A importância da entrevista investigativa como forma de obter confissões em casos de fraude e assédio
* Renato Santos
Você sabe quantas pessoas confessam atos de fraude e assédio durante uma entrevista investigativa? E quem tem maior resistência a assumir suas ações antiéticas? Essas e outras questões foram respondidas em uma pesquisa realizada pelo IPRC Brasil (Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental) em parceria com a S2 Consultoria, empresa especializada em prevenir e tratar atos de fraude e assédio nas organizações.
A pesquisa, apresentada recentemente no congresso Behavioral Science Lab Seminars - FEA/USP, indica que a metodologia Entrevista Investigativa Moderna possui um alto grau de eficácia e acuracidade, considerando que obtém 84% de confissões formais por parte de profissionais que adotaram risco comportamental e praticaram fraudes ou assédios em suas organizações.
Foram analisadas as respostas de 1.125 funcionários de 93 empresas privadas situadas no Brasil, sendo 345 deles comprovadamente envolvidos em atos de fraude ou assédio.
É preciso ressaltar a importância de considerar a Entrevista Investigativa Moderna como um instrumento eficaz e necessário no processo investigativo interno nas empresas. A base dessa ferramenta é a empatia, ou seja, acreditar que o entrevistador poderia cometer o mesmo ato de que o entrevistado cometeu se estivesse no mesmo contexto de vida e com as mesmas necessidades.
Apenas desse modo é possível entender as motivações que levaram o indivíduo a cometer o ato antiético. Dessa forma, é possível acessar a sua humanidade e, com isso, as chances de se obter a verdade e a confissão serão muito maiores.
A seguir, alguns indicadores analisados:
Tipos
Tipologia Risco Comportamental
É possível notar que há equivalência na eficácia da ferramenta quando os temas versam tanto para Fraude (84%) como Assédio (81%). Desafiando o paradigma de que os envolvidos em atos de Assédio dificilmente confessam seus atos por ser algo mais subjetivo do que a Fraude.
Tipologia da Fraude
Já quando os temas versam sobre Fraude é possível notar que quanto maior o grau de sofisticação exigida, maior a possibilidade de confissão (Demonstrações fraudulentas - 90%, Corrupção - 86%, Apropriação indevida - 80%). Isso pode indicar que indícios e provas das fraudes praticadas podem facilitar a confissão do ato.
Tipologia do Assédio
No entanto, quando a tipologia subdivide os temas de Assédio, nota-se maior dificuldade para confissão por assediadores morais (71%) e atos de discriminação (67%). Já o assediador sexual tende a confessar mais (94%), talvez movido por um sentimento de culpa pelo seu ato, ou ainda, por nem ao menos perceber a gravidade de seu comportamento.
Magnitude
Montante envolvido
Percebe-se uma correlação direta entre o montante envolvido e o número de confissões. Sendo que quando maior o montante, maior é a dificuldade de se obter uma confissão, o que é compreensível considerando a preocupação do entrevistado quanto às possíveis consequências de seus atos.
Causas
Gênero
Esse foi o indicador com maior diferença significativa entre as variáveis. Sendo que o sexo feminino apresenta maior dificuldade para admitir a prática de ato antiético (62%) comparado com o masculino (95%).
Idade/ Faixa etária
Há uma progressão invertida com o aumento da idade e a eficácia das confissões. Isso demonstra que quanto maior o tempo de vida do profissional, menor a possibilidade de admitir seu comportamento antiético.
Nível hierárquico
Os dados indicam que não há diferença significativa e correlação entre confissões e hierarquia. (Estratégico - 88%, Tático - 79%, Operacional - 88%). Porém, ainda é possível notar que o profissional de nível tático possui uma singela resistência à confissão maior que os demais.
* Renato Santos é especialista em compliance, sócio da S2 Consultoria, empresa especializada em prevenir e tratar atos de fraude e assédio nas organizações, e diretor do IPRC Brasil (Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental)
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