Diversificação dos Investimentos é a Bola da Vez Para as Seguradoras
Estratégia já vinha sendo adotada pelos gestores de reservas de R$ 1,3 trilhão diante do ciclo de queda da taxa Selic, desde meados de 2019.
Paulo Leme, presidente do comitê global de alocação de riscos da XP Investimentos, disse durante sua palestra no megaevento Expert XP realizado na semana passada, de 14 a 18 de julho, que os retornos financeiros fáceis para investidores institucionais, como seguradoras, praticamente acabou com a crise do coronavírus. “O mundo fácil do CDI acabou e segundo o presidente do FED (banco central americano), as taxas de juros no mundo serão negativas por muitos anos”, afirmou. Segundo ele, será preciso assumir mais riscos em investimentos mais complexos para diversificar o mix da carteira de investimentos.
Tem quem concorde e discorde. As seguradoras, por exemplo, tem cerca de R$ 1,3 trilhão em investimentos, sendo quase a totalidade em fundos de investimentos. Cerca de 80% se referem a reservas técnicas, que contam com regras mais rígidas para investimentos. Já os 20% sao recursos livres, com mais flexibilidade para os gestores aplicarem no mercado financeiro. No entanto, com o atual ciclo de queda da Selic, que foi reduzida pela oitava vez seguida desde julho de 2019, a saída é a diversificação para fazer o dinheiro render. De lá para cá, a taxa caiu de 6,5% para os atuais 2,25% ao ano, menor nível da história. Com uma taxa tao baixa, a rentabilidade das aplicações de renda fixa fica comprometida. Ninguém se atreve a fazer previsão sobre até quando vai durar o ciclo de baixa da taxa Selic.
Munich Re no Brasil
Rodrigo Belloube, CEO da resseguradora Munich Re no Brasil, tem uma visão um pouco diferente de Paulo Leme. “Existem várias limitações a um movimento das seguradoras e resseguradores no sentido de investimentos mais ousados. Primeiro, porque é uma matéria bastante regulada. Segundo, porque o portfólio de investimentos é desenhado com o objetivo de responder adequadamente às obrigações presentes e futuras, em particular em relação ao timing dos fluxos de caixa (o que os financistas chamam de duration) e ao risco cambial. Em outras palavras, há limitações”, explicou ao blog Sonho Seguro.
Segundo Belloube, a reação predominante, já sendo notada mundo afora, é a readequação dos preços, compensando a perda do ganho financeiro com maior resultado técnico. Exemplos bastante visíveis dessa tendência crescente são os mercados de subscription na Flórida e de D&O em Londres, com aumentos de dois dígitos. Há também uma maior seletividade por parte das seguradoras por resseguradores com melhor balanço, reequilibrando a curva de oferta e demanda. “O Brasil tem algumas idiossincrasias adicionais que fortalecem esse movimento”, afirma.
Como fator compensatório, algumas carteiras vêm apresentando uma sinistralidade menor no curto prazo, caso específico da de auto. “Em que medida as métricas de desempenho se manterão no futuro é uma questão ainda em aberto, a depender de mudanças comportamentais no novo normal e também decorrentes de tendências que se aceleraram, caso da economia compartilhada”, diz o CEO da resseguradora alemã.
MAG Seguros
Raphael Barreto, CFO da MAG Seguros, concorda com a afirmação de Paulo Leme. Ele argumenta que historicamente os juros brasileiros têm se mantido em um patamar muito alto. Se pegarmos a série histórica a partir de 1994, ano do Plano Real, os juros durante a maior parte do tempo se mantiveram em dois dígitos, o que ocorre não ocorre mais. “Com a taxa SELIC próxima de 2%, provavelmente observaremos juros reais negativos em alguns momentos”, diz.
Segundo os seguradores, juros de curto prazo (CDI) tão baixos certamente estarão abaixo das metas de remuneração dos passivos das seguradoras, o que necessariamente gerará necessidade de maior diversificação de investimentos, incluindo ativos de maior risco em busca de maiores retornos. “As seguradoras deverão alocar boa parte de seus recursos em títulos de longo prazo onde os juros são mais altos do que o CDI, ações e outros ativos que tenham risco de mercado, o que não ocorre com ativos atrelados ao CDI. O mercado de títulos privados, onde há prêmio pelo risco de crédito, também passa a ser uma opção por rentabilidades maiores”, aposta o executivo da MAG Seguros. “Atingir as rentabilidades necessárias à remuneração das metas dos passivos não será mais uma tarefa fácil e sem riscos como observamos historicamente”.
Porto Seguro
Fernando Camillo, superintendente de investimentos da Porto Seguro, vai na mesma direção de Barreto. “Juntamente com o novo normal provavelmente teremos taxas de juros mais baixas, mas não como está hoje. “Acreditamos que é conjuntural”, diz ele, sem arriscar qualquer previsão para os próximos meses diante de um cenário pouco permanente. “Acreditamos que é conjuntural e a a seguradora vem não só diversificando os investimentos, como temos aproveitado muitas oportunidades que tem surgido”, contou.
Uma das janelas positivas, segundo Camillo, são os papeis atrelados ao crédito. “Neste cenário atual sai o setor público e entra o privado, Tem empresas com CDI mais 3%, o que nos possibilitou construir uma carteira de crédito privado nos meses de abril e maio, quando a bolsa recuou”, exemplificou. “Sao empresas com projeção de lucro menor em razão da quarentena, mas com fluxo de caixa para passar por este momento”.
Outra estratégia, segundo Camillo, é alongar a carteira. “Temos o CDI baixo, mas quando olhamos as taxas e temos títulos com 4,5% ao ano mais inflação, o que para nós é importante por termos obrigações como despesas na carteira de seguro automóvel atreladas a inflação, como reposição de pecas, por exemplo”, citou . Outro caminho observado pela Porto Seguro é o de internacionalizar dos recursos. “Podemos ter empresas em dólar mais 4”, disse ele, afirmando que esta diversificação da carteira de investimentos das seguradoras veio para ficar.
HDI Seguros
Vagner Guzella, CEO da HDI Seguros, afirma que de fato, considerando os patamares atuais de taxa de juros e projeções futuras, as seguradoras precisarão se preocupar com o nível de risco dos dois books distintos da empresa: o de reservas técnicas, regulado pela Susep e com volume de risco limitado pela lei Asset Liability Management (ALM), fundamental para a gestão de riscos de descasamentos da cada seguradora, e o book de reserva livre, composta também pelos recursos do acionista, que será pautado pelo apetite a risco de cada grupo.
Segundo Guzella, a HDI Seguros, a estratégia ALM tem como foco a carteira de reservas técnicas, neste caso limitado pela duration dos produtos de automóveis que compõem a maior parte da carteira. “Para as reservas livres aumentamos o risco não apenas visando maiores retorno como também tentando acompanhar a evolução tecnológica da indústria por meio do nosso fundo de Private Equity, com alocações como a empresa ZOOX Smart Data, Accountfy e SpinetBank, sendo as duas últimas com foco em produtos de SME”, cita.
O executivo acredita que a queda da taxa de juros e a competição no setor devem acelerar os investimentos em busca de maior eficiência operacional e administrativa, bem como trazer mais liberdade de alocação dos recursos. “Estes fatores combinados irão acelerar a disrupção da indústria de seguros nos próximos anos, propiciando serviços com maior valor agregado aos clientes”, comenta.
O desafio das seguradoras, que já tem o risco inerente ao negócio, balancear rentabilidade, liquidez e segurança é de vital importância para equilibrar os resultados operacional e financeiro e entregar bom preço ao consumidor e lucro para o acionista. É certo que as seguradoras, que tem o risco como premissa no negócio, é preciso alocar uma porcentagem na renda fixa em nome da segurança. Mas é inegável que a rentabilidade de alguns títulos de renda fixa foi fortemente afetada. Segundo os especialistas, quem deseja manter os rendimentos que tinha antes dos cortes consecutivos da Selic, o jeito é aumentar o percentual de risco da sua carteira, alocando uma parte maior da carteira em renda variável.
Os gestores das seguradoras estão sintonizados com o que foi dito por experts convidados pela XP Investimento para o mega evento realizado semana passada, de 14 a 18 de julho. Segundo personalidades presentes no evento da XP Investimentos na semana passada, a diversificação é o caminho para todos. Uma das opções no radar dos gestores das seguradoras são os fundos de investimento em participações (FIP) especializados em infraestrutura, com maior preferencia por áreas como saneamento, concessões de rodovias, transporte e logística. No entanto, um dos desafios a vencer em termos de infraetrtuura, é resgatar a confiança dos investidores no Brasil.
O britânico Tony Blair, primeiro-ministro do Reino Unido entre 1997 e 2007, citou em evento da XP que o Brasil, enfrenta como principais desafios a corrupção, a falta de regras previsíveis para os investidores e a dificuldade em controlar as contas públicas. A volatilidade para arriscar nos investimentos vem em boa parte do conflito entre EUA e China, que pode evoluir para outros tipos de embates.
“Há uma guerra comercial, uma guerra tecnológica, uma guerra geopolítica e pode haver uma guerra de capital”, considerou. Esse cenário “tem implicações em todas as dimensões e certamente nos mercados e economias”, afirmou o fundador do “hedge fund” Bridgewater, Ray Dalio, convidado especial na abertura do evento Expert XP. “Qual o cálice sagrado de fazer dinheiro? É ter 10 ou 15 ativos de qualidade sem correlação”, recomendou Dalio. Para o especialista, a diversificação tem de ser feita em classes de ativos, localização geográfica e moedas variadas.
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