Ser ou não ser na era da inteligência artificial: o dilema do futuro humano
*Flavia de Assis e Souza
Diante de um mundo complexo e em constante transformação, a inteligência artificial permeia os meandros individuais e coletivos de forma avassaladora e irresistível. As fronteiras do conhecimento humano foram rompidas, amplificando as possibilidades de acesso aos dados em tempo real, interpretação de informações, criação de cenários, avaliação de impactos e subsídios robustos para a tomada de decisão. Tudo isto sob uma dimensão de tempo e escala que superam a viabilidade humana isolada.
Esta faceta prodigiosa da evolução tecnológica carrega seus efeitos colaterais, que podem ser mitigados. O medo da substituição do homem pela máquina é o primeiro deles, representando uma emoção abarcada por muitos como instinto de defesa ao desconhecido. O antídoto é simples e já absorvido por grande parte da humanidade: ver a inteligência artificial como uma aliada. Ser curioso e aberto ao novo são comportamentos de adaptação no mundo em evolução.
Outros efeitos colaterais são mais desafiadores. Já preconizava o imperador romano e filósofo Marco Aurélio que "as coisas do mundo são uma conexão discreta de elementos dispostos de forma ordenada e harmoniosa." Este conceito é atemporal e pode ser transferido para a conexão do ser humano com a emblemática evolução da inteligência artificial.
Neste contexto, a inteligência artificial, recurso valioso para o ser humano, sem a sua ponderação, perde o sentido e não é sustentável no longo prazo. O ser humano, por outro lado, em um mundo marcado pelo excesso de estímulos e escassez de propósito, se distrai facilmente e se distancia do essencial, vivendo na linha tênue que separa o sucesso e a felicidade da ilusão. Porém, quando se empodera deste recurso com sabedoria e ética, fortalecendo as relações humanas, a potência da combinação do humano com o digital é alavancada.
Adicionalmente, o ser humano ainda tem muito a ensinar às máquinas. Os desafios do passado não são os mesmos do presente ou do futuro, como as questões climáticas e a saúde mental. A predição, uma das grandes habilidades da inteligência artificial, baseia-se em dados históricos para inferir sobre eventos futuros. Isto pode levar à reprodução de vieses e soluções obsoletas ou frágeis para resolver os problemas da humanidade. Assim, novas referências e padrões precisam ser gerados, através do ser humano.
O sucesso não é um caminho reto e nem uma parada definitiva. Requer reinventar-se, ajustar rotas e aprender a aprender. Ser humano na era digital é uma escolha diária.
*Flavia de Assis e Souza é engenheira e pós-graduada em Qualidade e Produtividade (USP), Marketing (ESPM) e Comércio Exterior (FGV), além de autora do livro “Quatorze: Gerações Conectadas”, que aborda o equilíbrio entre progresso e simplicidade
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