O papel da escola no acolhimento de professores e na construção de uma educação humanizada
Por Miriam Sales*
A escola como conhecemos hoje é produto de anos de evolução da sociedade, de novas configurações econômicas e de trabalho, avanços e necessidades diferentes. O seu papel é constantemente questionado, sobretudo na pandemia, devido ao distanciamento social e ensino remoto, momento em que pais abruptamente tornaram-se “professores” e esses precisaram rever conteúdo e forma, acumulando funções e tendo que lidar com todas as tarefas da casa e trabalho em um único ambiente.
A gravidade é maior quando confrontamos os dados no contexto da pandemia, pois além da evidente desigualdade entre escolas privadas e públicas – que enfrentam problemas estruturais, como falta ou dificuldades no acesso à internet, equipamentos e até itens básicos de limpeza – há ainda casos extremos, em que inúmeras cidades brasileiras simplesmente ficaram sem nenhum tipo de aula. Situações assim acabaram afetando mais de 500 mil crianças, segundo dados do Inep.
E como se esses problemas não fossem suficientes, há também a questão do desenvolvimento das competências socioemocionais, que foi significativamente comprometido. Soma-se o fato de que o assunto é relativamente novo, já que faz parte da Base Nacional Comum Curricular, documento homologado ao fim de 2018 pelo Ministério da Educação. Aqui, o problema não é necessariamente relativo às desigualdades, pois afeta professores e crianças das redes públicas e privadas, de diferentes classes sociais. Embora o foco seja o desenvolvimento dessas habilidades nos alunos, também é importante olhar para o professor, dentro desse mesmo aspecto.
Assim como esperamos que nossas crianças desenvolvam empatia e que saibam ‘se colocar no lugar do outro’, é preciso que a escola demonstre aos professores que eles serão acolhidos, que há alguém zelando por sua saúde mental e que, dessa forma, suas inseguranças e dificuldades serão superadas, compreendidas e respeitadas.
O primeiro passo da escola, junto a coordenadores e gestores, deve ser acolher o professor, ouvi-lo e entender o que foi mais difícil, desde o fechamento das escolas, e quais são as principais dificuldades que ele enfrenta no momento, que podem ser desde barreiras com recursos tecnológicos, até a lida com perdas, possíveis traumas ou simplesmente as incertezas pertinentes ao retorno das aulas presenciais, remotas e híbridas. A partir dessa escuta é possível desenhar estratégias, que vão desde palestras e treinamentos até mesmo a ajuda de profissionais da saúde, a depender da gravidade de cada caso.
Embora sejam inúmeros os desafios que a pandemia e o retorno às aulas nos trouxeram, entendo como positiva a nova relação que vem se formando entre escola, professor, alunos e famílias. Os pais e responsáveis puderam ver de perto como se constrói o conhecimento, como é o trabalho do professor e principalmente a falta que ele e a escola fazem no cotidiano e na formação das crianças e adolescentes. Os professores conseguiram refletir com mais profundidade sobre a importância de planejar atividades que, intencionalmente, criem espaço para que crianças e responsáveis tenham momentos de qualidade juntos, consigam falar sobre suas emoções, sentimentos e como isso afeta sua vida familiar. E, se “é preciso uma aldeia para se educar uma criança”, é importante que a escola e todos os agentes dela estejam alinhados para construir o futuro de uma educação mais empática e humanizada.
*Miriam Sales é formada em pedagogia, com ênfase em treinamento e desenvolvimento, e atualmente é coordenadora pedagógica da Mind Lab, líder em pesquisa e desenvolvimento de soluções e tecnologias educacionais, atuando na formação de equipes de atendimento às redes pública e privada.
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