Parcerias entre startups e corporações: como vencer a burocracia e escalar a inovação
*Pedro Lima, CEO da Taxcel
A colaboração entre startups e grandes empresas parece, à primeira vista, um casamento perfeito: de um lado, a agilidade e a inovação das startups; do outro, a estrutura e os recursos das corporações. No entanto, na prática, essa relação enfrenta desafios que vão desde extrema burocracia e as diferenças culturais até a dificuldade de integrar processos e medir resultados.
Trago esse questionamento justamente porque vejo muitos negócios consolidados, com uma estratégia bem desenhada e um grau de lucidez inédito em relação ao efeito imediato de implementar inovação, falando sobre transformação digital e inovação. Mas, na prática, ainda tratam startups como se fossem organizações consolidadas. Há casos em que, para as negociações avançarem, até exigem balanços auditados, capital social milionário e práticas ESG estruturadas; requisitos que não fazem sentido para negócios ainda em fase de crescimento e experimentação.
É quase como procurar o primeiro emprego e ouvir que você precisa ter uma longa experiência prévia. Querer que uma startup opere com a mesma estrutura de uma multinacional ignora justamente aquilo que a torna inovadora: sua agilidade e capacidade de adaptação.
Os times de inovação têm uma mentalidade diferente. Para eles, errar não é um problema — faz parte do processo. Eles trabalham com testes e experimentos: criam uma ideia (ou hipótese), testam, e se não funcionar, próximo experimento! Esse ciclo constante de tentativa e aprendizado é o que impulsiona a inovação.
Mas quem inova dentro de grandes empresas, das gigantes do mercado, enfrenta um desafio extra: o apego ao status quo. Existe uma pressão por resultados imediatos, pelo retorno no curto prazo, e uma resistência a sair da zona de conforto — o "lugar quentinho" onde tudo parece sob controle. Isso muitas vezes entra em conflito com a essência da inovação, que exige risco, tempo e abertura ao novo.
Quando uma empresa é líder de mercado, com grande participação e influência, ela precisa se cuidar para não perder esse lugar de um dia pro outro. Mas isso não significa que ela deva exagerar na burocracia, principalmente quando se relaciona com startups. Por outro lado, também não dá pra abrir mão de coisas importantes, como políticas de segurança da informação e cuidados com a reputação da empresa. Afinal, muitas das regras de grandes corporações existem por um bom motivo: proteger o valor que essas empresas construíram ao longo do tempo.
Enquanto startups trazem flexibilidade e criatividade, as grandes empresas operam com processos robustos, áreas de compliance altamente reguladas e um modelo de contratação que busca evitar qualquer risco. É compreensível haver tantas exigências — são os dados, a segurança da informação e a reputação que estão em jogo. Mas, em algum momento, é preciso encontrar um equilíbrio entre controle e oportunidade para ambas as partes.
Um bom exemplo recente dessa dinâmica foi a aquisição da startup de cibersegurança Wiz pela Alphabet, dona do Google, por impressionantes US$ 32 bilhões. A compra, a maior da história da empresa, revela como os grandes players estão, sim, dispostos a integrar a inovação de startups. Mas, se a burocracia for excessiva, a ruptura com o tradicional simplesmente não acontece, e companhias acabam perdendo chances valiosas de se reinventar.
Se as corporações querem realmente evoluir, é preciso se conectar de verdade com o futuro, para ter um impacto real no negócio. Essas áreas precisam ter autonomia, orçamento e metas claras.
Também é fundamental aceitar que parcerias com startups envolvem uma dose de risco calculado, proporcional ao estágio dessas empresas, à perspectiva de que tentar encaixá-las nos mesmos moldes corporativos de sempre é um impasse.
Não se trata de apontar problemas, mas de entender o cenário. Muitas startups, têm clareza da realidade em que atuam, e do tipo de cliente que se beneficia com essas soluções, e focam na estruturação de processos e boas práticas de empresas maduras para potencializar as condições de competir, concretizar negócios e parcerias.
No fim das contas, o que vejo é que ambos modelos de negócio podem se beneficiar muito dessa relação, mas para que isso ocorra, é necessária certa evolução dos dois lados para se atingir um melhor equilíbrio. Grandes empresas ainda devem aprender a testar, errar e ajustar sem travar tudo em processos excessivamente burocráticos. E startups, por outro lado, também precisam amadurecer suas práticas de governança, especialmente quando lidam com dados sensíveis e mercados regulados.
A inovação acontece exatamente no limite do que é confortável — e, se há um lugar onde startups e grandes empresas realmente podem se encontrar, é lá.
*Pedro Lima, CEO da Taxcel, startup brasileira de transformação digital tributária.
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