SEGS Portal Nacional

Agro

O uso de antibióticos em aves de produção – que caminho seguir?

  • Quarta, 20 Mai 2020 09:56
  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Ana Caroline Carvalho
  • SEGS.com.br - Categoria: Agro
  • Imprimir

Por Eduardo Muniz*

Três acontecimentos da história da medicina mudaram para sempre o controle das doenças e – por que não dizer? – o modo de vida da humanidade: a descoberta dos antibióticos, das vacinas e o desenvolvimento das práticas de higiene.

Esses são os pilares básicos até hoje da medicina humana e também da veterinária. Portanto não é exagero falar que a avicultura moderna evoluiu e se beneficiou muito do uso de antibióticos também chamados antimicrobianos, já que são uma ferramenta extremamente eficaz no combate aos agentes patogênicos microbianos das aves.

No entanto, há alguns anos, o uso dos antibióticos em medicina veterinária, especialmente em animais de produção, tem sido questionado pelo meio científico e pela opinião pública. As discussões giram em torno do desenvolvimento de resistência bacteriana e do risco para os seres humanos do uso dessa ferramenta na agropecuária. Além de não ser simples, essa não é uma questão sobre a qual parece haver consenso – de um lado, há os que defendem o banimento total do uso de antibióticos e, do outro, grupos que defendem o uso da tecnologia baseado em regras de boas práticas veterinárias para mitigar riscos de resistência bacteriana.

O que catalisa esse embate é o fato de que estudos científicos têm apontado um aumento considerável na proporção de microrganismos resistentes a um ou mais antibióticos. Nos últimos anos, o problema vem se agravando com mais rapidez, em comparação ao ocorrido em décadas anteriores.

Vira e mexe, o tema é destaque e, algumas vezes, de forma bastante alarmante para a população, fortalecendo um movimento de “demonização dos antibióticos”.

Do ponto de vista lógico e científico, não é surpresa que haja aumento à resistência frente aos agentes antibióticos, já que se trata da manifestação da Teoria da Seleção Natural de Charles Darwin, segundo a qual, no caso, os microrganismos buscam formas de sobreviver e de se adaptar aos medicamentos. E isso se intensifica em função da característica industrial e massiva em que são criados os animais nos atuais sistemas de produção.

Os europeus sempre foram líderes desse movimento e, há décadas, proibiram o uso de antibióticos melhoradores de desempenho na avicultura. Há, inclusive, uma expansão dessa corrente de restrição do medicamento, tanto por determinação legal quanto por livre iniciativa de empresas produtoras de alimentos em outras partes do mundo.

Nos Estados Unidos, há uma grande adesão das empresas de aves a essa tendência – é o que se chama NAE – No Antibiotic Ever – em que não se utiliza nenhuma substância antibiótica na produção de aves. Esse sistema opera uma mudança tão radical, que até mesmo os ionóforos, utilizados para controle da coccidiose, são restritos.

Essa transformação recente, que hoje abrange pouco mais 50% de toda a produção dos EUA (ver gráfico abaixo), seria impensável décadas atrás e é um exemplo prático de como a opinião pública tem motivado as indústrias de aves a buscarem formas alternativas para produzirem alimentos. Vale lembrar que esse modelo não é unanimidade na avicultura norte-americana e que existem empresas que continuam utilizando medicações aprovadas pelo FDA (Food And Drug Administration), inclusive vários antimicrobianos, em outras modalidades de produção.

Porcentagem de frangos de corte por tipo de programa, EUA, 2015-2019

Fonte: Rennier Associates Inc

Aqui no Brasil, parte das empresas tem tomado a iniciativa de adotar um sistema de produção com restrições ao uso de antibióticos. Além disso, a própria legislação brasileira tem determinado a proibição de alguns princípios ativos tradicionais e bastante conhecidos, por exemplo, tilosina, tiamulina e lincomicina, como aditivos melhoradores de desempenho.

Frente às alternativas, qual é o melhor caminho a seguir? Em um planeta onde se estima ter 22 bilhões de aves de produção (aproximadamente, três aves para cada ser humano), o que se deve pensar, no mínimo, é na responsabilidade de usarmos a tecnologia da forma mais racional e prudente possível. Seguramente, o desenvolvimento das vacinas para as doenças bacterianas, bem como o fortalecimento das medidas de higiene são pontos críticos para a construção de estratégias cientificamente embasadas, no intuito de diminuir a necessidade dos bons e velhos antibióticos.

*Médico-veterinário e Gerente Técnico de Aves da Zoetis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – World Health Organization Website –

http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2014/amr-report/en/

2 - The Genome Sequence of Avian Pathogenic Escherichia coli Strain O1:K1:H7 Shares Strong Similarities with Human Extraintestinal Pathogenic E. coli

J. Bacteriol. 2007, 189(8):3228. DOI: 10.1128/JB.01726-06.

Timothy J. Johnson, Subhashinie Kariyawasam, Yvonne Doetkott, Jerod A. Skyberg, Aaron M. Lynne, James R. Wannemuehler, Paul Mangiamele, Sara J. Johnson, Curt

Johnson and Lisa K. Nolan

3 - Avian-Pathogenic Escherichia coli Strains Are Similar to Neonatal Meningitis E. coli Strains and Are Able To Cause Meningitis in the Rat Model of Human Disease

Infect. Immun. 2010, 78(8):3412. DOI: 10.1128/IAI.00347-10.

Kelly A. Tivendale, Catherine M. Logue, Subhashinie Kariyawasam, Dianna Jordan, Ashraf Hussein, Ganwu Li, Yvonne Wannemuehler and Lisa K. Nolan

4 - Extraintestinal pathogenic Escherichia coli O1:K1:H7/NM from human and avian origin: detection of clonal groups B2 ST95 and D ST59 with different host distribution

BMC Microbiology 2009, 9:132 DOI:10.1186/1471-2180-9-132

Azucena Mora, Cecilia López, Ghizlane Dabhi, Miguel Blanco, Jesús E Blanco, María Pilar Alonso, Alexandra Herrera, Rosalía Mamani, Stéphane Bonacorsi, Maryvonne Moulin-Schouleur4 and Jorge Blanco1

5 - Comparison of Extraintestinal Pathogenic Escherichia coli Strains from Human and Avian Sources Reveals a Mixed Subset Representing Potential Zoonotic Pathogens

APPLIED AND ENVIRONMENTAL MICROBIOLOGY, Nov. 2008, p. 7043–7050

Timothy J. Johnson, Yvonne Wannemuehler, Sara J. Johnson, Adam L. Stell, Curt Doetkott, James R. Johnson, Kwang S. Kim, Lodewijk Spanjaard, and Lisa K. Nolan

6 - Extraintestinal Pathogenic Escherichia coli Strains of Avian and Human Origin: Link between Phylogenetic Relationships and Common Virulence Patterns_

JOURNAL OF CLINICAL MICROBIOLOGY, Oct. 2007, p. 3366–3376

Maryvonne Moulin-Schouleur, Maryline Re´pe´rant, Sylvie Laurent, Annie Bre´e, Sandrine Mignon-Grasteau, Pierre Germon, Denis Rasschaert, and Catherine Schouler

7 - Acquisition of Avian Pathogenic Escherichia coli Plasmids by a Commensal E. coli Isolate Enhances Its Abilities To Kill Chicken Embryos, Grow in Human Urine, and Colonize the Murine Kidney

INFECTION AND IMMUNITY, Nov. 2006, p. 6287–6292

Jerod A. Skyberg, Timothy J. Johnson,1 James R. Johnson, Connie Clabots, Catherine M. Logue, and Lisa K. Nolan

8 - Antimicrobial Resistance-Conferring Plasmids with Similarity to Virulence Plasmids from Avian Pathogenic Escherichia coli Strains in Salmonella enterica Serovar Kentucky Isolates from Poultry

APPLIED AND ENVIRONMENTAL MICROBIOLOGY, Sept. 2009, p. 5963–5971

W. Florian Fricke, Patrick F. McDermott, Mark K. Mammel, Shaohua Zhao, Timothy J. Johnson, David A. Rasko, Paula J. Fedorka-Cray, Adriana Pedroso, Jean M. Whichard,

J. Eugene LeClerc, David G. White, Thomas A. Cebula, and Jacques Ravel

9 - Imported chicken meat as a potential source of quinolone-resistant Escherichia coli producing extended-spectrum b-lactamasesin the UK

Journal of Antimicrobial Chemotherapy (2008) 61, 504–508

R. E. Warren, V. M. Ensor, P. O’Neill, V. Butler, J. Taylor, K. Nye, M. Harvey, D. M. Livermore, N. Woodford and P. M. Hawkey

10 - Farmacologia Aplicada à Avicultura – Boas Práticas no Manejo de Medicamentos. João Palermo-Neto, Helenice de Souza Spinoza, Silvana Lima Górniak – São Paulo – SP, 2005.


Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
 

<::::::::::::::::::::>

 

+AGRO ::

Dez 23, 2025 Agro

Tecnologia e fertilização são os diferenciais para a…

Dez 22, 2025 Agro

Nutrição balanceada garante qualidade óssea e…

Dez 19, 2025 Agro

Agro brasileiro ultrapassa R$ 1 trilhão em demanda por…

Dez 18, 2025 Agro

Ambiente inadequado e superlotado eleva risco de…

Dez 17, 2025 Agro

Manejo de verminoses em equinos: por que protocolos por…

Dez 16, 2025 Agro

Vermifugação no desmame garante a saúde e o bom…

Dez 15, 2025 Agro

Pulgão-do-algodoeiro ameaça produtividade e exige…

Dez 12, 2025 Agro

Safra de soja em Mato Grosso entra em alerta com custo…

Dez 11, 2025 Agro

Lavouras necessitam de proteção biológica do início ao…

Dez 10, 2025 Agro

Pecuária de baixo carbono ganha força com avanços no…

Dez 09, 2025 Agro

Plantio desacelerado e solo seco criam momento de…

Dez 08, 2025 Agro

Safra 2026 um teste de resiliência para o agro…

Dez 05, 2025 Agro

Avanço dos nematoides exige atenção redobrada na gestão…

Dez 04, 2025 Agro

Infestação de cascudinho aumenta estresse e causa…

Dez 03, 2025 Agro

2.209 animais foram avaliados na última etapa do…

Dez 02, 2025 Agro

Da terra para a terra: Agropalma comprova eficiência…

Mais AGRO>>

Copyright ©2025 SEGS Portal Nacional de Seguros, Saúde, Info, Ti, Educação


main version