O desmatamento de commodities agrícolas é uma das principais causas do desmatamento no Cerrado brasileiro, que registrou 734.010 ha de desmatamento em 2020, um aumento de 13,2% desde 2019.

A CRR identificou uma amostra de fornecedores diretos e relações de compra com grupos produtores de soja no Cerrado para os cinco maiores comerciantes de soja do Brasil. Ao analisar as relações diretas e as operações de produção de soja perto dos silos dos comerciantes, a CRR estima os riscos de desmatamento que os comerciantes enfrentam.

A Bunge é o único grande comerciante de soja com o objetivo de eliminar o desmatamento legal e ilegal de sua cadeia de fornecimento. O objetivo estabelece que até 2025 Bunge não estará mais exposto ao desmatamento (legal ou ilegal) em toda a sua cadeia de fornecimento.

"O objetivo da Bunge de eliminar o desmatamento é a meta mais ambiciosa dos grandes comerciantes de soja até o momento. Entretanto, estes dados mostram que pode ter um caminho mais longo do que seus concorrentes para remover os produtores envolvidos no desmatamento de sua cadeia de fornecimento", disse Marco Tulio Garcia, analista da CRR.

A SLC Agrícola, que vende para Bunge e outras, foi o produtor de soja mais implicado na destruição do Cerrado, estando diretamente ligada ao desmatamento de 10.152 ha de florestas (quase 25% das terras que desmatou entre 2011-2017). A empresa ganhou destaque na imprensa em 2020 afirmando que desmataria "mais 5.000 hectares" e depois acabaria com o desmatamento antes de 2021, uma meta que parece não ter sido alcançada.

O relatório analisou o desmatamento atribuído aos principais produtores de soja e carne bovina no Cerrado e o nível de exposição que os comerciantes de soja e os varejistas brasileiros enfrentaram ao vender carne bovina. Uma revisão das políticas e metas entre esses atores mostra um comprometimento mais fraco e menor para eliminar o desmatamento do Cerrado de suas operações.

"O Cerrado abriga 40% da água doce do Brasil e contém 5% da biodiversidade global. É uma região rica em biodiversidade ameaçada pela agricultura que já limpou 50% do território do Cerrado", afirmou Matt Piotrowski, analista da CRR. "A ação dessas empresas é urgente para limpar suas cadeias de abastecimento, pois a legislação brasileira protege menos de 3% do Cerrado em comparação com 46% da Amazônia".

As empresas mais expostas ao desmatamento do Cerrado nos setores de carne bovina e varejo brasileiro são JBS e Casino Group com ligações para pelo menos 1.984 ha e 1.237 ha em 2020, respectivamente. O Casino Group está enfrentando uma ação judicial de ONGs ambientais e grupos indígenas brasileiros por sua participação na venda de carne bovina de terras ilegalmente desmatadas, em violação à lei francesa "devoir de vigilance", analisada pela CRR em um relatório anterior.

O relatório analisa a escalada do risco financeiro para os investidores diante do risco de acesso ao mercado, risco regulamentar, risco de financiamento e risco de reputação. Com dezenas de bilhões de dólares em exposição dos financiadores aos principais desmatadores do Cerrado, a regulamentação da União Europeia e as políticas florestais dos principais financiadores poderiam levar a mais desinvestimentos e/ou engajamento.

Notas para o Editor:

O estudo da CRR está disponível em http://chainreactionresearch.com/report/cerrado-deforestation-2020-soy-beef/

Sobre a Chain Reaction Research

A Chain Reaction Research realiza análises de risco de sustentabilidade gratuitas para analistas financeiros, analistas de crédito, banqueiros comerciais, investidores institucionais, empresas, e outros interessados. O nosso foco especial é demonstrar que o desmatamento é um risco financeiro material. Concentramo-nos em produtos relacionados com a desmatamento tropical, incluindo óleo de palma, soja, gado, café, cacau, pasta de madeira e papel, e outros produtos. Somos financiados pela Fundação David e Lucile Packard, pelo esquema da Iniciativa Internacional para o Clima e Florestas (NICFI) gerido pela Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento (Norad), e pela Fundação de Caridade Moore. As declarações e materiais de Investigação de Reação em Cadeia não refletem necessariamente os pontos de vista da Fundação Packard, da Fundação Moore ou da Norad.