Como ser feliz no trabalho: três pilares essenciais, segundo especialista em saúde mental
Em um cenário de queda no engajamento profissional e busca por mais propósito, Dr. André Fusco propõe um novo modelo de organização do trabalho que fortalece a identidade profissional
Os brasileiros estão menos felizes e engajados no trabalho do que profissionais em outras partes do mundo. De acordo com pesquisa da Pluxee com 23 mil funcionários no país, o índice de felicidade no trabalho chegou a 7,3, enquanto a média global foi de 7,6. Quando se trata de engajamento, o Brasil aparece com 7,1, também abaixo da média mundial (7,9). O cenário é ainda mais crítico entre os jovens de 19 a 30 anos, que apresentam os níveis mais baixos de satisfação e conexão com a atividade profissional.
Esse descompasso tem origem em fatores como a dificuldade em equilibrar vida pessoal e carreira, a sensação de não serem ouvidos e a falta de inspiração no dia a dia corporativo.
Para o Dr. André Fusco, médico-psicanalista, especialista em Ergonomia Mental e consultor em saúde mental no trabalho, essa crise está diretamente ligada à dificuldade de desenvolver uma identidade profissional com sentido. “As pessoas não querem mais só cumprir tarefas. Elas querem se reconhecer como profissionais úteis, competentes e valorizados. Quando isso acontece, o trabalho passa a ser fonte de realização, e não de sofrimento”, afirma Fusco.
Esse desejo por mais propósito está sendo impulsionado principalmente pela Geração Z, que já representa 27% da força de trabalho global. Segundo levantamento global da Deloitte, 86% dos jovens da Geração Z afirmam que ter um senso de propósito é essencial para sua satisfação no trabalho, e quase metade rejeitaria uma oferta de emprego de uma empresa que não compartilha dos seus valores.
“A geração Z não é ‘mimimi’, é a expressão de uma nova consciência. Conectados e bem informados, esses jovens buscam propósito e não aceitam metas sem sentido. Em vez de julgá-los inadequados, deveríamos enxergar neles um chamado para transformar o trabalho em algo mais saudável e significativo”, destaca Dr. André Fusco.
O tripé da identidade profissional saudável
Segundo o especialista, a identidade profissional é bem constituída quando três elementos fundamentais são respeitados:
- Utilidade: é a percepção de que o trabalho gera valor real para alguém, seja cliente, colega ou sociedade;
- Estética do trabalho é o orgulho da forma como se realiza o trabalho, com experiência, engenhosidade e competência. Uma forma diferenciada de agregar valor no processo;
- Reconhecimento: é o retorno, dos pares, da liderança, dos mecanismos institucionais (como feedback, avaliação de performance etc.) ou do público, que valida essa utilidade e o seu diferencial.
“Todo trabalho tem desafios, metas e esforços. Isso gera sofrimento, sim. Mas o que transforma esse sofrimento em realização é o sentido. E o sentido nasce de uma identidade profissional que se reconhece nesses três pilares”, explica Fusco.
Ele ainda destaca que o reconhecimento vai além de elogios: é um processo contínuo de validação. “Sem reconhecimento, o que foi feito psiquicamente não existe. É por isso que o silêncio, a indiferença ou a crítica constante geram a chamada síndrome do impostor, em que a pessoa começa a duvidar da própria competência, mesmo entregando resultados”, alerta Dr. André Fusco.
Ergonomia Mental: sentido, saúde e produtividade
A partir da Psicodinâmica do Trabalho, Fusco criou a abordagem chamada Ergonomia Mental, que propõe ajustes na forma como o trabalho é estruturado, como por meio de regras, processos, políticas de avaliação, metas, liderança e produtos de RH, com foco em saúde mental e produtividade sustentável.
“Se a ergonomia osteomuscular ajusta o ambiente físico (cadeira, postura, peso, por exemplo) para evitar lesões, a Ergonomia Mental adapta a organização do trabalho, pois são suas regras, metas e práticas que impactam nossas emoções e nossa saúde psíquica. É uma visão estrutural da saúde mental no ambiente corporativo que traz, inclusive, resultados vantajosos para o negócio em termos de produtividade, engajamento, inovação e redução de rotatividade e afastamentos”, explica Dr. André Fusco.
De modo geral, a Ergonomia Mental busca criar ambientes:
- Saudáveis: redução dos riscos psicossociais;
- Realizadores: que promovam sentido e pertencimento;
- Sustentáveis: que equilibram performance e cuidado.
“O lucro precisa existir, mas ele deve ser consequência da geração de valor. Quando a lógica é invertida e o resultado financeiro passa a ser o único parâmetro, o trabalho perde o propósito e, com ele, o engajamento e a saúde dos profissionais”, afirma o médico-psicanalista. Para promover essa mudança, na sua prática nas empresas, Fusco recomenda que líderes e até mesmo os liderados participem de intervenções sobre as regras e peçam por um piloto em áreas específicas. “O projeto-piloto pode ajudar a mensurar os resultados positivos que mudanças em áreas ou assuntos específicos, como modelos de avaliação, pode proporcionar tanto para os colaboradores quanto para a empresa. Isso ajuda a embasar um investimento maior para a transformação da organização do trabalho como um todo”, sugere.
Com uma geração mais consciente e exigente no centro das transformações do mercado, Fusco acredita que o futuro das organizações passa necessariamente por resgatar o valor humano do trabalho: “Crescer, pensar, sentir e contribuir. Quando o trabalho nos permite isso, ele cumpre seu maior papel: nos tornar mais humanos”, finaliza.
Sobre o Dr. André Fusco
Dr. André Fusco é médico-psicanalista e consultor de saúde mental para empresas. Graduado pela USP e com mais de 20 anos de experiência, é embaixador pioneiro do conceito de Ergonomia Mental no Brasil. Por meio da Psicodinâmica do Trabalho, desenvolveu uma metodologia para diagnosticar e identificar as causas de problemas relacionados à saúde mental, além de propor soluções eficazes para desafios complexos nessa área.
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