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Retrospectiva 2022: o que a ciência apresentou para o controle do câncer

  • Quarta, 21 Dezembro 2022 18:57
  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Nice Castro
  • SEGS.com.br - Categoria: Saúde
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A oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues aponta os grandes marcos de 2022 para enfrentamento deste cenário desde a prevenção ao tratamento

Dados recentes do Instituto Nacional do Câncer (INCA) do Ministério da Saúde mostraram aumento do número absoluto dos casos de cânceres no Brasil e uma estimativa de mais de 704 mil casos ao ano a partir de 2023. A projeção é de que a doença passe a ser a principal causa de morte no país a partir de 2030.

A boa notícia é que foram significativos os avanços em pesquisas relacionadas à doença. Angélica Nogueira-Rodrigues, oncologista e pesquisadora com foco em tumores femininos, descreve os principais acontecimentos de 2022.

Rastreamento de câncer em exame de sangue

Um exame de sangue que permite a detecção precoce de vários tipos de câncer em indivíduos assintomáticos foi desenvolvido por pesquisadores britânicos e apresentou bons resultados para reconhecer o câncer de mama mesmo no estágio mais precoce da doença. O novo exame, chamado Trucheck, identificou o câncer de mama em 92% dos casos, eficácia superior à da mamografia. Pode ser um divisor de águas na triagem pois a detecção precoce do câncer de mama tem impacto direto em redução de mortalidade e morbidade pela doença.

Avanços no tratamento com drogas alvo direcionadas

Anticorpos monoclonais conjugados-droga (ADCs) são uma classe terapêutica extremamente promissora para diversos tumores (mama, ovário, pulmão, bexiga etc.). Trata-se de uma composição entre um anticorpo monoclonal, que identifica um alvo específico do tumor, e uma droga citotóxica (quimioterápico). Apesar de testemunharmos esta revolução em 2022, a idealização dos ADCs data do início de 1900, quando o Knobel Paul Ehrlich cunhou o termo “magic bullet”, um fármaco que pudesse ser específico para as células tumorais, poupando os tecidos saudáveis. Os ADCs permitem uma entrega mais precisa do quimioterápico, aumentando a eficácia e reduzindo efeitos adversos. Para o câncer de mama avançado, foram aprovados no Brasil em 2022 dois ADCs, trastuzumab deruxtecan e a sacituzumab govitecan.

No caso do câncer de ovário, oitavo mais comum em mulheres no país, a maioria das pacientes apresenta a doença em estágio avançado e geralmente passa por cirurgia seguida de quimioterapia à base de platina. Infelizmente, há altas taxas de recidiva e a paciente desenvolve resistência à platina, o que acaba determinando progressão e óbito pela doença. Atualmente, câncer de ovário é a principal causa de morte por câncer ginecológico.

A boa notícia é que em 2022 foram apresentados ganhos na sobrevida global das pacientes com o uso, na doença inicial, de terapia inibidora da enzima PARP, envolvida no reparo do DNA. O bloqueio é sinérgico a outro defeito de reparo de DNA (recombinação homóloga) apresentado por cerca de metade das pacientes com câncer de ovário, levando a morte celular e interrupção do crescimento tumoral. [AN1]

Nova classificação de câncer de mama amplia as fronteiras de tratamento

No final do século passado, foi identificado um subtipo de câncer de mama que corresponde a cerca de 20% do total, o HER2 superexpresso, associado a maior agressividade. O HER2 é um gene que codifica a proteína HER2, presente nas células mamárias e relacionada com a multiplicação e crescimento destas células. Devido à importância deste gene para a patogênese do câncer de mama, terapias foram desenvolvidas para bloquear a atividade da proteína HER2.

O câncer de mama é classificado em HER2 positivo quando a proteína é identificada por meio de metodologias, como a imuno-histoquímica (IHC), atingindo pontuação 3+. Ou ainda, por meio de técnicas onde se avalia o gene, como a hibridização in situ (ISH), com pontuações de 2+. Para esses tipos de tumores, há a recomendação de terapias anti-HER2. Tumores com pontuações mais baixas (IHC 0 e 1+, ou 2+ com ISH negativo) eram classificados clinicamente como HER2 negativos mas, esse cenário está mudando em decorrência de recentes descobertas. Pesquisas evidenciaram uma boa responsividade de ADCs (usando anticorpo anti-HER2) em tumores com baixa expressão de HER2, sendo introduzido o conceito de câncer de mama HER2 low.

Imunoterapia para câncer colorretal

Um estudo realizado por cientistas do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC), em Nova York, promoveu a remissão de câncer de reto em todos os 12 participantes avaliados. Foi um tratamento experimental de imunoterapia utilizando o imunoterápico dostarlimab em pacientes com câncer retal em estágio inicial. Ainda com curto seguimento, todos ficaram livres da doença, sem a necessidade de quimioterapia ou cirurgia, após seis meses de tratamento com a droga. Outro imunoterápico, o pembrolizumabe, também levou a benefícios robustos em contexto clínico similar.

Estes grandes benefícios, no entanto, ainda são limitados a uma parcela de 5% a 10% das pessoas com câncer de reto, pois foi critério de inclusão ter síndrome de Lynch, uma condição genética que altera o reparo do DNA, causa predisposição à doença mas, confere maior sensibilidade à imunoterapia. Os achados são impressionantes e abrem caminhos para novas abordagens contra a doença.

Sobre Dra. Angélica Nogueira-Rodrigues

Angélica Nogueira-Rodrigues é MD-PhD em oncologia clínica. Possui pós doutorado em oncologia pelo MGH/Harvard University, Doutorado em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer, Mestrado em Saúde da Mulher pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui Fellow em Pesquisa Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer. Pesquisadora e professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFMG. Desenvolve atividades didáticas na graduação, residência médica em Oncologia e pós graduação senso stricto. Idealizadora, membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). Diretora SBOC nacional gestão 19-20 e 21-23. Chair Gynecologic Oncology LACOG. Membro permanente da Câmara Técnica de Medicamento - CATEME-ANVISA. Idealizadora do Movimento Brasil sem Câncer do Colo do Útero. Diretora técnica da clínica DOM Oncologia. Membro câmara técnica Ministério da Saúde para estratégias de eliminação do câncer do colo do útero.

Sobre Dra. Angélica Nogueira-Rodrigues

Angélica Nogueira-Rodrigues é MD-PhD em oncologia clínica. Possui pós doutorado em oncologia pelo MGH/Harvard University, Doutorado em Oncologia pelo Instituto Nacional de Câncer, Mestrado em Saúde da Mulher pela Universidade Federal de Minas Gerais. Possui Fellow em Pesquisa Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer. Pesquisadora e professora adjunta da Faculdade de Medicina da UFMG. Desenvolve atividades didáticas na graduação, residência médica em Oncologia e pós graduação senso stricto. Idealizadora, membro fundadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). Diretora SBOC nacional gestão 19-20 e 21-23. Chair Gynecologic Oncology LACOG. Membro permanente da Câmara Técnica de Medicamento - CATEME-ANVISA. Idealizadora do Movimento Brasil sem Câncer do Colo do Útero. Diretora técnica da clínica DOM Oncologia. Membro câmara técnica Ministério da Saúde para estratégias de eliminação do câncer do colo do útero.


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