Pressão internacional por quebra de patentes aumenta; especialista explica impactos da decisão
Uma cúpula realizada nesta terça-feira (18) em Paris, que busca aumentar o financiamento na África em meio à pandemia de Covid-19, defendeu a quebra de patentes de vacinas para permitir a fabricação das doses contra o novo coronavírus no continente.
A pressão externa pela quebra das patentes de vacinas contra a Covid-19 continua crescendo. Nesta terça-feira (18), uma cúpula realizada em Paris para discutir investimentos na África para o combate ao novo coronavírus defendeu a permissão de que fábricas produzm o imunizante no continente. Aqui no Brasil, a Câmara dos Deputados ainda não votou sobre a questão, mas o Senado já aprovou projeto de lei que trata da quebra das patentes.
O PL também depende de parecer do Poder Executivo para ser aplicado no Brasil. A posição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é semelhante à da União Europeia, que questiona a segurança jurídica por trás das pesquisas científicas a respeito do novo coronavírus. Para especialistas, a licença compulsória da produção de medicamentos e imunizantes não é o maior gargalo para o acesso à prevenção da doença e pode ter efeito contrário na busca por novas soluções científicas.
De acordo com a advogada Bruna Tavares, especialista em propriedade intelectual do escritório Urbano Vitalino Advogados, ainda que o projeto de lei nº 12/2021 tenha como objetivo reduzir custos para a produção de vacinas e medicamentos de forma temporária, é necessário avaliar o impacto jurídico e econômico causado pela quebra de patentes.
"Em caso de procedência, a nova legislação pode alterar a segurança jurídica e desincentivar a produção científica, servindo então o recurso compulsório proposto no Projeto de Lei como última alternativa somente quando esgotarem-se as vias negociais ordinárias com os detentores das patentes. Dessa forma, o PL deve encontrar resistência no congresso e possivelmente será vetado pelo presidente", avalia.
O projeto foi aprovado pelo Senado Federal no último dia 29, de autoria de Nelsinho Trad (PSD-MS). O texto prevê a concessão de licença compulsória aplicável aos centros de pesquisa detentores do know-how da produção de remédios e vacinas para tratar e prevenir a Covid-19. Sendo assim, estes centros deverão fornecer seu conhecimento para o poder público que fará daí em diante a regulamentação de quais serão as patentes afetadas pela imposição da licença compulsória, tudo isso mediante pagamento de royalties.
A advogada destaca que a hipótese já existe no próprio ordenamento jurídico brasileiro e em tratados internacionais, utilizada no passado com o medicamento Efravirenz para o combate da AIDS. No entanto, a lei determina que deve ser declarado “emergência nacional” ou “interesse público” pelo Poder Executivo Federal, para a aplicação da quebra de patentes. "Devido a declarada posição contrária à questão pelo governo brasileiro, isto pode vir a não acontecer. Apesar OMS já ter recomendado a licença compulsória e recentemente o presidente dos EUA ter apoiado a iniciativa, o Brasil e a união europeia já demonstraram desfavoráveis a esta possibilidade", destaca Tavares.
Em suma, o entendimento destes é de que a imposição da licença compulsória é uma violação de direitos desnecessária por parte dos governos, pois a dificuldade mundial enfrentada não é o acesso ao conhecimento da produção (que acontece via contrato de transferência de tecnologia, como no caso do Instituto Butantã e a Fiocruz), mas a manufatura, logística e aquisição de matéria prima que tornam impeditivo produzir as vacinas em escala para países em desenvolvimento.
Dessa forma, a comissão europeia entende que a melhor possibilidade para garantir o multilateralismo de interesses é a facilitação da transmissão de tecnologia internacional através de acordos.
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