Como uma startup está transformando a gestão das capitais brasileiras
Empreendedores mineiros podem recorrer a uma ferramenta online para escolher a localização mais adequada para instalar seus negócios em Belo Horizonte. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Belo Horizonte firmou parceria com a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) para que a plataforma de análise e geolocalização de dados urbanísticos e imobiliários Place desenvolvesse o Mapa Empreende BH. Disponibilizada deste o início de agosto, a solução pode ser acessada gratuitamente online, sem necessidade de download, no endereço pbh.gov.br/empreendedor. Nela, é possível identificar onde estão as empresas instaladas em todas as regiões da capital, suas atividades econômicas – a partir de seus CNAEs (Código Nacional de Atividade Econômica) – e cruzar essas informações com o zoneamento, para saber quais tipos de atividades comerciais são permitidas em cada uma de suas vias.
Essa é uma das soluções criadas pela Place, que, desde 2023, atua junto a prefeituras. Criada um ano antes como braço de tecnologia do grupo de desenvolvimento imobiliário OSPA, a plataforma chegou ao mercado como proptech que, a partir da geolocalização de terrenos, da legislação urbanística a eles aplicada e dados de mercado (como valor do metro quadrado em cada região), fornecia, em um clique, o cálculo do quanto era possível construir em cada terreno, simulações volumétricas de como seria o prédio em determinado local, custos de obras, Valor Geral de Vendas (VGV), dentre outros.
Inicialmente voltada a incorporadores, a solução chamou a atenção de prefeituras, que buscavam sistemas voltados à melhoria de sua gestão. A fim de aprimorar sua atuação para o atendimento a esse público, a startup ingressou no maior programa de aceleração de startups GovTech do país, o BrazilLAB. Como resultado, foi a vencedora da edição 2023.
Ainda naquele ano, a Place realizou, em projeto liderado Ernst & Young, um levantamento de dados que auxiliasse a Prefeitura de Porto Alegre a compreender, em meio à revisão de seu Plano Diretor, tendências em curso e a dinâmica da cidade.
O trabalho resultou na criação de um sistema de geolocalização de diversos grupos de dados, como lançamentos imobiliários por região, localização de escolas, hospitais, trajetos de linhas de ônibus, vias com maior número de acidentes, a diferenciação de bairros conforme a arrecadação de IPTU com comparativos por período, dentre outros que colaboram para a gestão urbana.
Mais que a geolocalização de dados, a especialidade da Place é reunir e organizar dados de diferentes fontes a fim de apresentá-los de forma simplificada. Foi a partir desse princípio que a plataforma desenvolveu o Chat Plano Diretor Florianópolis. Com o uso de inteligência artificial, a ferramenta responde a quaisquer dúvidas sobre a legislação urbanística da capital catarinense, desde as mais básicas às mais complexas e técnicas. Apesar do nome, a solução está longe de se restringir às disposições de uma única lei.
“No caso de Florianópolis, as normas estão contidas em 50 arquivos e mais de 20 decretos que alteram o Plano Diretor (Lei 739/2023) e o Código de Obras. Mesmo para arquitetos com anos de atuação em Florianópolis, essa dispersão impõe que muita pesquisa seja realizada antes que os projetos sejam iniciados e, mesmo assim, não é comum que alguma limitação seja ignorada”, diz Flávia Tissot, sócia-fundadora e diretora da Place. “Já com o Chat, tudo que a legislação versa sobre determinado tema é apresentado em segundos, com a indicação dos artigos das leis e decretos onde figuram, o que acaba por agilizar a posterior aprovação dos projetos”.
“Prefeituras de todo o país registram muitas demandas de munícipes com dúvidas sobre a legislação urbanística. Para respondê-las, servidores são deslocados de suas atividades principais e perdem tempo com algo que o Chat poderia atender. Por isso, a ferramenta foi treinada para responder não apenas a questões técnicas de profissionais da construção, mas também às mais básicas”.
A fim de facilitar sua contratação por gestões municipais, a plataforma firmou parceria com a ProdaBel – Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (MG) – que, como companhia pública, pode prestar serviços a outras prefeituras. “Com esse acordo, prefeituras podem, ao invés de contratar uma empresa para desenvolver sistemas próprios, contratar a ProdaBel para implantar o sistema, com a incorporação de suas leis e outras variáveis de interesse de forma muito mais ágil e econômica”, diz Flávia.
Enchentes no RS
Embora não figure entre os trabalhos realizados para prefeituras, a atuação voluntária da plataforma durante as enchentes no Rio Grande do Sul mostra o quanto a tecnologia pode ajudar as gestões municipais. A população enfrentava uma situação de calamidade: bairros inteiros ficaram submersos, moradores foram obrigados a abandonar suas casas às pressas, e a busca por abrigo tornou-se uma corrida contra o tempo. Para as autoridades locais, a resposta a esses desafios era limitada pela falta de informações em tempo real e pela dificuldade em organizar o fluxo de evacuação e resgate de forma segura e coordenada.
Diante desse cenário caótico, a plataforma decidiu paralisar suas operações comerciais para atuar diretamente no apoio às vítimas, colocando sua tecnologia a serviço das comunidades afetadas. A startup passou a fornecer, em mapas, a localização de abrigos e o número de vagas disponíveis. À medida que o nível do Guaíba subia, atingindo seu recorde de 5,3 metros, o risco de novas áreas serem inundadas tornava-se real. Para auxiliar na prevenção, a plataforma disponibilizou a "mancha de enchentes", um mapeamento do GESPLA (Grupo de Gestão e Planejamento de Recursos Hídricos da UFRGS), que projetava as regiões de potencial alagamento conforme o avanço das águas.
Além disso, a plataforma monitorou e atualizou constantemente o status das vias, indicando estradas bloqueadas, congestionadas ou intransitáveis, facilitando o trabalho das equipes de resgate e a evacuação de áreas de risco. A cada atualização, a plataforma permitia que as decisões de evacuação e deslocamento fossem mais rápidas e seguras.
“O uso da tecnologia dá maior agilidade às ações do poder público, além de aumentar sua eficiência. Embora o que fizemos nas enchentes não se relacione com as prefeituras, a rapidez com que as informações foram disponibilizadas mostra os ganhos que podem ser obtidos com a gestão de dados. Isso não se aplica apenas a eventos extremos, mas a tudo relacionado à gestão das cidades”, conclui Flávia.
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