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"O ano de 2020 ainda não aconteceu? A ironia de um ano que ficará marcado na história", por Andréa Ladislau, doutora em psicanálise

  • Segunda, 19 Outubro 2020 11:35
  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Rodrigo Arantes
  • SEGS.com.br - Categoria: Demais
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O final do ano vem se aproximando e é natural que iniciemos reflexões sobre nossos momentos, nossas conquistas e nossas perdas ao longo destes 365 dias. E com 2020 não será diferente. Mas existe um elemento neste ano, em especial, que imputa e promove uma verdadeira aposta de cancelamentos e desejos para que ele seja apagado da memória de milhares de pessoas: a pandemia. Sim, tem sido um ano indescritível. Para muitos, antes de seu fim ele já terminou - se findou praticamente logo após ter iniciado. Terminou quando o Novo Coronavírus (Covid-19) se instalou e assolou todo o mundo.

Após tantos meses, e com o ano chegando ao seu final, é natural sentirmos um misto de sensações: a ideia de finitude, emoções afloradas, a esperança pelo que o novo pode nos trazer de bom, com a entrada em uma nova fase da vida, além de angústias pinceladas de melancolia, saudosismos e depressão. A famosa depressão de fim de ano - que é decorrente de uma sensação de tristeza por revivermos na mente traumas passados ou um grande estresse ao longo dos últimos 365 dias. E com 2020 tudo isso não será diferente, mas especialistas de saúde mental acreditam que essa depressão poderá ser ainda mais devastadora. O estresse pós-traumático provocado pela pandemia, associado a perdas de milhares de pessoas, certamente irá proporcionar transtornos psíquicos jamais vistos em anos anteriores.

É nesse momento de reta final de um ano que, naturalmente, paramos para pensar e fazer levantamentos sobre as nossas conquistas e nossas perdas ao longo dos meses. Nos enchemos de alegria com as transformações vivenciadas, as conquistas alcançadas, mas também colecionamos expectativas frustradas. Além disso, aumentamos a nossa culpa interna para justificar projetos ou idealizações em que não obtivemos o resultado esperado. Por isso, para muitos, o fim do ano assume muito mais um aspecto depressivo e triste do que festivo.

A pandemia do Novo Coronavírus, colocou os seres humanos em quarentena, paralisando o planeta. Decretou o distanciamento social e o isolamento, onde cada um deveria ficar em suas casas, e fez com que o mundo vivesse algo inexplicável e sem precedentes. A saúde psicológica da maioria das pessoas foi devastada, pois está diretamente ligada aos seus direitos de posse e às suas liberdades - ao tirar uma, ou as duas, as pessoas se desintegram emocionalmente. E é o que temos visto, já que estatísticas mostram um aumento considerável dos casos de transtornos mentais em função dos últimos acontecimentos. Em poucos meses, o vírus matou, e ainda está matando, milhões de pessoas. Centenas de milhares estão infectadas. Cientistas trabalham incessantemente em busca de uma vacina para contê-lo. A verdade é que o ano de 2020 está sendo o ano do mundo às avessas. Um ano extremamente difícil de descrever, o qual seu fim tem sido muito desejado. Claro que algumas pessoas ainda tentam se manter esperançosas, cheias de planos para 2021. Mas para a grande maioria, a atmosfera de esperança e sonhos vem adquirindo um aspecto mais pessimista. Querem apenas o término de 2020. Querem deletar da memória todo um ano, mesmo que isso seja impossível de ser feito.

Mas é muito radical dizer que é um ano perdido, um ano que deve ser cancelado ou que não deveria ter existido. Tivemos, sim, atrasos e retrocessos. Muitos projetos ficaram estacionados. Mas 2020 também nos apresentou transformações e adaptações em todos os campos da vida. O que vamos fazer com as lições que aprendemos de forma tão inusitada? Apagamos e fingimos nunca ter ocorrido? Não podemos negar que foi um ano de grandes aprendizados. Aprendemos a incluir em nossos dias um novo modo de viver. Apesar das graves consequências sociais e emocionais da pandemia, estamos vivenciando gestos mais solidários. Pessoas que antes não olhavam para o lado, resolveram se mexer e ajudar, de alguma maneira, seu próximo. O caos mostrou um novo jeito de viver que, através das redes sociais e do online, nos aproximou mais das pessoas que amamos e que, por vezes estávamos distantes. Idosos estão mais inclusivos nas tecnologias e o contato foi facilitado por um mundo virtual que tomou novas proporções. Artistas se reinventaram para levar sua arte para a população, assim como médicos e profissionais de saúde mental também aderiram à telemedicina, proporcionando mais conforto e segurança aos seus pacientes. A colaboração com o próximo nunca foi tão intensificada. Exemplos empáticos se espalham pelo mundo. Ações louváveis - afinal, cuidar é um ato glorioso que tende a tornar o mundo muito melhor.

A mudança na relação de higiene e cuidado, para se evitar doenças e promover uma melhor qualidade de vida, também se destaca dentro das novas rotinas. Portanto, um dos pontos fortes foram as soluções encontradas para suportar o isolamento social e estimulando a criatividade, o que demonstra que podemos adaptar a nossa capacidade de enfrentamento conforme o desafio proposto. Percebemos, a duras penas, que o decreto das prioridades e o modo operandis da comunicação global sofreram alterações drásticas, porém, ao mesmo tempo, muito favoráveis. Estamos aprendendo a planejar horários e a descontruir a necessidade de aceleração com os quais os conceitos de autodisciplina e autocontrole estão sendo melhor canalizados. Parâmetros de uma nova realidade trazida pela pandemia.

Nossa capacidade em ser resiliente está sendo colocada à prova a todo momento. Estamos sendo desafiados a fortalecer nossa percepção de mundo para que assim possamos lidar melhor com o invisível e com nós mesmos, visto que tudo aquilo que foge ao nosso controle certamente poderá desencadear inseguranças, além de transtornos, neuroses psíquicas e desajustes em nosso organismo. Mas constatamos, da pior maneira, que não temos o controle sobre nada. Descobrimos um novo universo que exige do indivíduo muito mais sanidade e equilíbrio, sem fugir da realidade, conciliando mundo interno com mundo externo de forma saudável.

Em nossas reflexões do fim do ano de 2020, é muito importante levar esses pontos em consideração. Olhados por outro viés, muitos hábitos adquiridos em tempos de Covid-19 trouxeram a consciência do senso de urgência, o decreto das prioridades e a potencialização do senso de coletividade como estratégias de contribuição para a evolução humana. Tempos difíceis que contribuíram também para a aceitação e o reconhecimento dos nossos próprios limites, fortalecendo, assim, as relações interpessoais e trazendo ao consciente as aplicações do senso de pertencimento, da comunicação e da união - excelentes aliados na proteção de nossa sobrevivência física e mental.

Portanto, 2020 não pode ser um ano perdido. Não vamos cancelar 2020. Não podemos negar que 2020 mostrou-nos um mundo diferente. Estamos num momento histórico, desafiador, inimaginável e, portanto, inesquecível, que marcará para sempre a todos que por ele passaram. É fato que o ser humano se transformou - se não todos, a sua grande maioria. A percepção de ruptura tem promovido a valorização dos detalhes e a busca por escolhas mais conscientes. Podemos administrar melhor essa sensação de impotência, que faz parte da condição humana, e fortalecer nossas esperanças em relação ao amanhã. Que possamos juntar todos os aprendizados dos últimos meses e transformar em lições, entendendo que apesar de tudo, podemos gerenciar nossas emoções e promover o nosso bem-estar - levando para o próximo ano as mudanças de hábitos e os novos posicionamentos que têm nos feito ser mais fortes, mais empáticos, mais cooperativos e menos imediatistas. Que possamos, assim, valorizar mais os pequenos detalhes, os afetos e, dentro da evolução humana, acrescentar ingredientes apimentados de harmonia, leveza e, principalmente, responsabilidades. Assim sendo, resgataremos a esperança da chegada de um novo ano cheio de oportunidades e conquistas - com a chancela da plena certeza do nosso papel e de nossos valores.

Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista

* Doutora em Psicanálise

* Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de
Ciências Sociais

* Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde

* Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social

* Professora na Graduação em Psicanálise

* Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US
Ambassador In Niterói

* Membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento
Profissional do Instituto Miesperanza

* Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em
Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo.

* Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint
Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.


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