Impermeabilizantes sem cimento: da inovação alemã à solução sustentável no Brasil
*Camilo Alvarado e Lucas Seraphim
A construção civil está passando por uma transformação significativa, impulsionada pela necessidade de soluções mais sustentáveis e pela redução da pegada de carbono. O setor da construção é responsável por aproximadamente 40% das emissões de gases de efeito estufa. Na busca de inovações para vencer esses desafios, um estudo desenvolvido na Alemanha e adaptado para a realidade brasileira propõe uma revolução nos impermeabilizantes cimentícios flexíveis: a substituição total do cimento por materiais pozolânicos e reciclados.
O cimento é um dos principais responsáveis pelas emissões de CO2 na construção civil, devido ao seu processo de fabricação intensivo em energia. Partimos do trabalho de pesquisadores da BASF na Alemanha que desenvolveram uma fórmula pioneira que elimina completamente o uso de cimento em argamassas impermeabilizantes, mantendo a performance técnica e reduzindo custos. A proposta combina materiais pozolânicos, como o Trass – uma pozolana natural de origem vulcânica – com óxido de cálcio, além de incorporar resíduos reciclados, como tijolo moído e pó de borracha proveniente de pneus usados.
Outro destaque da pesquisa foi a utilização de dispersões mass balance (MB), uma abordagem industrial inovadora que utiliza fontes renováveis no ciclo produtivo para reduzir ainda mais a pegada de carbono das formulações. O resultado foi um produto altamente sustentável, alinhado às demandas ambientais globais.
Adaptação ao contexto brasileiro
Foi preciso fazer algumas adaptações importantes para trazer essa inovação ao Brasil, considerando as características locais e a disponibilidade de materiais de acordo com a nossa realidade. No lugar do Trass, foi utilizado o Metacaulim, uma pozolana artificial amplamente disponível no país. Além disso, a mistura ganhou ingredientes adicionais que valorizam a economia circular: pó de telhas, subproduto da indústria cerâmica, foi incorporado como alternativa ao tijolo moído, enquanto pó de pneu reciclado foi mantido como componente essencial.
No entanto, devido à ausência de produção local de dispersões mass balance, a pesquisa utilizou uma dispersão acrílica padrão para os testes realizados no Brasil. Mesmo assim, os resultados mostraram que é possível alcançar um equilíbrio entre sustentabilidade, custo e desempenho técnico.
Os ensaios realizados indicaram que a substituição do cimento por materiais pozolânicos não comprometeu significativamente propriedades essenciais, como resistência mecânica, estanqueidade e absorção de água. As fórmulas desenvolvidas atenderam aos requisitos da normaNT NBR 15885, utilizada como parâmetro de comparação, embora a nova fórmula não possa ser certificada por não conter cimento.
Além disso, a nova rota de formulação apresentou vantagens adicionais, como maior resistência a ácidos, tornando-a ideal para aplicações em ambientes agressivos, como estações de tratamento de efluentes, piscinas e instalações industriais. Outro ponto positivo foi a substituição parcial da areia, um recurso cada vez mais escasso, pelos materiais reciclados. Essa abordagem não apenas reduz o impacto ambiental, mas também agrega valor técnico ao produto final, já que alguns desses resíduos possuem características pozolânicas.
A eliminação do cimento e a incorporação de materiais reciclados resultaram em uma redução significativa da pegada de carbono das argamassas impermeabilizantes. Além disso, o impacto no custo foi mínimo ou até mesmo inferior, dependendo da disponibilidade regional dos materiais utilizados.
Com desempenho técnico adequado, resistência química superior e custo competitivo, os impermeabilizantes sem cimento representam uma solução promissora para o setor. A pesquisa também destaca a importância de explorar novas possibilidades, como o uso de dispersões mass balance no Brasil, e de aprofundar estudos sobre o papel de materiais reciclados na melhoria das formulações.
O estudo demonstra que é possível aliar inovação, sustentabilidade e viabilidade econômica na construção civil. A adaptação da tecnologia alemã para o Brasil abre caminho para o desenvolvimento de materiais mais ecológicos, contribuindo para a preservação do meio ambiente e para a redução de resíduos. A proposta é uma oportunidade de repensar os processos e adotar práticas mais sustentáveis.
*Camilo Alvarado, do Marketing e Inovação e Lucas Seraphim, Consultor Técnico de Dispersões, Resinas e Aditivos da BASF para a América do Sul
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