma forma ampliada, deve incentivar o uso da medicação, o acompanhamento psicológico", aconselha. É importante que a família evite confrontar o paciente em mania franca e busque ajuda médica prontamente, sem tentar conter a crise apenas em casa: "em momento de crise não confrontar o paciente, se tiver uma mania franca, por exemplo, é importante buscar ajuda médica nesse momento anterior a uma crise maior, não esperar, às vezes a família espera e vai tentando contornar e conter dentro de casa e o que a gente observa na prática é que muitas vezes a coisa vai piorando quando o familiar tenta conter em casa."
O respeito à autonomia do paciente e a construção de confiança são aspectos delicados, mas essenciais para a responsabilização e para que o paciente seja protagonista de sua vida e tratamento: "é preciso dar um voto de confiança e construir juntos com esse paciente a própria autonomia, a responsabilização, para que ele possa ser protagonista não só do seu tratamento, mas da sua própria vida."
Sobre a Holiste
A Holiste é uma clínica de excelência em saúde mental, criada há 20 anos pelo médico psiquiatra, Dr. Luiz Fernando Pedroso, sediada em Salvador, Bahia, com atendimento nacional. Na sede principal, localizada em Salvador, funcionam os serviços ambulatorial e de internamento psiquiátrico. A estrutura da clínica conta, ainda, com o Hospital Dia (destinado à ressocialização do paciente) e com a Residência Terapêutica (moradia assistida para pacientes crônicos), dispondo sempre de estrutura e tecnologia de ponta.
A instituição conta com mais de 200 profissionais, um corpo clínico composto por médicos psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionista, gastrônoma, dentre outros, com vasta experiência em tratamento de transtornos relativos à saúde mental.
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